Com apenas uma mulher eleita, região Norte encerra ciclo de participação feminina nas eleições 2020

Prefeita eleita em Palmas (TO), Cinthia Ribeiro (PSDB). ( Edu Fortes/Reprodução)

Victória Sales – Da Revista Cenarium

MANAUS – Apesar de vivenciar um avanço de 40% em candidaturas de prefeitas na região Norte, o número ainda deixa a desejar para representar do percentual de mulheres habitantes na região. Nas eleições deste ano, das sete capitais da região Norte, somente Palmas (TO) elegeu uma mulher como prefeita.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam que na região Norte, dos 77 candidatos às prefeituras municipais, somente sete eram mulheres. Em Manaus e Belém não houve nenhuma representação feminina para a prefeitura durante as eleições deste ano. Em comparação a 2016, o percentual cresceu 40%, mas o total eram 55 candidatos à prefeitura, sendo cinco mulheres.

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De acordo com a Doutora em Ciências Sociais e Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/São Paulo), Iraildes Caldas, muitas mulheres ainda encontram dificuldades de ocupar cargos de poder e isso acontece também devido à exclusão histórica das mulheres na política, como o voto conquistado em 1932 e incorporado à Constituição de 1934.

“A história tem mostrado que a conduta das mulheres são mais perto da moral e da ética do que os homens. Tem mostrado que elas estão mais preocupadas com a população do que os homens, especialmente no que diz respeito às políticas públicas e ao cuidado com as minorias sociais. Por isso, elas amedrontam os homens que se veem ameaçados de elas tirarem suas vagas na política”, destaca Iraildes.

Única prefeita

Cinthia Ribeiro (PSDB) foi eleita com 36,24% dos votos válidos e é a unica representante das mulheres nas capitais brasileiras e na região Norte. “Durante toda a campanha, o que eu ouvia eram discussões sobre a cor do cabelo da prefeita, o noivo da prefeita, onde ela come e o que ela faz. Nunca qual era meu melhor plano de governo”, disse a prefeita para o Portal Uol.

Cinthia acredita que seja as cotas que reservam 30% das candidaturas e do fundo partidário às mulheres é um grande avanço, mas destaca que ainda não é suficiente. “Quando se tem uma mulher votando as leis e o orçamento, elaborando leis, é claro que ela vai dar um recorte diferente para tudo”, destaca Ribeiro para o Portal Uol.

Formação partidária

Para a Jornalista e Mestra em Ciências Políticas, Liege Albuquerque, esse simbolismo é do enraizamento do machismo que tem no nosso país, e faz com que a mulher tenha medo de entrar na política. “O grande problema é o fato dos partidos não se importarem com a formação política das mulheres. É necessário que haja curso de ciência política, de formar essas mulheres dentro dos partidos, para que elas comecem a se interessar e a entender como funciona”, destacou.

Segundo dados do Inter-Parliamentary Union (IPU), uma das organizações líderes para empoderamento das mulheres, em 2020, o Brasil é um dos piores países de representatividade feminina.  Isso indica que além de estarmos atrás de muitos países em relação à representatividade feminina, poucos avanços têm se apresentado nas últimas décadas.

Candidaturas Laranja

Candidaturas “laranjas” são aquelas em que uma mulher assume uma função ou responsabilidade formal de registro de candidatura, mas não assume a campanha. Ou seja, a candidata “laranja” dos partidos apenas cede apenas o nome para cumprir a obrigatoriedade eleitoral.

Das 173 mil mulheres aptas a disputar o cargo de vereador em 2020, apenas 6.372 tiveram um ou nenhum voto, segundo levantamento do Estadão. A ausência de votos e o fato de nem a candidata ter votado nela mesma provocaram suspeitas de que essas mulheres tenham sido usadas como “laranjas” de candidaturas femininas. Parte delas recebeu R$ 877 mil do fundo eleitoral, dinheiro público usado para financiar gastos de campanha.

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