Senadora diz que Chico Rodrigues agiu de ‘má-fé’ ao visitar TI Yanomami; MPF pede explicações

À esquerda, a senadora Eliziane Gama e, à direita, Chico Rodrigues (Thiago Alencar/Revista Cenarium)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

BOA VISTA – A visita do senador de Roraima Chico Rodrigues (PSB-RR) à Terra Indígena (TI) Yanomami, na última segunda-feira, 20, sem a presença de outros parlamentares da Comissão Temporária Externa do Senado Federal, é alvo de críticas de outros parlamentares. Chico Rodrigues é conhecido por apoiar a atividade mineral irregular no território indígena. O Ministério Público Federal de Roraima (MPF-RR) pediu explicações ao senador.

Já a vice-presidente da Comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou em entrevista nessa quarta-feira, 22, ao programa Estúdio I, da GloboNews, que o senador Chico Rodrigues agiu de “má-fé” ao visitar o território indígena. Gama diz que a comissão criada pelo senador federal para acompanhar a crise Yanomami é conduzida de forma “obscura”. Além dos parlamentares, fazem parte da Comissão os também senadores de Roraima Hiran Gonçalves (PP-RR), Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e Humberto Costa (PT-PE).

“No domingo à noite, exatamente às 19h30, nós recebemos, o meu gabinete recebeu, uma mensagem no WhatsApp de que no dia seguinte, às 8h da manhã, no horário de Boa Vista, sairia um avião para Terra Indígena Yanomami para fazer o sobrevoo na região, iria até aquela comunidade. Veja, eu moro no Maranhão e o Humberto não é do Estado de Roraima. Nós estamos em Estados diferentes, manda um comunicado pelo WhatsApp, sem nenhum formalismo, ainda mais o Humberto, que se quer recebeu essa informação. Uma ação totalmente sem sentido, sem entendimento”, disse a senadora.

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Trecho da Entrevista da senadora Eliziane Gama à GloboNews (Reprodução)

Senadores da base do Governo Lula, Eliziane Gama e Humberto Costa encaminharam, no dia 16 de fevereiro, um ofício ao senador Chico Rodrigues relatando a necessidade da aprovação do Plano de Trabalho para posterior agenda “in loco”. A REVISTA CENARIUM teve acesso ao documento que relata sobre o pedido de agendamento de visita dos membros da Comissão na TI Yanomami.

“Pedimos que considere, ainda, a necessidade de que as decisões e as comunicações da Comissão sejam alinhadas com todos os membros do colegiado, de forma a possibilitar maior participação possível. Ontem, tivemos a reunião de instalação e não foi comunicado com os membros acerca da iminência da marcação da supracitada diligência”, diz trecho do ofício encaminhado pelos dois senadores.

Explicações

O Ministério Público Federal (MPF) em Roraima oficiou a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami) e o senador Chico Rodrigues (PSB-RR), na condição de presidente da Comissão Temporária Externa para acompanhar in loco a situação dos Yanomami, solicitando informações acerca da visita realizada no Terra Indígena Yanomami na última segunda-feira, dia 20.

De acordo com o MPF, a medida visa identificar os objetivos e atividades da referida Comissão Temporária Externa na Terra Indígena Yanomami, na perspectiva da defesa dos povos que habitam a TI Yanomami. Foi concedido prazo de dez dias para a resposta.

Repúdio

A Hutukara Associação Yanomami (HAY), entidade que representa os indígenas Yanomami de Roraima, criticou a participação de três senadores de Roraima na comissão externa do Senado que vai acompanhar a crise humanitária e sanitária dos Yanomami no Estado. A associação acusa Chico Rodrigues (PSB), Hiran Gonçalves (PP) e Mecias de Jesus (Republicanos) de serem declaradamente a favor do garimpo.

No documento, a Hutukara cita que os senadores nunca apoiaram a causa indígena e atuaram a favor do garimpo.

Irregular

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) apontou irregularidades na visita do senador Chico Rodrigues (PSB-RR) à Terra Indígena Yanomami, realizada na segunda-feira, 20.

A fundação comunicou o Ministério dos Povos Indígenas sobre as circunstâncias da visita, realizada em desacordo com as regras vigentes na situação de emergência – declarada há um mês pelo Governo Lula (PT) em razão da crise de saúde no território – e contra manifestações de organizações indígenas, segundo a Funai.

Força nacional do SUS em atendimento aos Yanomami (Igor Evangelista/MS)

Crise Humanitária

O avanço do garimpo ilegal na Terra Yanomami, aceito e estimulado pelo Governo Bolsonaro, provocou uma crise humanitária, sanitária e de saúde no território. Mais de 20 mil garimpeiros invadiram a terra indígena e chegaram a regiões antes intocadas, como Auaris, quase na fronteira com a Venezuela.

O garimpo e a desassistência em saúde indígena no Governo Bolsonaro levaram a uma explosão de casos de malária, desnutrição grave, infecções respiratórias e outras doenças associadas à fome, como diarreia.

Além das ações de emergência em saúde, o Governo Lula deu início à Operação Libertação, para destruição de aeronaves e maquinários usados pelo garimpo e para tentativa de retirada dos milhares de garimpeiros. A operação está prevista para durar de seis meses a um ano.

Dinheiro na Cueca

Chico Rodrigues foi destaque no noticiário, em outubro de 2020, após ser flagrado com R$ 33 mil escondidos na cueca ao ser alvo da Polícia Federal (PF). Com o senador, os policiais também apreenderam uma pedra que suspeitavam ser uma pepita de ouro. A operação apurou desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia da Covid-19.

Senador Chico Rodrigues (DEM-RR) foi flagrado com dinheiro na cueca. (Reprodução/Congresso em Foco)

Procurado pela reportagem da REVISTA CENARIUM, o senador Chico Rodrigues não se pronunciou sobre as declarações da senadora e nem sobre o Ministério Público Federal de Roraima sobre o pedido de explicações do MPF.

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