‘Todes’: linguagem neutra torna comunicação mais inclusiva, defende linguista

Professor escreve palavras na liguagem neutra em quadro (Reprodução/Adriano Abreu)
Emilli Marolix – Da Revista Cenarium

PARINTINS (AM) – Nos últimos anos, a discussão sobre a linguagem neutra tem ganhado força no Brasil. A ideia é simples, mas o debate é complexo e essa proposta tem gerado discórdia e dividido opiniões entre as pessoas. A professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Maria Audirene Cordeiro, doutora em Antropologia Social e mestre em Linguística, defende que a linguagem neutra é como uma estratégia para que sociedade civil organizada reconheça que há outras formas de tratamento para além da linguagem binaria e que não fere a estrutura gramatical.

“Se eu tenho a linguagem neutra como uma opção e uma estratégia política que não fere a estrutura linguística e nem a realização, e nem a marcação do gênero masculino e do gênero feminino, por que não adotar? É muito importante que tenhamos a linguagem neutra para assegurar que todos os falantes se sintam contemplados nas suas diversas formas de manifestação linguística”, afirma à CENARIUM.

Os defensores da linguagem neutra argumentam que a língua é um reflexo da sociedade e, portanto, deve evoluir para ser mais inclusiva. O uso dessa linguagem pode contribuir para a diminuição do preconceito e da discriminação, oferecendo reconhecimento e validação às pessoas que não se identificam com os gêneros tradicionais.

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Palavra “todes” representa uso da linguagem neutra (Reprodução/Arte Migalhas/Freepik)

Para a linguista, o fundamentalismo religioso insiste que a sociedade tenha apenas uma marcação de gênero na Língua Portuguesa, além de não aceitar a diversidade de gênero e tudo o que a envolve.

“A língua ela é dinâmica, a língua não está aprisionada em regras que são absolutas e definitivas, a língua é da sociedade e a sociedade usa a língua. Então se ela muda, a língua também muda. Não vejo nada contra a linguagem neutra, a não ser o fundamentalismo religioso que não aceita a diversidade de gênero, e o fundamentalismo gramatical, que não aceita que a língua ela modifica”, afirma a professora.

A professora Maria Audirene Cordeiro (Reprodução/Ufam)

O estudante de Ciências Sociais Genivau Laranhaga, de 23 anos, defende que a linguagem neutra é fundamental para a sociedade atual, pois torna a comunicação mais inclusiva e ampla.

“Vejo que estamos em uma sociedade totalmente desenvolvida e a questão da inclusão deve ser vista como prioridade. Com a linguagem neutra podemos nos comunicar de uma maneira que não inclui apenas dois sexos, mas sim inclui todos os indivíduos”, destaca o acadêmico.

O que é a linguagem neutra

A linguagem neutra, ou linguagem não-binária, propõe a utilização de pronomes e terminações que não indiquem gênero, visando incluir pessoas não-binárias, transgêneros e de gênero fluido. Em vez de usar “ele” ou “ela”, sugere-se “elu”. Em vez de “todos” ou “todas”, propõe-se “todes”. Essa adaptação busca refletir sobre a diversidade de identidades de gênero que não se encaixam nas tradicionais categorias binárias.

O movimento pela linguagem neutra começou a ganhar força no meio acadêmico e nas redes sociais, sendo impulsionado principalmente por comunidades LGBTQIAPN+. Universidades e coletivos estudantis foram os primeiros a adotar e promover essas mudanças. Nos últimos anos, muitos famosos, intelectuais e influenciadores digitais têm fortalecido o debate, através dessas discussões esse tema vem ganhando cada vez mais visibilidade e espaço na sociedade.

Leia mais: No Amazonas, PGJ solicita anulação da lei que proíbe uso de linguagem neutra
Editado por Adrisa De Góes
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