Tentativa de construir posto de combustíveis em área ambiental ocorre desde 2018; moradores são contra

Campus da Ufam em Manaus (Divulgação/Ufam)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – O trecho da Área Proteção Ambiental (APA) Floresta Manaós, localizado na Avenida Cosme Ferreira, bairro Coroado, no Conjunto Acariquara, é alvo do Projeto de Lei (PL) nº 582/2021, para construção de um posto de combustíveis. O local recebe tentativas de destruição ambiental desde 2018. Protocolado pelo vereador Diego Afonso (União Brasil), empresário ligado ao setor de combustíveis, o PL foi aprovado no último dia 21 de junho pela Câmara Municipal de Manaus (CMM) com apenas quatro votos contrários dos 41 representantes.

O texto solicita a supressão de uma área de proteção ambiental para a construção de um posto de combustíveis da empresa IBK COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA. A matéria aguarda sanção do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante).

Mapa da Área de Preservação Ambiental em Manaus (Reprodução)

Segundo a bióloga, mestre em Ecologia, especialista em Manejo de Animais Silvestres e Educação Ambiental, Dayse Campista, e o ambientalista, bacharel em Biologia, mestre em Ciências Ambientais e Florestais e especialista em Manejo de Animais Silvestres, Maurício Noronha, moradores do conjunto Acariquara, as tentativas de construção acontecem desde 2018.

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“Essa história vem acontecendo desde 2018, existe uma tentativa de ocupar essa área verde de qualquer forma”, revelou Dayse. “Fizemos um abaixo-assinado, porque é impensável ter um posto no conjunto ou na lateral dele, porque primeiro vamos ter uma perda irreparável de área verde, os impactos que esse posto pode trazer para os moradores são inúmeros”, pontua Maurício Noronha.

Campus da Ufam localizado dentro da APA Manaós (Divulgação/Ufam)

Além dos problemas ambientais, o casal alerta para os problemas de saúde e segurança que podem afetar os moradores da região. “Temos aqui várias nascentes de igarapés, que abastecem o Lago de Acariquara e outros que passam por Manaus, que podem ser impactados por vazamento de combustível. Além disso, existe a poluição dos gases emitidos pela evaporação do combustível, qual o impacto que isso tem na saúde humana? Sem falar no risco de incêndio“, pontua o ambientalista.

No documento protocolado pelo vereador Diego Afonso, consta a assinatura de oito moradores do conjunto, sendo apenas sete deles favoráveis à construção do posto. Segundo o casal, esse abaixo-assinado não representa as mais de 100 famílias que vivem no Acariquara. “Esse abaixo-assinado que ele apresenta, nós nem ficamos sabendo, parece irreal. Não houve consulta aos moradores, ele não esteve aqui, e não há estudo de impacto ambiental. Em 2018, protocolamos um abaixo-assinado com a assinatura da maioria dos moradores daqui, que foi encaminhado para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), justamente contra a construção desse posto”, afirma Noronha.

Assinatura de oito moradores, sendo apenas sete a favor da construção (Reprodução)
Risco Ambiental

Além de moradores, o casal é conhecido pelo trabalho na proteção do meio ambiente e preservação da espécie Sauim-de-coleira. Em conversa com a reportagem, os especialistas afirmaram que receberam com surpresa o projeto. “Parece que nossos representantes não são favoráveis aos esforços de garantir uma qualidade de vida oferecidas pelas áreas verdes, parece que não entendem. Parece que perdura nas mentes deles que as áreas verdes são recursos naturais inesgotáveis, isso segue a lógica do crescimento econômico sem entender os impactos ambientais“, afirma Maurício.

Sauim-de-Coleira (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)
Abrigo para animais em extinção

“A APA Manaós é hoje o maior fragmento florestal urbano de Manaus e um dos maiores do Brasil. Ele tem alta relevância para conservação de Saium-de-coleira, um primata que hoje está criticamente ameaçado de extinção e até bem recentemente fez parte de uma lista dos 25 primatas mais ameaçados do planeta, e hoje esse fragmento florestal que liga a Ufam com o conjunto Acariquara é de alta relevância para a manutenção dessa espécie na cidade de Manaus”, ressalta.

Para o biólogo, formado pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal), mestre e doutor em Biologia (ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante, a invasão dessa área de preservação é preocupante.

Dr. Lucas Ferrante, biólogo, formado pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal), mestre e doutor em Biologia (ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Para você afetar uma área de vida de uma espécie ameaçada você precisa ter autorização de órgãos ambientais. Além disso, estamos falando de legislar em causa própria, o vereador está ferindo o próprio mandato, isso não tem valor nenhum como lei para Manaus, ele deveria perder o mandado. Além disso, existe um conluio de quem vota a favor desse projeto“, afirma.

Segundo ele, a justificativa dada no documento é incabível. “Ele usa uma justificativa esdrúxula para se autobeneficiar, isso vai contra, inclusive, aos princípios que um vereador deveria seguir. A desculpa que Manaus cresceu desordenada como desculpa para construir um posto não cabe. Primeiro, que a região já tem muitos postos e não precisaria de mais um. Depois porque qualquer área de floresta é muito importante para a qualidade de vida das pessoas daquela região”, avalia.

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