No AM, aglomeração em filas bancárias aumenta mesmo com decretos de isolamento

Ministério Público impetrou à Justiça Estadual que aprove lockdown para o Amazonas. Foto: Divulgação

Nícolas Marreco – Da Revista Cenarium

Enquanto o Amazonas possui os maiores índices de incidência e mortalidade da pandemia brasileira, as aglomerações em agências bancárias, lotéricas e casas de pagamento do Estado são piores de antes dos decretos de isolamento. “A fila ‘tava’ dobrando a esquina. Estava todo mundo juntinho mesmo. Tinha umas 20 pessoas na minha frente, ao menos”, relatou a estudante Suzana Taveira, de 15 anos. 

Ela mora no São José, zona leste da capital, um dos bairros mais afetados por Covid-19, com taxa de incidência de mais de 200 casos por 100 mil habitantes, segundo monitoramento da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS). “[O atendimento] ‘tava’ demorando, porque era só uma atendente e as pessoas entravam de um por um”, disse, ressaltando o aumento do risco de contaminação do lado de fora. 

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Embora o repasse do auxílio emergencial seja somente via Caixa Econômica ou Banco do Brasil, outros estabelecimentos também favorecem a baixa adesão ao isolamento. Além de Suzana, que citou a raridade de locais dentro dos bairros, incluindo supermercados e drogarias, respeitarem o distanciamento, a assistente administrativa Luany Torres, de 25 anos, também confirmou. 

“Todos os dias quando vou ao trabalho passo em frente às agências. É só você ir a qualquer uma de manhã que vai estar lotada. A Caixa, da [avenida] Silves tinha ao mínimo umas 50 pessoas. Sábado um funcionário de banco foi agredido. Nem tenho coragem de ir numa, devido essa situação do auxílio”, contou. Nas primeiras remessas de pagamento do auxílio, inclusive, foram vistos centenas aglomeradas às portas de agências. 

Lockdown 

Tefé (distante a quase 651 quilômetros de distância de Manaus) saiu na frente da capital, epicentro da pandemia no estado. O juiz plantonista da comarca, André Luiz Muquy, proferiu sentença favorável no pedido da Procuradoria-Geral do Município. Insituições bancárias no município agora são obrigadas a aumentar o número de funcionários e de expediente conforme a demanda no período da pandemia, além destes estarem munidos de todos os Equipamentos de Proteção de Individuais (EPIs).  

Higienização reforçada nos padrões da Agênia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), organização das filas de espera, com funcionários supervisionando o uso de máscaras e a distância de um metro e meio a dois de distância entre as pessoas também foram medidas inclusas na decisão. Uma multa de R$ 70 mil para dia de descumprimento foi estipulada. 

O procurador-geral de Tefé, Emer Gomes, explicou que o pedido foi feito pelo Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao Coronavírus, inclusos membros de direrentes poderes e organizações da sociedade civil, como Legislativo Municipal, Exército e Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas (OAB-AM).  

 “Com base nos dados e projeções da secretaria de saúde e do instituto Mamirauá, constatamos que mesmo com a suspensão de voos e barcos, ainda estava aumentando o número de contaminados e óbitos. Somos um município polo, com um hospital regional, em grande parte sem auxílio do estado. Não sendo mais possível enviar pacientes à Manaus devido o quadro quase colapsado na saúde, decidimos ajuizar primeiro à Caixa Econômica e outra contra os bancos Bradesco e Brasil”, disse. 

Políticas públicas em conjunto com municípios mais próximos, a fim de restringir ainda mais o isolamento, também irão ser tomadas, segundo ele, cogitando um lockdown. Em Benjamim Constant, também houve decisão da Justiça, requerida pelo Ministério Público, determinando que a única casa lotérica promova prevenção a aglomerações e rotinas de higiene. 

Governo do Estado 

O governo do Amazonas afirmou, sobre medidas restritivas que favoreçam o isolamento, que a Secretaria de Etado de Segurança Pública (SSP) está fiscalizando com base nas denúncias da central 190. Caso ocorra o achatamento da curva de contaminação até 13 de maio, o decreto que restringe os serviços no estado será encerrado. “A população precisa se conscientizar e seguir as regras de isolamento social. Quando precisar sair de casa, o cidadão deve usar máscara e respeitar o distanciamento mínimo de 1,5 metro entre pessoas”, diz trecho da nota. 

A Prefeitura de Manaus respondeu no mesmo sentido, de que pastas como o Procon e a vigilância sanitária da cidade fiscaliza filas em bancos e casas lotéricas. “Os fiscais da saúde atuam em ronda, em mais de 60 bairros”, completou a Secretaria Municipal de Comunicação.  

A Associação Amazonense dos Municípios articulou no fim de abril desafogar os repasses de recursos à população por meio de outros bancos, além dos públicos. “Estamos orientando os prefeitos para que promovam, conforme a realidade munícipe e condições, demarcações para estabelecer a distância entre as pessoas e a distribuição de máscaras e itens de higiene”, escreveu, em nota. 

Recentemente, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou ser impossível acabar com as filas durante o período de pagamento do auxílio emergencial. Segundo ele, o banco está fazendo o possível para reduzir aglomerações e adotou medidas como ampliação de horário de atendimento e contratação de mais funcionários. “Não há nenhuma possibilidade de se pagar 50 milhões de pessoas em três semanas e não existir fila. Isso não existe. Não vou prometer o que é impossível. O que nós faremos é mitigar, reduzir”, declarou.  

No primeiro mês de vigência do auxílio, não houve separação dos dias de pagamento a beneficiários do Bolsa Família e outros cadastrados, o que levou a um acúmulo na demanda. Para este mês, o banco vai anunciar um novo cronograma de pagamentos para evitar essa coincidência de datas. Os repasses da segunda parcela do auxílio, anteriormente previstos para o fim de abril, devem ser iniciados apenas na próxima semana. Guimarães afirma que muitas pessoas que poderiam resolver pendências pelo aplicativo ou telefone também acabam se deslocando às agências. 
 

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