‘A situação é preocupante’, dizem trabalhadores do interior do AM que dependem do Polo de Concentrados de Manaus

A esposa de Antônio Carlos na colheita de guaraná. (Arquivo Pessoal)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Quem depende indiretamente do Polo de Concentrados instalado na Zona Franca de Manaus (ZFM) está muito preocupado com os decretos que devem afetar as indústrias da capital amazonense. Após o decreto que zera a era alíquota do Imposto sobre Produtos Importados (IPI) e altera as Tabelas de Incidência sobre Produtos Industrializados (TIPI) para processos de bebidas não alcoólicas ser publicado, o sentimento de insegurança está tomando conta de muitas famílias no interior do Estado.

É a comprovação de que um colapso do principal modelo econômico do Amazonas não afetaria somente os trabalhadores do Polo Industrial de Manaus. O problema chegaria bem além da capital.

Leia também: ‘Bolsonaro lidera um governo que não constrói nada, só destrói’, afirma Lula sobre decreto que atinge a ZFM

PUBLICIDADE

É o caso do agricultor Antônio Carlos, que também é presidente da Cooperativa Agrofrutífera dos Produtores de Urucará, no interior do Amazonas. Os produtores associados cultivam e vendem o guaraná — fruta nativa da Amazônia e principal matéria-prima de refrigerantes — para indústrias que produzem a bebida não alcóolica no Estado, como a Recofarma Indústria Da Amazônia LTDA, a fábrica de concentrados da Coca-Cola no Amazonas, e a Ambev.

“São 63 cooperados oficialmente, e em média 300 pessoas que são beneficiadas diretamente. Indiretamente é quase o dobro porque tem o pessoal que trabalha com os produtores, faz transporte e serviços de beneficiamento na colheita”, explicou o agricultor à CENARIUM.

Colaboradores que trabalham com Antônio Carlos na colheita. (Arquivo Pessoal)

Preocupação no interior

A cooperativa também faz outros cultivos, como de acerola, açaí, banana, cupuaçu e até cumaru, mas o “carro-chefe” é o guaraná. O lucro médio das safras do fruto é de R$ 2 milhões e a preocupação é o número de famílias que podem perder a principal fonte de renda caso as empresas saiam do Estado.

“Em 2016, quando houve só uma redução, já teve impacto. Diminuíram [as empresas] 50% no volume de compra, ficou instável… Isso é preocupante porque os produtores investiram na produção de guaraná e, se não tiver mercado, tem muitas famílias que ficarão sem renda”, disse Antônio Carlos.

Leia também: Parlamentares do AM reagem a decretos de Bolsonaro que bombardeiam a competitividade da ZFM

Antônio Carlos (de vermelho) em uma área produtiva de guaraná. (Arquivo Pessoal)

Instabilidade na economia

Um operador de decantador, que preferiu não se identificar, e que trabalha em uma empresa de refino de açúcar, extrato de guaraná e álcool no interior do Amazonas também falou à CENARIUM sobre a preocupação com a incerteza do cenário econômico. Casado e pai de cinco filhos, ele trabalha há quase 10 anos na empresa, que também fornece produtos para a Recofarma.

“Tenho um filho mais velho que trabalha na mesma empresa que eu. Teve um outra vez em que o governo reduziu o IPI e eles [a empresa] demitiram muita gente, mais ou menos 400 pessoas. Tenho uma preocupação porque está muito ruim de trabalho, e essa é a única indústria, no Estado, que tem a minha função. Toda a minha família teria que mudar de Estado”, disse ele.

“Até agora a empresa ainda não se manifestou. Da outra vez que aconteceu, nós fizemos uma manifestação com mais ou menos 300 pessoas. Não sei como vai ficar, talvez segunda-feira digam algo. Fica uma instabilidade. A situação é preocupante”, externou o operador.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.