Ano dramático: boi-bumbá perde Klinger Araújo e busca ‘reencontro’ com alegria para festival em 2021

Com a partida de mais um grande nome, personalidades de Caprichoso e Garantido apontam os rumos que o evento deve tomar em 2021 Reprodução/Internet)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Há exatos nove meses após a morte do ícone Arlindo Jr, a cultura do boi-bumbá do Amazonas tem mais uma significativa baixa. Vitimado pela Covid-19, o cantor, compositor e comunicador, Klinger Araújo, morreu nesta terça-feira, 29.

Carismático e um show man no palco, Klinger Araújo sabia como agradar o público com bom repertório e seu poder de comunicação (Reprodução/Internet)

Klinger parte em meio ao vendaval provocado pela pandemia do novo Coronavírus, que cancelou milhares de eventos mundo afora. O Festival Folclórico de Parintins foi um deles. Na esteira, o carnaval carioca e paulista podem seguir a mesma trajetória.

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Klinger Araújo soma com Arlindo Jr e o renomado compositor Emerson Maia, que faleceu em agosto. Perdas tristes para os amantes do boi-bumbá. Em meio a tantas baixas, a pergunta é: conseguirá o boi de Parintins se manter em 2021, após tantas perdas?

Para o presidente do Conselho de Arte do boi Caprichoso, Erick Nakanome, o momento é de tristeza. “É um momento triste. A minha geração não viu o Klinger Araújo radialista em Parintins, mas o seu crescimento como artista em Manaus”, recordou.

Méritos e cuidados

De acordo com Nakanome, Klinger é um nome que entra para a história. “Ele foi um agente que fez o ritmo chegar a um patamar de popularidade. Ele pertence àquela geração dos anos 1990 que construiu uma identidade musical para o Amazonas, que é a toada”, observou.

Questionado como será o boi daqui para frente, Erick comentou. “Acho que a perda de Arlindo Jr, Emerson Maia e Klinger Araújo, se abre uma lacuna cuja pergunta é: o boi sai enfraquecido? Acredito que quem poderá responder isso é o próprio boi em suas gestões”, declarou.

Arlindo Jr foi a primeira grande perda na cena do boi-bumbá nos últimos anos. Depois vieram Emerson Maia e agora Klinger Araújo (Reprodução/Internet)

De acordo com o artista e pensador da cultura popular, o boi precisa entender o recado. “O boi de arena não tem carinho para com os seus. O boi de arena clama pela vitória sempre! Não concorre a item? Então é descartável, pode cair no esquecimento”, criticou.

O conselheiro fez um alerta contundente para os bois de Parintins. “A partida desses três ícones mostra que o boi precisa mudar radicalmente em 2021. Esses foram os nosso ‘pops’. E os que partiram no anonimato? Carregando consigo ricas histórias?”, indagou.  

Vermelho também lamenta

Mesmo sendo um reconhecido torcedor e artista do Caprichoso, Klinger Araújo passou uma temporada no Garantido. É dele, em parceria com Artêmio Guedes e Otávio Guedes, a toada “Alma Rubra”, que se tornou um clássico na voz do apresentador Israel Paulain.

De acordo com Antônio Andrade, sócio e torcedor do Garantido, a partida de Klinger é uma perda para Parintins e o festival. “Klinger era um dos mais carismáticos artistas da toada. Comunicador com propriedade, era um grande disseminador do festival”, lamentou Andrade.

Antônio, que foi presidente do Garantido no início dos anos 2000 e atualmente concorre ao mesmo cargo, diz que o momento é de grande provação para Parintins. “É difícil! Além de não termos realizado nosso evento, estamos assistindo a perda de verdadeiros patrimônios de Parintins”, lamentou.

Considerado o maior compositor do festival de Parintins, o autor de “Sentei Junto ao Pé da Roseira” e “Lamento de Raça”, Emerson Maia, foi outra perda profundamente sentida (Reprodução/Internet)

Superação no encantamento

Para o ex-presidente, apesar das duras penas, Parintins e o festival irão se recuperar em 2021. “Sei que estamos passando pela maior provação da história do festival e de nossa terra, mas os bois têm força para superar isso por meio do maior talento de Parintins que é a arte de encantar”, destacou.

Para ele, honrar pessoas como Klinger Araújo, é uma obrigação das diretorias. “Quando fui presidente, gravei um CD de toadas antológicas, que foi uma forma de homenagear antigos e até então esquecidos compositores. Essa é uma forma de preservar a memória”, relembrou.

Antônio Andrade concorda que os bois precisam se reinventar na arte de se preservar e se respeitar. “O maior desafio dos bois e em especial do Garantido é reencontrar sua tradição, para não enterrarmos em vida, gente que tanto contribui para esse evento chegar onde chegou”, finalizou.

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