A definição de Braga Netto como vice-presidente e os reflexos para os aliados de Bolsonaro no AM

Vice-presidente na chapa de Bolsonaro, general Braga Netto recebeu R$ 926 mil em 2 meses; Exército fala em indenizações (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A escolha do general Walter Souza Braga Netto (PL), de 65 anos, como vice na chapa do presidente Jair Bolsonaro (PL), de 67 anos, nas eleições de outubro deste ano segue a mesma ideologia bolsonarista em ter um nome ligado ao setor da segurança pública e à área militar, cuja estratégia foi adotada em 2018 – quando o vice foi Hamilton Mourão (Republicanos).

O nome de Braga Netto como vice-presidente foi revelado na noite desse domingo, 26, por Bolsonaro, durante entrevista a simpatizantes do governo ao programa 4 por 4, no Youtube. Na transmissão, o presidente disse que pretende “anunciar nos próximos dias o general Braga Netto como vice”, destacou a atuação do general nas Forças Armadas e citou outros candidatos ao cargo no Palácio do Planalto.

Segundo análise de especialistas, contudo, o cenário político de 2022 é outro, mas a indicação do ex-ministro da Defesa será “engolida” sem esperneio por aliados do chefe do Executivo nacional no Amazonas.

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“Ao longo do exercício de Bolsonaro na Presidência, os seus aliados no Amazonas deram apoio a ele em, praticamente, todos os seus atos e decisões, mesmo aqueles que contrariam os interesses do Amazonas. Bolsonaro, no Estado, não tem aliados, mas adoradores, seguidores, lideranças e governantes que seguem ele mesmo com atitudes e visões que contrariam a dinâmica na Amazônia, os povos tradicionais e o equilíbrio ambiental. A escolha de Braga Netto, pela tradição da relação de Bolsonaro com os políticos do Amazonas, será engolida sem esperneio, mas com muita adoração”, declarou o sociólogo e analista político Carlos Santiago.

Veja também: Eleições 2022: Bolsonaro diz que pretende anunciar Braga Netto como vice; ‘É uma pessoa que admiro muito’

O general Walter Souza Braga Netto e o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto (Valter Campanato/Agência Brasil)

“A indicação de Braga Netto para vice é o reforço para a chapa de Bolsonaro de um segmento muito próximo, ideologicamente, do governo: o setor da segurança pública, que envolve também a área militar. Braga Netto reforça a chapa de Bolsonaro que visa manter os seus apoiadores. As movimentações de Bolsonaro se traduzem nisso”, destacou o sociólogo Carlos Santiago.

Para o especialista, o general pode não acrescentar, do ponto de vista eleitoral, novos apoios ao presidente, mas reforça o apoio de Bolsonaro numa área que, nos últimos anos, foi muito importante para o governo. Segundo ele, o possível anúncio faz parte, ainda, de movimentações de Jair Bolsonaro realizadas nos últimos meses como, por exemplo, a filiação do presidente ao Partido Liberal (PL) que, de acordo com Santiago, agrega políticos tradicionais do Centrão.

“Ele [Bolsonaro] também trabalha com montagens de palanques eleitorais nos Estados. Bolsonaro participa, ativamente, de todos os eventos evangélicos que estão acontecendo no Brasil, busca apoio dos mais pobres com a criação do Auxílio Brasil e a indicação de benefícios para os caminhoneiros, e se aproximou ainda mais do empresariado brasileiro, como os do agronegócio”, descreveu Santiago.

Ainda segundo análise de Santiago, Bolsonaro olha as eleições 2022 como se fossem as eleições de 2018. “Talvez ele esteja enganado, o cenário político é outro e para ganhar no atual cenário político ele precisa agregar novas forças políticas, porque a maré não está favorável ao atual governo”, destaca o sociólogo.

O que dizem os aliados

Nesta segunda-feira, 27, a REVISTA CENARIUM procurou os principais aliados do presidente Bolsonaro, no Amazonas, para comentar sobre a escolha de Braga Netto como vice e os reflexos para o Estado, questionando ainda se a decisão era acertada.

Os deputados federais Alberto Neto (PL) e Delegado Pablo (União) não responderam até a publicação desta reportagem. O Coronel Menezes (Patriota) declarou que “não pode responder por ele [o presidente]” e não quis comentar sobre “o que espera do governo federal para os próximos anos”.

Já o governador Wilson Lima (União), durante assinatura de um convênio para manutenção de parques, em Manaus, disse ser “muito cedo para se fazer uma escolha” como esta, mas desejou que, se for esta a indicação, que o general possa ser o melhor para o Estado do Amazonas.

Governador Wilson Lima desejou que o general seja o melhor para o Amazonas (Bruno Pacheco/CENARIUM)

“Ainda é muito cedo para se fazer essa escolha. É algo que a gente [no caso da escolha para vice de Wilson Lima ao Governo do Amazonas] vai tratar mais lá na frente. Essa é uma decisão do grupo político do presidente, não passa aqui pelo Estado e não tem relação conosco. Mas se for esta a indicação, eu desejo que possa ser o melhor para o Amazonas”, declarou Wilson Lima.

Atuação na Amazônia

Em setembro de 2021, o então ministro da Defesa participou de um evento alusivo aos mil dias de Governo Bolsonaro em Porto Velho (RO). Na ocasião, Braga Netto destacou a atuação das Forças Armadas na Amazônia, na “dedicação e profissionalismo” e na proteção do bioma brasileiro. 

“Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira empregam seus meios, com dedicação e profissionalismo, assegurando a integridade do território nacional, protegendo as riquezas naturais e levando assistência às populações ribeirinhas e indígenas”, disse o general durante o discurso.

Durante sua participação no evento, Braga Netto apresentou o Painel do Fogo, uma iniciativa do governo federal, desenvolvida pelo Ministério da Defesa, para combater os incêndios com maior agilidade.

Braga Netto

Escudeiro bolsonarista, Walter Braga Netto é um militar da reserva que foi ministro da Casa Civil em 2020 e ministro da Defesa em 2021. Natural de Belo Horizonte, em Minas Gerais, Braga Netto tem 48 anos de Exército e chegou ao posto de general após ser promovido em 2009. No Governo Temer, foi nomeado como interventor federal no Rio de Janeiro.

Braga Netto “cochicha” algo a Jair Bolsonaro e ao vice Hamilton Mourão, ao centro, em evento no Planalto (Raul Spinassé/FolhaPress)

Braga Netto, caso o anúncio para vice seja concretizado, ficará no lugar do também general Hamilton Mourão, de 68 anos. Ambos, apesar de obterem altas patentes nas Forças Armadas, apresentam características distintas: Braga Netto sempre foi discreto e evitou entrevistas, mas ganhou a confiança de Bolsonaro por sempre “cumprir ordens”. Já Mourão costuma abordar todos os temas.

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