Brasil se mostra na contramão da proteção dos defensores da floresta

Brasil mais uma vez não ratifica Acordo de Escazú, que já está em vigor em 12 países da América Latina e Caribe. Contrariando todos os dados de violência contra ativistas ambientais, desmatamento desenfreado, crise sanitária e recessão econômica.

No Brasil, o cenário socioambiental é desesperador. A gestão governamental tem promovido um verdadeiro desmonte às políticas de defesa do meio ambiente, com direito a “passar boiada” e “garimpo artesanal”, sentindo-se validados, os infratores ambientais seguem cada vez menos amedrontados. Em janeiro deste ano (2022), o pescador “Zé do Lago”; a esposa Márcia Nunes e a filha Joane, de 14 anos, faziam soltura de quelônios quando foram surpreendidos e brutalmente assassinados em São Félix do Xingu, no Pará.

O ano de 2020 foi um dos mais perigosos para defensores da terra e do meio ambiente no mundo, de acordo com a organização Global Witness - que coleta dados sobre assassinatos desde 2012. O relatório “A última linha de defesa” apontou que mais de 200 defensores foram atacados por combater indústrias que causam as mudanças climáticas.

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É dentro dessa temática que entra o acordo de Escazú:

O Acordo de Escazú quer garantir a implementação dos direitos de acesso à informação, à participação e à justiça em questões ambientais, bem como promover a proteção de defensoras/es, a cooperação e o fortalecimento das capacidades dos países e da sociedade civil da região. O acordo possui 26 artigos que podem ser divididos em três blocos: O primeiro bloco, do artigo 1 ao 4, apresenta o objetivo, os princípios, as diretrizes e as disposições gerais nos quais o acordo se baseia. O segundo bloco, do artigo 5 ao 9, trata diretamente do acesso à informação (artigos 5 e 6), à participação (artigo 7) e à justiça (artigo 8), bem como sobre a proteção de defensoras/es ambientais.

Sendo o 4º país mais letal para ambientalistas no mundo e o 3º na América Latina, segundo levantamento da Global Witness, o Brasil segue não ratificando o acordo que é tão importante para a segurança de diversas lideranças de defesa do meio ambiente. 

No Brasil, já foram registrados 20 assassinatos, com significativa concentração na Amazônia. Segundo a Humans Rights Watch, essa violência está diretamente relacionada à impunidade e a crimes de extração ilegal de madeira que intensificam o desmatamento na região.

A ratificação do Acordo de Escazú tem o potencial de dar um impulso na governança e na democracia ambiental do Brasil. 

Apesar do País contar com uma legislação avançada e com boas práticas, ainda existe uma série de limitações para a garantia efetiva dos direitos de acesso à informação, à participação e à justiça e para a proteção de defensoras/es ambientais.

 Além disso, a ratificação do acordo seria uma mensagem do País para seus cidadãos e cidadãs e para o mundo de que ele pretende promover uma mudança de rumo em relação aos recentes retrocessos nas políticas ambientais, entre os quais se destacam a diminuição dos espaços de participação, o aumento da opacidade de informações públicas em questões ambientais e o acirramento dos conflitos socioambientais, com consequências para toda a sociedade, mas especialmente para os grupos em situação de vulnerabilidade. Ao fortalecer a governança e a democracia ambiental, o acordo também trará contribuições significativas para a prevenção e o combate ao crime e à corrupção em questões ambientais, desafios centrais para a implementação de políticas e ações que coloquem o País no rumo da sustentabilidade socioambiental.

O Brasil é 4º país mais letal para ambientalistas no mundo e o 3º na América Latina segundo um levantamento da Global Witness, minha avó é da região do Xingú, eu sou ambientalista e brasileira, o assassinato de uma família de ambientalistas inteira deveria ser notícia no mundo todo, principalmente para que nossos governantes tomem frente visto que a cláusula que exige a proteção dos ambientalistas no acordo de Escazú esteve a ponto de não ser incluída, devido à reticência de alguns países. Mas a indignação causada pelo assassinato de Berta Cáceres em Honduras resultou na pressão necessária para que o artigo fosse incorporado. Assim como o assassinato da família de ambientalistas no Brasil tem potencial para o mesmo ou maior impacto, para que não passe em branco e que a luta deles não seja, em momento algum, em vão.

*Ana Carolina Beauvoir é estudante de jornalismo, militante ambiental, fotojornalista, documentarista ambiental e colaboradora da REVISTA CENARIUM.

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