Yemanjá: Festival combate demonização das religiões de matriz africana em Manaus
28 de dezembro de 2023
Festival Afro Amazônico de Yemanjá na Praia da Ponta Negra, em Manaus (Divulgação)
Ana Pastana – Da Revista Cenarium Amazônia
MANAUS (AM) – Para começar 2024 com energia positiva e muito axé, desta sexta-feira a domingo, dias 29, 30 e 31, a Praia da Ponta Negra, Zona Oeste de Manaus, recebe o 13º Festival Afro-Amazônico de Yemanjá, com o tema Exú – Abrindo Nossos Caminhos. Organizado pela Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama), a edição superou desafios que, por pouco, não inviabilizaram a realização do evento. Neste ano, o intuito é desconstruir a imagem demoníaca imposta às religiões de matriz africana.
De acordo com o coordenador-geral do festival, Alberto Jorge Silva, após a primeira Marcha Para Exú ficou nítido que as religiões de matriz africana precisavam trabalhar essa desconstrução. “O nosso maior problema em todos esses anos é a demonização que as religiões de matriz africana têm passado. Nós fizemos a Marcha Para Exú, em setembro, e ficou bastante evidente que o nosso povo sente essa necessidade de trabalhar essa desconstrução da imagem demoníaca”, afirmou.
Celebração do Festival Afro-Amazônico de Yemanjá (Foto: Arquivo/Associação Cultural Toy Badé)
O tema ressalta a importância do respeito à diversidade e combate ao racismo religioso. “É justamente para fazer valer essa ideia de que Exú, os nossos orixás não são demônios, mas são divindades que podem abrir os caminhos e podem trazer coisas boas”, afirma pai Alberto.
Exú e Yemanjá
Exú é uma das entidades mais louvadas das religiões de matriz africana, mas é visto de formas diferentes. No candomblé, é uma divindade, a personalização de fenômenos e energias naturais. Na umbanda, é um espírito ligado aos caminhos, que incorpora nos médiuns para ajudar as pessoas na própria evolução.
Seja qual for a interpretação, uma coisa é certa: Exú não tem nada a ver com o demônio ou uma entidade do mal. “Exú é orixá e é filho de Yemanjá, está junto com Yemanjá. Vamos fazer uma festa bonita louvando Exú, que vai reger este ano de 2024”, destaca Pai Alberto.
Primeira marcha para Exú, em Manaus (Foto: Revista Cenarium Amazônia)
Virada do Vale
O Festival Afro-Amazônico de Yemanjá é realizado em conjunto com a Virada do Vale 2023, que busca criar um espaço diferenciado para acolhimento do público LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer ou Questionadores, Intersexuais, Assexuais, Panssexuais, Não-Bináries, e outros), para celebrarem, de maneira especial, o Réveillon de 2024.
“Desde 2018, o Festival Afro Amazônico de Yemanjá é um evento que acolhe o público LGBTQIA+. Não tem, em toda cidade, um evento público voltado à essa parcela da população”, destaca o organizador do evento.
Virada do Vale acolhe público LGBTQIAPN+(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Dificuldades
Com apoio da Prefeitura de Manaus, por meio da Fundação Municipal de Cultura, Eventos e Turismo (ManausCult), a organização do evento enfrentou dificuldades para firmar parceria e garantir a realização da festividade. No ano passado, a falta de apoio também gerou incerteza sobre o evento, que mesmo diante das dificuldades, foi concretizado.
“Desde janeiro desse ano nós procuramos dialogar com a prefeitura”, afirma o líder religioso, que retomou o contato em maio deste ano, com o então presidente da Manauscult, Osvaldo Cardoso. “Tratamos do Festival de Yemanjá, do Balaio da Oxum no Encontro das Águas, de toda a programação da Aratrama, e ficamos de ter um retorno dessa conversa, e esse retorno não aconteceu. De lá para cá, silêncio total”, disse.
Com a falta de diálogo e com a exoneração do então presidente da fundação, a coordenação da Aratrama procurou novamente a secretaria responsável pela organização de eventos na capital, e somente nos últimos momentos, o apoio foi garantido.
Programação
O evento inicia nesta sexta-feira, 29, a partir das 18h. No último dia, a programação inicia em 31 de dezembro e segue até a manhã do dia 1º de janeiro de 2024. A entrada é gratuita. Cada terreiro tem seus ritos, horários e liturgias específicas que poderão ser realizadas no local.
Mesmo com algumas atrações não confirmadas, devido à demora na resposta do poder público sobre apoio financeiro e estrutural, o festival contará com shows de artistas representantes da diversidade, além de apresentações artístico-culturais.
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