Associação indígena pede que senador de RR seja afastado de comissão sobre crise Yanomami

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (à esquerda), e Chico Rodrigues. (Reprodução)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – O Conselho Indígena de Roraima (CIR) encaminhou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao Conselho de Ética da Casa Legislativa, ao procurador-geral da República, Augusto Aras, e ao Ministério Público Federal (MPF) um pedido de afastamento do senador Chico Rodrigues (PSB-RR) da comissão externa sobre a crise dos Yanomami em Roraima por conflito de interesses. O ofício foi enviado na sexta-feira, 24.

O CIR é uma organização indígena cuja área de atuação abrange as 35 terras indígenas de Roraima, com uma extensão de mais de 10 milhões de hectares, onde vive uma população de 58.000 indígenas em 465 comunidades em Roraima. No ofício, o conselho afirma que além do conflito de interesses, Rodrigues representa os “interesses daqueles que vêm praticando crimes há anos nos territórios indígenas’, em larga medida responsáveis pela situação de calamidade pública vivida”.

Trecho do ofício enviado pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR). (Reprodução)

A presença do senador na presidência da comissão tem sido repudiada por representantes de indígenas. Organizações como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Hutukara Associação Yanomami (HAY) criticaram a permanência de Chico Rodrigues como líder da comissão. O CIR lembrou no documento enviado ao Senado, assim como pontuaram as outras manifestações, que Chico Rodrigues já se manifestou a favor do garimpo em terras indígenas, como em um vídeo no qual chamou a extração mineral de “trabalho fabuloso”.

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Veja o vídeo:

O Conselho Indígena de Roraima também enfatizou que Chico Rodrigues foi destaque no noticiário, em 2020, após ser flagrado com R$ 33 mil escondidos na cueca ao ser alvo da Polícia Federal (PF). Com o senador, os policiais também apreenderam uma pedra que suspeitavam ser uma pepita de ouro. A operação apurou desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia da Covid-19.

Visita não autorizada

O CIR pontuou, ainda, que a visita do senador à Terra Indígena (TI) Yanomami, no último dia 20, causou “revolta e descontentamento”. Chico Rodrigues viajou ao Polo Base de Sururucu, de acordo com a organização, acompanhado de um assessor, sem a presença dos membros da comissão do Senado e sem seguir os protocolos sanitários criados pelo governo federal.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) afirmou em nota que a visita do senador ocorreu sem a permissão dos indígenas. De acordo com a Funai, uma Portaria Conjunta assinada pela instituição junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) estabeleceu os procedimentos de acesso à TI Yanomami durante o período de vigência da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, declarada em decorrência da desassistência aos indígenas da região.

A Funai, presidida pela advogada indígena Joenia Wapichana, elencou ainda que o ingresso ao território é coordenado a partir das ações prioritárias definidas no Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami). O objetivo é garantir o resguardo e respeito aos povos indígenas durante o enfrentamento da crise sanitária da Covid-19.

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