Associação Yanomami aciona STF para impedir audiência pública com garimpeiros ilegais

Área de garimpo ilegal (Christian Braga/Greenpeace)
Bianca Diniz – Da Revista Cenarium

BOA VISTA (RR) – A Urihi Associação Yanomami (UAY) protocolou uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de impedir que garimpeiros ilegais e seus representantes sejam ouvidos pela Comissão Temporária Externa Sobre a Situação dos Yanomami, no Senado, responsável por investigar a crise sanitária na Terra Yanomami (TY). A audiência pública está programada para ocorrer na quarta-feira, 22, e a associação alega que a presença dos garimpeiros ilegais desvia o objetivo da comissão.

Segundo o advogado da Urihi, associação que representa mais de 150 comunidades indígenas, Herick Feijó, o item 3.2 do plano de trabalho da comissão, que prevê uma audiência pública para ouvir garimpeiros, é um desvio de finalidade. Em entrevista à REVISTA CENARIUM, Feijó afirma que o pedido de suspensão da audiência foi protocolado e aguarda a designação do relator ainda nesta terça-feira, 21.

Audiência está marcada para acontecer na quarta-feira, 22 (Reprodução/Agência Brasil)

“Não faz sentido ouvir ou querer saber a visão dos garimpeiros, já que qualquer atividade de exploração mineral em terras indígenas é ilegal e inconstitucional, a não ser que preencha pré-requisitos específicos. A comissão é, justamente, para acompanhar a crise humanitária, não faz sentido ficar discutindo, nessa comissão, o que seria um desvio de finalidade, e visões de garimpeiros, ou representantes do garimpo, ou qualquer entidade representativa deste segmento, já que o principal objetivo e missão da comissão é buscar proteções de medidas para o povo Yanomami. […] Algo que a Urihi reputa como descabido e absurdo“, afirmou Feijó.

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Além da audiência pública agendada para esta quarta-feira, há mais duas previstas, incluindo uma com representantes de garimpeiros.

Outras lideranças indígenas representantes do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Hutukara Associação Yanomami (HAY) já pediram o afastamento de três senadores que compõem a comissão, são eles: o presidente Chico Rodrigues (PSB-RR); o membro, Mecias de Jesus (Republicanos-RR); e o relator, Hiran Gonçalves (PP-RR).

“A maioria [da comissão] formada pelos três senadores de Roraima deslegitima e desvirtua a missão da comissão externa, devido ao envolvimento explícito deles na defesa do garimpo dentro da TI Yanomami, atividade criminosa cujas consequências e impactos ficaram evidentes para toda a sociedade brasileira. Mais do que falar do eventual conflito de interesses, resulta em evidências de que há intenção espúria, por parte destes parlamentares, de utilizar um mecanismo de controle e acompanhamento do Poder Legislativo para, com ele, defender a manutenção do garimpo como solução”, diz nota da Cimi.

Polêmicas

Em fevereiro, o senador Chico Rodrigues (PSB-RR) gerou polêmicas ao visitar a TI Yanomami. Sua presença foi considerada irregular pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Segundo a entidade, a visita do senador, conhecido por suas posições favoráveis à atividade garimpeira ilegal, desrespeitou as regras estabelecidas pelo governo federal, em razão da crise de saúde no território, além de contrariar as manifestações de organizações indígenas.

Senador Chico Rodrigues (PSB-RR) visita Terra Indígena Yanomami (TIY), de forma irregular, e gera polêmica (Reprodução/Internet)

Defensor declarado das atividades de garimpo ilegal na região, o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) é alvo de diversas acusações de corrupção, incluindo a cobrança de propina e fraude em licitação. Sua nomeação, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para cuidar da Terra Yanomami e indicar nomes para a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) gerou críticas por parte das organizações indígenas e entidades de proteção ambiental.

Senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) agradece Bolsonaro: ‘Obrigado por tudo que fez pelo nosso País, especialmente, por Roraima’ (Reprodução/Rede Social)

Entre as justificativas das lideranças indígenas, para o afastamento do senador Hiran Gonçalves (PP-RR), está o silêncio diante da Lei 1.453/2021, que autorizava a atividade garimpeira com uso de mercúrio (declarada inconstitucional) e da lei sancionada pelo governador de Roraima, Antonio Denarium (PP-RR), que proíbe destruição de equipamentos em ações de fiscalização ambiental.

Senador Hiran Gonçalves e o governador Antonio Denarium, ambos do Partido Progressistas (PP), ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (Reprodução/Rede Social)

Comissão no Senado

A Comissão Temporária Sobre a Situação dos Yanomami (CTEYanomami) foi criada em fevereiro deste ano para acompanhar a situação dos indígenas e a saída dos garimpeiros ilegais das Terras Yanomami, em Roraima. É composta por um grupo de senadores do Congresso Nacional e tem atuação prevista de 120 dias.

O senador Chico Rodrigues (PSB-RR) é o presidente da comissão, com a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) como vice-presidente. O senador Hiran Gonçalves (PP-RR) é o relator. Além deles, o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), o senador Humberto Costa (PT-PE), o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), a senadora Zenaide Maia (PSD-RN) e a senadora Leila Barros (PDT-DF) como membros.

Crise Humanitária

O avanço do garimpo ilegal na Terra Yanomami provocou uma crise humanitária, sanitária e de saúde no território. Mais de 20 mil garimpeiros invadiram a terra indígena e chegaram a regiões antes intocadas, como Auaris, quase na fronteira com a Venezuela.

O garimpo e a desassistência em saúde indígena no Governo Bolsonaro levaram a uma explosão de casos de malária, desnutrição grave, infecções respiratórias e outras doenças associadas à fome, como diarreia.

Além das ações de emergência em saúde, o Governo Lula deu início à “Operação Libertação“ para combater o garimpo ilegal no território Yanomami. A operação está prevista para durar de seis meses a um ano.

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