Senador pró-garimpo de Rondônia tem fazenda sobreposta à terra de indígenas isolados

Apoiador do garimpo em terras indígenas, Jaime Bagattoli é dono de terra grilada (Reprodução/Redes Sociais)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

RONDÔNIA – O senador pró-garimpo de Rondônia, Jaime Bagattoli (PL), é apontado como proprietário de uma fazenda de criação de gado que sobrepõe a Terra Indígena (TI) Rio Omerê, localizada no município de Corumbiara, no interior do Estado.

São 2.591 hectares sobrepostos à reserva, ou seja, equivalente a mais de 3,6 mil campos de futebol. Esta é mais uma ameaça contra duas etnias já quase dizimadas por invasores desde os anos 1970: os indígenas Akuntsú e Kanoé

A denúncia consta em um dossiê feito pelo observatório De Olho nos Ruralistas, que expôs, além de Bagattoli, outros 41 políticos e familiares de primeiro grau, também titulares de fazendas no interior de TIs.

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O senador pró-garimpo se tornou membro da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), no Senado Federal, e também é um dos três congressistas que possuem fazendas registradas em nome de empresas ou parentes, segundo o documento. No caso, a fazenda é registrada em nome da Transportadora Giomila, da qual Bagattoli é sócio com o irmão Orlando Bagattoli. O imóvel, que leva o nome de Fazenda São José, tem 1.118,25 hectares. 

Comparação entre a extensão da TI Rio Omerê e a área de sobreposição da fazenda do senador Jaime Bagattoli sobre o território (De Olho nos Ruralistas/Reprodução)
Mais de uma década na irregularidade 

De acordo com o dossiê, a propriedade rural só foi adquirida pelos irmãos em 2011, por meio de penhora de uma dívida contraída pelos antigos donos da fazenda. No entanto, a área grilada já estava sobreposta à Terra Indígena desde 2007, um ano após a homologação da reserva. A “investida fundiária”, como trata a denúncia, “aparece até hoje nos registros do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)”, diz o documento. 

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O senador eleito por Rondônia, Jaime Bagattoli (PL), dono da Fazenda São José (Arquivo/Revista Cenarium)
Risco aos indígenas

Localizada na região sul de Rondônia, a TI Rio Omerê é o lar dos últimos sobreviventes dos povos Akuntsú e Kanoé, que são de recente contato, além de grupos isolados. 

Especialistas apontam um grande conflito de interesses, visto que Bagattoli prometeu defender o garimpo, inclusive, em áreas protegidas, além do fato de que ele também vai avaliar o PL 490/2007, conhecido como Marco Temporal, apreciado pelo Senado.

O projeto que dispõe sobre o uso e gestão de TIs foi aprovado no último dia 30, na Câmara dos Deputados. “Caso aprovado e sancionado pelo presidente Lula, o projeto beneficiará, diretamente, os negócios do político”, diz o De Olho nos Ruralistas.

À REVISTA CENARIUM, o tecnólogo em gestão ambiental e conselheiro da Associação Etnoambiental Kanindé, Edjales Benicio, demonstrou repulsa à postura de Bagattoli.

“Quando um sem terra invade um latifúndio improdutivo, é chamado de vagabundo e de terrorista. E, agora, quando um homem público que deveria resguardar a lei e fiscalizar o cumprimento das leis tem uma propriedade com mais de 3 mil campos de futebol dentro de uma área pública, que nome nós damos a isso?”, criticou Benicio.

O tecnólogo em gestão ambiental, ex-secretário de Meio Ambiente de Porto Velho e conselheiro da Associação Kanindé (Reprodução/Acervo Pessoal)

“Por se tratar de uma área de indígenas em situação de isolamento voluntário, de recente contato e, pelo fato de ser um homem público, um senador da República, que deveria defender o Estado rondoniense, ele é o primeiro infrator”, acrescentou.

Procurado para comentar o caso, o senador Jaime Bagattoli ignorou os pedidos feitos pela CENARIUM. A reportagem não conseguiu contato com a Transportadora Giomila, da qual ele é sócio, e que detém a titularidade da propriedade rural. 

Quem é Jaime Bagattoli

Jaime Maximino Bagattoli tem 62 anos, senador pró-garimpo de Rondônia, nas últimas eleições, eleito com mais de 290 mil votos. Ele também é um empresário da região do cone sul de Rondônia, com patrimônio declarado superior a R$ 55 milhões – a fazenda, por outro lado, não foi declarada à Justiça Eleitoral.  

Bagattoli é dono do Grupo Bagattoli, que tem sede em Vilhena, a 706 quilômetros de Porto Velho. A empresa reúne, além da Transportadora Giomila, a Rede Catarinense de Postos de Combustíveis e diversas fazendas de destinação agropecuária.

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