Aliança de Lula e Maduro é vista como ‘tendência comunista’ no Brasil, diz especialista

Pessoas reunidas próximas à bandeira comunista na China (Kevin Frayer/Getty Images)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha revelou que 52% dos brasileiros entrevistados acreditam que o País pode se tornar uma nação comunista. Para o analista político Ademir Ramos, o indicador pode ser motivado pela aliança entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fortalecida após o retorno do petista ao comando do Brasil.

O especialista observa que a união entre os líderes resgata as agendas da esquerda latino-americana, como a vinda do mandatário venezuelano ao Brasil no fim de maio, após oito anos sem pisar em território brasileiro. Em 2019, a entrada de Maduro no País foi vetada pelo Governo Bolsonaro, que revogou a portaria de proibição somente no fim do ano passado, próximo à posse de Lula.

“A liderança de Lula na América Latina, na tentativa de ocupar esse espaço de Fidel Castro e do chavismo é, sem dúvida, uma liderança legitimamente constituída e de destaque. Ele catalisa, para si, essa força política em termo de um bloco histórico e de um bloco econômico”, disse Ramos em entrevista à REVISTA CENARIUM.

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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cumprimenta o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (Ricardo Stuckert/Presidência da República)
Relativização do conceito de democracia

Outro fator apontado pelo analista político, que embasa os motivos possíveis que levaram ao resultado da pesquisa da Datafolha foi a relativização do conceito de democracia falada por Lula em defesa do regime autoritário de Maduro.

No último dia 29, o presidente foi questionado, durante entrevista à Rádio Gaúcha, sobre a motivação da esquerda defender o regime de governo venezuelano. “O conceito de democracia é relativo para você e para mim. Eu gosto de democracia, porque a democracia que me fez chegar à Presidência da República pela terceira vez”, disse Lula.

Resgate do Foro de São Paulo

O analista político também atribui a visão de “futuro comunista” à volta do Foro de São Paulo, no fim de junho deste ano, após quatro anos de jejum. O grupo reúne movimentos e organizações de esquerda da América Latina e do Caribe desde 1990, mas desde 2019 não realizava os encontros.

Quatro partidos políticos brasileiros fazem parte da entidade, são eles: Partido dos Trabalhadores (PT); Partido Democrático Trabalhista (PDT); Partido Comunista do Brasil (PCdoB) Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Também estão incluídas organizações internacionais: Partido Comunista de Cuba, do presidente Miguel Díaz-Canel; Frente Sandinista de Liberação Nacional, do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega; Partido Socialista Unido de Venezuela, de Maduro; e o Movimento ao Socialismo, do presidente da Bolívia, Luis Arce.

Lula fala em ‘orgulho’ comunista

Na abertura do encontro do Foro de São Paulo, em discurso de abertura do evento, Lula disse ter orgulho de ser chamado de comunista. Para Ademir Ramos, a declaração é mal vista pela população avessa ao comunismo. “O Lula falando isso foi um discurso rasante, um discurso vulgar”, afirmou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encontro do Foro de São Paulo (Valter Campanato/Agência Brasil)

No evento de partidos de esquerda, Lula fez críticas à direira. “Nós não somos vistos pela extrema-direita facista, nem do Brasil e nem do mundo, como organizações democráticas. Eles nos acusam de comunistas, achando que ficamos ofendidos com isso, mas não ficamos. Ficaríamos se nos chamassem de nazistas, de neofascistas, de terroristas. Isso não nos ofende, isso nos orgulha”, afirmou o presidente.

Movimento bolsonarista vive

Por fim, o analista político Ademir Ramos ressalta que o movimento bolsonarista permanece vivo mesmo após a derrota de seu líder nas urnas. Lula foi eleito com cerca de 60,1 milhões de votos, enquanto Bolsonaro (PL) recebeu, aproximadamente, 58 milhões, quase dois milhões a menos, a menor diferença da história.

“Essas variantes todas criam uma expectativa, sobretudo, com todos esses vacilos do governo, essas pedaladas teóricas do Lula. Tudo isso cria uma expectativa negativa do governo, que tende para o comunismo”, analisa Ramos.

Manifestação a favor do Governo Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O especialista continua: “Estamos vivendo um movimento muito forte do bolsonarismo na direita, e a direita se fundamenta nos costumes, na família e no fundamentalismo da religião neo-pentecostal. São essas fundamentações que justificam esses indicadores a respeito do comunismo”, finaliza.

Brasileiros acreditam em virada comunista

No último dia 1°, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha revelou que 52% dos entrevistados acreditam que o Brasil pode se tornar um País comunista. Dos participantes, 42% rejeitam a ideia, dos quais 30% totalmente e 12% em parte. Outros 6% não sabem ou não responderam.

Do total que veem um futuro comunista no País, 33% concordam totalmente e 19%, parcialmente. A crença sobe a 73% entre aqueles que votaram em Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições gerais de 2022. Eleitores de Lula são os que mais descartam a hipótese, 61% deles. Já 32% deles a consideram plausível.

A pesquisa ouviu 2.010 pessoas, com mais de 16 anos, em 112 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Leia mais: Opositora de Maduro é proibida de ocupar cargos públicos por 15 anos
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