Venda de plasma afeta estoque de sangue e oferece risco à saúde, alerta gestora do Hemoam

A diretora-presidente do Homoam, Socorro Sampaio (Divulgação/Hemoam)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – A diretora-presidente da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), Socorro Sampaio, afirmou com exclusividade à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, nesta quinta-feira, 5, que a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que autoriza a comercialização de plasma humano, um dos componentes do sangue, vai prejudicar os estoques dos bancos de sangue em todo o País e pode até trazer riscos à saúde.

A proposta foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que aprovou na quarta-feira, 4, por 15 votos a 11, e alterou a Constituição que, atualmente, proíbe a comercialização de órgãos, tecidos ou substâncias humanas. A PEC seguirá para análise no Plenário do Senado.

Bolsa com transfusão de sangue no Hemoam (Lucas Silva/11.ago.23/Secom)

Socorro Sampaio analisa que a partir do momento que empresas privadas começarem a explorar comercialmente o plasma, as pessoas, em vez de doarem sangue de forma voluntária, nos hemocentros, vão preferir ganhar dinheiro e procurar um banco privado. Com isso, os estoques dos bancos de sangue, que já são escassos, devem diminuir ainda mais, impactando nas transfusões a pacientes.

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Isso vai afetar drasticamente nossos estoques, cujo foco é exclusivamente atender as demandas hospitalares e salvar vidas. Por outro lado, a iniciativa privada só quer lucrar com isso“, analisa Socorro Sampaio sobre o que ainda chama de retrocesso. “É unânime entre os hemocentros e especialistas que essa mudança da Constituição é desastrosa e tememos sérios problemas em virtude dessa alteração“, disse a gestora à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA.

A diretora-presidente do Hemoam, Socorro Sampaio (Divulgação/Hemoam)

Sampaio explica, ainda, os riscos à saúde e à vida que podem ocorrer com essa “privatização”: “Outro problema grave é a segurança transfusional. Na década de 80, bancos privados de sangue comercializavam o sangue e, em troca de dinheiro, pessoas infectadas com HIV, hepatite e sífilis doavam sangue, e esse sangue era transfundido contaminado. Mesmo com toda tecnologia que temos para detecção dessas doenças, ainda existe a janela imunológica, que é o período de incubação e as doenças não são detectadas nos exames“, acrescenta.

Campanha Junho Vermelho (Arthur Castro/30.mai.23/Hemoam)
Proposta

A PEC aprovada exclui o plasma da proibição de comercialização definida pelo Artigo 199 da Constituição e estabelece que “a lei disporá sobre as condições e os requisitos para a coleta, o processamento e a comercialização de plasma humano pela iniciativa pública e pela iniciativa privada, para fins de uso laboratorial, desenvolvimento de novas tecnologias e de produção de medicamentos hemoderivados destinados a prover, preferencialmente, o SUS”.

O texto também diz que o plasma pode ser utilizado em laboratórios, desenvolvimento de novas tecnologias e de produção de medicamentos “destinados a prover preferencialmente o SUS“. Para ser aprovada, além de passar pelas comissões, uma PEC precisa de três quintos dos votos, no Senado e na Câmara, em discussões de dois turnos.

Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga
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