Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium
MANAUS – A humanidade tem buscado na religiosidade o conforto e as respostas em meio à dor e às mortes causadas pela pandemia do novo coronavírus. Por isso, especialistas entrevistados pela CENARIUM afirmam que as teorias espíritas podem revelar uma lição espiritual a respeito dos quase 350 mil óbitos causados pela Covid-19 no Brasil, até o último sábado, 10.
De acordo com a doutrina, o Livro dos Espíritos foi estruturado pelo educador Allan Kardec, um importante propagador da crença, que utilizou a experiência de mais de 40 anos em educação de crianças, jovens e adultos para fundamentar os conhecimentos da publicação.
O livro aborda, em quatro capítulos, as relações com Deus e as Causas Primárias, baseadas em uma linha de pensamento onde o Universo é composto de três elementos fundamentais: criador, criação, espírito e matéria. Na filosofia Kardecista, tudo o que conhecemos é Espírito e Matéria e essa possui vários graus como sólido, líquido, gasoso e plasma, além de níveis mais sutis como o corpo espiritual e os mundos espirituais.
Edson Farias, primeiro vice-presidente da Federação Espírita Amazonense (FEA), lembra que nas pandemias passadas, como a que aconteceu anteriormente, que foi “53 vezes pior do que essa” e na peste negra que foi “1.000 vezes pior”, nada foi aprendido pelas gerações anteriores , sendo esta agora uma oportunidade para os seres humanos saírem desta pandemia melhores.
“Infelizmente não aprendemos muito com as anteriores. Deus está nos dando uma oportunidade de sairmos melhores desta pandemia. Os que retornam do coma, deverão vir melhor, como normalmente acontece com quem já teve essa experiência. Os que retornaram, reencontraram corações muito queridos que os antecederam e nos aguardam em algum momento”, disse Farias.
Entendendo conceitos
Segundo Farias, na primeira revelação, Moisés deixa um legado com os dez mandamentos e resume a ideia de “iniciar tudo com Deus”. “Assim sendo, quando Kardec pergunta: Quem é Deus? Os Espíritos, sob o comando de Jesus, respondem: ‘É a Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas’. Isso é importante, pois entendemos que tudo vem de Deus e não existe nada mais inteligente do que Deus”, detalha inicialmente.
“Deus é justo e soberanamente bom. Isso significa que tudo que nos acontece e também a humanidade é justo e bom. Partindo dessas bases, a experiência que vivenciamos é justa e é boa, apesar de não compreendermos os fins. Para entender que a referida experiência é justa e boa, é necessário irmos para a chave de entendimento dos ensinamentos de Jesus que é a reencarnação e a lei de causa e efeito”, detalhou Farias.
Vida Espiritual
Na segunda parte, o vice-presidente explica que o mundo espírita ou mundo dos espíritos possui inúmeras experiências ao longo da vida espiritual.
“Encontraremos nesta parte a nossa relação com a matéria no mundo material, esse que nós estamos neste momento e a relação do espírito com a matéria no mundo espiritual, de onde viemos, por meio da reencarnação e para onde retornaremos, por meio do desencarne, ou como morte. E há também a relação entre os dois mundos, de lá para cá, como as influências espirituais (mediunidade, sonhos) e daqui para lá (pelos nossos pensamentos, aí está a importância do vigiar e orar, a prece é uma ferramenta poderosa em qualquer momento, principalmente agora).
As Leis Morais
Na terceira parte, O Livro dos Espíritos, as Leis Morais, pois a criação de Deus, que acabamos de ver acima, seguem leis e essas leis são Divinas.
– Leis Divinas ou Naturais (regem o mundo material e espiritual);
– Lei de adoração (trata da nossa relação com o Criador, e ele é justo e bom);
– Lei do Trabalho (necessitamos trabalhar para evoluirmos como espíritos);
– Lei de Reprodução (todos os seres vivos se reproduzem, é assim que chegamos na Terra e aqui estamos para evoluirmos). Não podemos e nem devemos desprezar a oportunidade da vida que temos e sempre agradecer aos nossos pais, independente de quem eles são, pois nos proporcionaram aqui estarmos.
– Lei de Conservação (instintivamente não queremos morrer e faremos tudo que estiver ao nosso alcance pela ciência e pela misericórdia de Deus para nos mantermos vivos e aproveitarmos essa experiência, pois se aqui estamos é para aprendermos algo e é justo e bom).
