Cineastas acreditam em novos tempos para o audiovisual na região da Amazônia

Para produtores e diretores, o audiovisual na Amazônia pode ganhar impulso a partir dos posicionamentos políticos e ambientais voltados para a maior floresta do mundo (Reprodução/AldeiaSP)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Duramente atacado nos últimos quatros anos de Governo Bolsonaro, o audiovisual brasileiro sobreviveu a Frias e Porciúnculas, homens que Jair Bolsonaro escalou na cultura para confrontar a sétima arte produzida no Brasil. Com a volta de Lula ao Planalto Central, o audiovisual tupiniquim se prepara para novos tempos. A CENARIUM entrevistou cineastas para saber o que se espera do novo governo para diretores, coletivos, roteiristas e produtores da Amazônia.

Após a queda brusca nas produções amazônicas, classe acredita que o panorama pode mudar com a chegada do novo governo (Reprodução/Internet)

Para o cineasta Z Leão “foram dias de total desleixo…”. “O enfraquecimento das políticas públicas para o audiovisual foi um clássico desse governo. Logo de cara, já passou por um desprezo angustiante com o fim do Ministério da Cultura, em seguida, um cultuador do nazismo como chefe da pasta da cultura e, logo depois, mais um golpe brutal com a indicação de um ator de segunda categoria para pôr em prática a política da anticultura. E sem deixar de citar a pandemia como uma bela desculpa. O audiovisual, pode-se dizer, passou quatro anos à míngua”, criticou.

O cineasta amazonense espera um novo momento para o audiovisual brasileiro. “Se tem uma coisa que esse governo eleito gosta de promover é a cultura. Com o anúncio da recriação do Ministério da Cultura e, de imediato, a liberação dos recursos das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc que estavam vetadas pelo atual governo, podemos vislumbrar uma retomada do audiovisual brasileiro. Nesses últimos quatro anos, não ocorreram os editais federais para o audiovisual, e isso deu um bom atraso nos processos de produções audiovisuais dos futuros cineastas”, apostou Z Leão.

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Desmonte

Outro que também corrobora o pensamento de Z Leão é o cineasta Sérgio Andrade. Para o diretor de “A Floresta de Jonathas”, “A Terra Negra dos Kawa” e “Antes o Tempo Não Acabava”, o Brasil se tornou hostil para o audiovisual. “Houve, nitidamente, um desmonte, que começou com a extinção da secretaria do audiovisual e do Ministério da Cultura, houve também um esfacelamento ideológico e uma estigmatização negativa da nossa atividade”, lamentou Sérgio Andrade.

Novas perspectivas marcam a retomada do audiovisual na Região Amazônica, cuja produção, ainda que diminuta, se manteve nos últimos quatro anos (Reprodução/Internet)

Para o diretor, o novo governo tem a missão de recolocar o audiovisual nos trilhos. “O novo governo deve promover a retomada de incentivos e estímulos que compreendem a indústria do audiovisual como potente agente de mercado e mão de obra”, avaliou. Para Sérgio Andrade, o contexto político-ambiental pode favorecer a produção na Região Amazônica. “Acho que o meio ambiente e os conceitos climáticos devem alavancar, fortemente, os anos vindouros, mas é preciso remontar primeiro o que foi desmontado”, observou.

Mas, nem tudo passa, somente, por recursos ou viabilidades financeiras. A produção audiovisual depende, também, de outras iniciativas. Leis, propostas e projetos devem fazer parte da realidade de quem faz a engrenagem girar. “O custeio e as leis de cultura são fundamentais, porque acabam por indicar uma continuidade, e tornam leis perenes uma atividade tão progressista que, muitas vezes, é descontinuada”, apontou Sérgio Andrade.

Lei

Demonizada e taxada de “mamata”, a Lei Rouanet é uma das plataformas que podem ajudar a reconstruir o setor. Mas, Z Leão não nutre otimismo. “O passar dos anos deixou claro que a Lei Rouanet não vai dar muita importância para o audiovisual, na Amazônia. Roraima, Rondônia, Acre, Amapá, Amazonas podem esquecer os benefícios dessa lei. O Pará ainda consegue alguns projetos financiados por ela. As empresas que poderiam nos ajudar, por meio dessa lei, já deixaram claro que preferem investir nos artistas dos grandes centros de cultura do Brasil”, sentenciou.

No set de gravação, os paraenses João Albuquerque, o coprodutor Yuri Rodrigues e Átila Pereira, da Dzawi Filmes, fazendo os registros do curta-metragem “Kumarú…” (Divulgação)

Já Sérgio Andrade vê com outros olhos. “A Lei Rouanet é uma lei para beneficiar patrocinadores e empresas e tem dispositivos muito interessantes, no entanto, precisa ser reformulada e se inserir na população. As pessoas fazem muita confusão e se alimentam de desinformação. Sabia que a Lei Rouanet não é voltada para o audiovisual? Somente para uma pequena parcela. Para o audiovisual, temos outras leis e fundos que, igualmente, precisam ser preservados e implementados”, finalizou.

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