Início » Poder » Commodity amazônica: Congresso ensaia aprovar mercado de carbono no primeiro semestre
Commodity amazônica: Congresso ensaia aprovar mercado de carbono no primeiro semestre
Cenário do mercado de crédito de carbono representado por cédulas de dinheiro e chaminés de usina em atividade (Montagem: Thiago Alencar/Revista Cenarium Amazônia)
Compartilhe:
29 de dezembro de 2023
Valéria Costa – Da Revista Cenarium Amazônia
BRASÍLIA (DF) – O Brasil inicia 2024 com uma grande responsabilidade ambiental: posicionar-se no cenário internacional do mercado de crédito de carbono. O primeiro passo foi dado para enfrentar resistências em relação a esse novo ativo que pode potencializar o Tesouro Nacional: a aprovação de um Projeto de Lei (PL) na Câmara dos Deputados no fim deste ano.
A matéria vai ser analisada, agora, no Senado, e a aposta é que a proposta seja votada ainda no primeiro semestre de 2024 e complete propostas de lei que o Congresso Nacional vem aprovando dentro da chamada “pauta verde”.
O texto aprovado na Câmara reúne vários projetos de lei que abordavam o tema e que tramitavam há quase dez anos na Casa legislativa. Um destes projetos é o do ex-deputado federal Marcelo Ramos (PSD), que usou suas redes sociais para comemorar o avanço do debate.
PUBLICIDADE
A edição impressa da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, publicada em junho de 2023, mostrou o potencial econômico do mercado de carbono para a população que vive no interior. Levantou o debate sobre a ausência de legislação para destravar investimentos e alertou sobre uma “pedalada verde” que considera biocombustíveis e hidroelétricas no cálculo da iniciativa.
O mercado de carbono foi criado para forçar as economias a reduzirem as emissões de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), que são responsáveis pelo aquecimento da terra e impulsionam a atual crise climática marcada por eventos extremos de calor, chuvas e secas.
Órgão regulador
Para que este mercado seja regulado e funcione, de fato, o projeto cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), órgão que vai ser o responsável por concretizar e viabilizar toda essa transação comercial, mas com grande apelo ambiental.
Para o advogado especialista em Direito Ambiental e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), João Daniel Macedo Sá, esse mercado é uma “construção inevitável” por conta da necessidade de se regulamentar atividades que são geradoras de emissões de gases. “Neste momento, ele é muito positivo, pois demonstra uma vontade do País em avançar numa pauta que é espinhosa e delicada”, diz o especialista.
Nesse primeiro momento, a proposta alcança atividades empresariais e industriais que emitem mais de 10 mil toneladas de carbono por ano. Macedo lamenta, no entanto, que a atividade agropecuária ficou de fora do projeto de lei, como uma obrigatoriedade, após forte pressão da bancada ruralista da Câmara dos Deputados.
“Não se levou em conta qual é o volume de emissões que são geradas pela atividade. Se isso fosse colocado no papel, a gente sabe que é o maior emissor do País em termos quantitativos. Ficou de fora no sentido de ser obrigatória. Significa que, se passar dessa forma o projeto, a gente não vai ter obrigatoriedade, nem implementação de multa, de instrumentos de comando e controle”, explicou Macedo sobre a atividade agropecuária.
Amazônia
João Daniel Macedo ressalta a grande importância que o mercado de crédito de carbono terá para a Amazônia, principalmente, pela existência de matrizes econômicas ligadas a polos industriais de desenvolvimento e também a atividade rural. “Grande parte da região amazônica tem essa pressão, ainda, pelas atividades rurais”, destaca.
O especialista também chama a atenção ao protagonismo que os Estados da Amazônia poderão ter com o crédito de carbono. Na discussão do texto, os governadores da região pressionaram o relator da proposta, o deputado federal Aliel Machado (PV-PR), para que estes entes federativos possam desenvolver créditos de carbono em seu território a partir de uma quantificação do desmatamento que é evitado. “Isso está muito ligado à questão do RED, uma das variáveis que se leva em consideração no mercado voluntário hoje”, acrescenta o advogado.
João Macedo destaca que o Estado do Pará, por exemplo, está com um mercado em franca construção, com atos normativos baixados pelo poder público, com o objetivo de organizar uma legislação de olho na COP30, que acontece na capital paraense, Belém, em 2025.
Regulamentação
Líder da bancada federal do Amazonas no Congresso Nacional, o senador Omar Aziz (PSD) adiantou à REVISTA CENARIUM que vai votar a favor da matéria no Senado porque, na sua avaliação, é um importante instrumento de proteção da floresta amazônica e uma alternativa econômica para o Estado.
“A nossa floresta, principalmente no Amazonas, é a maior floresta tropical nativa do Planeta e a regulamentação do mercado de carbono permite gerar riqueza, trazer dinheiro, porque há uma capacidade da nossa floresta de sequestrar carbono da atmosfera e combater pobreza das populações tradicionais”, disse o parlamentar.
Mudanças climáticas
Com voto favorável à matéria, o deputado federal Airton Faleiro (PT-PA) disse à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA que a tendência é que esse debate ganhe corpo e a cobrança pela responsabilidade frente às mudanças climáticas também.
Ele afirma que o mundo tem que ter compreensão de que o Brasil e a Amazônia, especificamente, estão dispostos a cumprir a meta de desmatamento zero que impacta na mudança do clima e na responsabilidade social com os povos tradicionais, povos indígenas, quilombolas, extrativistas e agricultores familiares que preservam o meio ambiente.
“Temos que ter mais investimentos além do que temos hoje, no Fundo Amazônia, para ajudar a cuidar desse equilíbrio climático, seja ambiental ou social. Então, a regulamentação do mercado de carbono é muito importante tanto do ponto de vista de você estabelecer as regras do jogo, quanto para a iniciativa privada, como as regras jurisdicionais dos Estados, como também esse mercado livre; e, na nossa opinião, essa regulamentação vai facilitar, inclusive, investimentos em processos de reflorestamento, com a arrecadação, e também onde essas populações preservam a natureza, o meio ambiente, elas sejam contempladas com recursos”, disse o parlamentar.
Mercado de fato
O especialista ambiental João Daniel Macedo ressalta que, quando se cria um mercado se cria limites e, com isso, a necessidade de novas tecnologias e estratégias para a redução de emissões de gases na atmosfera. “Essa é a ideia do mercado: é forçar esse avanço”, destaca.
Segundo ele, a partir do momento que for estabelecido um mercado regulado de crédito de carbono, isso vai entrar na contabilidade das empresas, passa a gerar números, custos e lucros dentro de uma dinâmica de contabilidade.
“Então, aqueles que tiverem investimentos e condições de fazer essa mudança de matriz para reduzir emissões vão se beneficiar a partir de tecnologias e da implementação de novos mecanismos que forçam a redução. Aqueles que não tiverem condições técnicas ou investimentos em tecnologia, para que isso aconteça, vão ficar para trás”, analisa.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.