– Lei da Destruição (é parte da obra que trata das mudanças no nosso planeta, da destruição do nosso corpo, dos flagelos humanos, das mortes coletivas como em catástrofes naturais e como essa pandemia e como outros que foram até mais impactantes como esta); A destruição faz parte da evolução do nosso planeta. O Mundo tem se modificado, fisicamente, ao longo dos tempos.)
– Lei de Sociedade (é a nossa oportunidade de relacionamento com o nosso próximo, pois ensinaremos algo e aprenderemos uns com os outros, aqui é onde encontraremos a Lei Áurea, “Amor ao próximo como a si mesmo”, “Fazei aos outros tudo que gostaríamos que os outros nos fizessem”. Aqui cabe uma pergunta, na pandemia como está os nossos sentimentos pelo nosso próximo: pai, mãe, avós, irmãos, parentes, amigos, adversários, imprensa, governantes etc.)
– Lei do Progresso (estamos aqui para progredir, nesse capítulo, os espíritos afirmam que progredimos intelectualmente e moralmente, e cada um de forma única. Primeiro progredimos intelectualmente para compreendermos o bem do mal e que esse progresso é lento e que em alguns momentos, como este, Deus provoca um abalo físico ou moral para acelerar o seu progresso). Observemos como aceleramos, vacinas em pouco tempo, equipamentos, expansão das mídias sociais, reuniões virtuais etc.
– Lei de Igualdade (todos somos iguais perante a Deus, ora se temos várias experiências na matéria, não faz sentido a discriminação, o preconceito, etc., pois em determinado momento estaremos na experiência em corpo masculino, em outra estaremos em corpo feminino, em outra, rico, em outra, pobre, em outra, branco e em outra, negro, isso depende do objetivo e experiência necessárias para a nossa evolução).
– Lei de Liberdade (somos livres, até mesmo presos, temos o livre arbítrio para fazermos as nossas escolhas e lógico que a responsabilidade por elas é devido às leis acima, não devemos escravizar ninguém).
– Lei de Justiça, de amor e caridade (as leis Divinas são justas, no entanto Deus é misericordioso e nos proporciona meios de amenizar o sofrimento do nosso próximo e de exercitarmos o amor e a caridade).
“Essa é base do evangelho. E finaliza essa parte com a perfeição moral, esse é o nosso principal propósito. Foi para isso que Jesus veio, para nos ensinarmos e Ele continua trabalhando pela nossa perfeição moral”, explicou Edson.
Dias atuais
Na quarta e última parte traz respostas sobre os dias atuais e respostas para o que está sendo vivido, pois é a consequência do que foi feito no passado, nesta ou em vidas anteriores e aponta como será o nosso futuro, conforme vivenciamos as Leis Morais, ou seja, isso que está acontecendo é para o aprendizado e crescimento intelectual e moral.
“Durante anos, nós sentamos nos bancos dos templos religiosos, assistimos a pregações e palestras e estudamos. Agora é a hora do testemunho, é hora de colocarmos em prática o que vimos e ouvimos. Estamos conseguindo? Estamos aprendendo? Ou teremos que repetir tudo de novo? Pois precisamos aprender e só se aprende vivenciando”, explanou.
Por fim, explica que o mundo parou para que cada um faça a sua reflexão. “O que realmente é importante nesta existência, cada minuto é importante, os nossos relacionamentos familiares e cuidados são necessários. O nosso relacionamento com Deus não precisa de um espaço físico, pois a nossa relação com ele é pelo pensamento. ‘Chegará o tempo em que adoraremos a Deus em espírito e verdade’, nos ensinou Jesus no diálogo com a mulher samaritana”, finalizou.
Escrituras
Todas as revelações são baseadas em versículos bíblicos que podem ser encontrados nos ensinamentos de Jesus, a reencarnação em Mateus, 16:13 a 17; Marcos, 8:27 a 30, Marcos, 6:14 a 16; Lucas, 9:7 a 9, Mateus, 17:10 a 13; Marcos, 9:11 a 13. Ou seja, para entrar no Reino dos Céus é necessário nascer de novo e a prece no Sermão da Montanha (Mateus, 6:5 a 8).
Edição: Alessandra Leite
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