Após 40 anos, investigação sobre desaparecimento de Emanuela Orlandi é reaberta no Vaticano

Segundo o jornal britânico The Guardian, o foco da apuração, porém, será o caso de Mirella Gregori, que desapareceu em Roma semanas antes de Orlandi. Acredita-se que os dois episódios tenham ligações (Reprodução/Netflix)
Da Revista Cenarium*

ROMA – O Vaticano anunciou na segunda-feira, 9, a reabertura de investigação sobre o desaparecimento de uma jovem, em 1983, caso nunca esclarecido e alvo de teorias da conspiração em torno da Santa Sé.

Emanuela Orlandi, cuja família morava na Cidade do Vaticano — o pai dela era um funcionário papal —, tinha 15 anos e voltava de uma aula de música, em Roma, quando desapareceu. O promotor de Justiça do Vaticano, Alessandro Diddi, reabriu a apuração após pedidos da família da desaparecida.

Segundo o jornal britânico The Guardian, o foco da apuração, porém, será o caso de Mirella Gregori, que desapareceu em Roma semanas antes de Orlandi. Acredita-se que os dois episódios tenham ligações.

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Em outubro do ano passado, o serviço de streaming Netflix lançou “A Garota Desaparecida do Vaticano”, série que conta a história de Orlandi e explica as teorias que surgiram sobre o caso, nunca provadas.

Uma ex-companheira do criminoso Enrico de Pedis, por exemplo, suspeito de pertencer à máfia e a setores de finanças do Vaticano, acusou-o de ter sequestrado a jovem e enterrado o corpo dela.

Manifestante segura cartaz com foto de Emanuela Orlandi em protesto de 2012 (Filippo Monteforte/27.mai.12/AFP)

A adolescente teria sido sequestrada pela Banda della Magliana, grupo criminoso liderado por Pedis para recuperar um empréstimo de ex-presidente do Banco do Vaticano, Paul Marcinkus. Assim, o desaparecimento teria sido uma retaliação da máfia.

Em 2005, um telespectador anônimo ligou para um programa de televisão italiano e falou que a solução para o caso estava no túmulo de Pedis. A Justiça italiana chegou a abrir o túmulo do criminoso, assassinado em 1990 em um acerto de contas, mas não encontrou nenhuma ligação com o desaparecimento da jovem.

Há, ainda, uma teoria que sustenta ter havido um sequestro da adolescente para obter a liberação de Mehmet Ali Agça, turco que tentou assassinar o papa João Paulo 2° em 1981.

Em uma carta aberta de 2019, Agça assegurou que Orlandi estava viva. Seria necessário, segundo ele, buscar as pistas em arquivos da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos.

Na série, o irmão de Orlandi afirma que o papa Francisco teria dito que ela “está no céu” — indicando, de acordo com a família, que o Vaticano sabe o que aconteceu com a jovem. A produção da Netflix levanta outras hipóteses: a de que a adolescente foi levada a Londres, onde permaneceu em um albergue católico até 1997, e a de que foi abusada por um membro do Vaticano dias antes de seu desaparecimento.

“Nas próximas horas vou pedir uma reunião com o promotor de Justiça. Até agora, o Vaticano não fez nada”, disse a advogada da família, Laura Sgro, à agência de notícias AFP. “Que documentos querem revisar? Os da investigação da promotoria de Roma ou há algum arquivo que querem compartilhar? Há anos peço que interroguem pessoas da cúpula do Vaticano. Lamentavelmente, algumas já morreram.”

Ao Guardian, Sgro disse que ficou sabendo da reabertura da investigação pela imprensa. “Escrevemos ao papa, há um ano, para falarmos com o promotor de Justiça. É claro que estamos felizes por estarem fazendo uma investigação, mas realmente esperamos que isso forneça respostas concretas”, afirmou.

Após a morte do papa emérito Bento 16, seu secretário pessoal, Georg Gaenswein, disse que escreverá um livro de memórias intitulado “Nada Além da Verdade: Minha Vida ao Lado do Papa Bento 16”. Segundo notícias veiculadas no início do ano, a editora da publicação disse que o caso de Orlandi seria abordado.

(*) Com informações da Folhapress
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