‘Crespo deve ser exaltado’: mulheres negras apoiam fala de Ludmilla no BBB

A declaração de Ludmilla virou um dos principais assuntos nas redes sociais na noite de sábado (Reprodução/Instagram)

Com informações do Site UOL

RIO DE JANEIRO – A apresentação de Ludmilla na festa do BBB 21 neste sábado, 3, não foi apenas uma atração musical para entreter os confinados e o público, mas também um recado a quem ainda não respeita as diferenças entre as pessoas e faz comentários racistas.

A funkeira se apresentou no mesmo dia em que João Luiz ouviu o sertanejo Rodolffo comparar a peruca de homem das cavernas da fantasia do castigo de monstro com o cabelo do professor. João ficou triste e incomodado com o comentário de Rodolffo e chorou para a amiga Camilla de Lucas.

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Logo após a primeira música, Ludmilla disse: “Respeita o nosso funk, respeita a nossa cor, respeita o nosso cabelo!”, demonstrando apoio a João e mandando um recado aos racistas. A declaração de Ludmilla virou um dos principais assuntos nas redes sociais na noite de sábado e, no reality, emocionou Camilla de Lucas e João, que vibraram com o posicionamento da cantora.

Preconceito

Ludmilla, assim como várias mulheres negras, já foi alvo de comentários racistas sobre seu cabelo. Ela chegou a processar a socialite Val Marchiori por ter comparado seu cabelo a uma palha de aço. Por estar usando na apresentação uma lace lisa, um acessório parecido com peruca, a cantora foi criticada nas redes por seu posicionamento.

“O fato de eu estar usando lace lisa não anula as minhas raízes, meu cabelo é crespo e meu local de fala sobre o racismo que eu sofro continua. Não sejam ignorantes”, postou a cantora em seu Instagram.

Sua namorada, a dançarina Brunna Gonçalves, contou que para a apresentação no BBB decidiu não usar lace e ir com os cabelos cacheados, também em apoio a João. “Quando eu venci a transição, e finalmente comecei a me encontrar e me sentir bonita com o meu cabelo, nós já estávamos na pandemia e não tínhamos show para fazer”, explicou em uma publicação no Instagram.

“Poder representar em rede nacional o João, a Camilla e milhares de pessoas que tem seus cabelos zoados ou comparados a algo “engraçado” todos os dias, foi incrível!”.

Fora da casa, a experiência vivida por João e a mensagem de Ludmilla, que se vê como inspiração para outras pessoas negras, como contou em entrevista para Universa, repercutiram com mulheres negras que já tiveram a autoestima abalada com comentários como o de Rodolffo.

Para muitas, assumir os cabelos naturais e ter uma relação melhor com eles, inclusive com a liberdade de mudar a aparência colocando laces ou fazendo tranças, é um caminho cheio de obstáculos e doloroso. A seguir, três mulheres contam para Universa como a valorização do cabelo afro mudou a forma como elas se veem.

Kamilla Albino: “Eu usei minha liberdade para viver e exaltar meu crespo” (Reprodução/Instagram)

“O autoamor dentro da comunidade preta é revolucionário”

“Ter os cabelos naturais, para mim, representa conquista! Nós, pessoas pretas, passamos muito tempo nos odiando, por conta do racismo. É por isso que o autoamor dentro da da comunidade preta é tão revolucionário. Quando passei a usar meu cabelo natural, situações desconfortáveis se tornaram frequentes.

Além dos olhares e dos comentários preconceituosos, sofri exclusão e comparações pejorativas, como o João ouviu no BBB nesses últimos dias… Passei por muitas situações de racismo, como tocar no cabelo sem permissão. A sociedade nos objetifica demais e isso é uma forma de desumanizar. Não se toca na parte do corpo de alguém sem permissão, por exemplo. E, mesmo quando pedem, é descoconheço. Mas ela é livre para usar o cabelo que quiser.

Eu usei minha liberdade para viver e exaltar meu crespo. É isso não quer dizer que ela não o faça. Fora que, como alguém que incentiva as pessoas pretas a usarem seu cabelo natural, devo lembrar que não apoio nenhuma ditadura quanto a isso.

E achar que uma pessoa preta deve usar o cabelo crespo é, sim, querer ditar como ela deve viver. Kamilla Albino, 30 anos, é produtora de conteúdo para redes sociais e ficou conhecida no mundo por ter um vídeo sobre cabelos compartilhado pela atriz Viola Davis.

“Sociedade impõe o modelo do cabelo liso; para eles, o ‘black’ é estranho”

“Embora eu tenha crescido em um lar em que fui muito fortalecida também em relação ao meu cabelo, não só à minha pele e aos meus traços, para mim era mais difícil enxergar a possibilidade do cabelo natural. Eu tive o cabelo alisado por muito tempo e depois passei a trançar. Era a ação do racismo estrutural mesmo, da sociedade que impõe para nós esse modelo de cabelo liso e que o cabelo natural dos negros, o black power, é estranho”, diz Mariana Luz, 37 anos, é psicóloga clínica e passou pela transição há quase dois anos.

Ela completa. “Eu achava bonito nos outros, mas falava que eu precisava de coragem. Olha que bizarro, né? Precisar de coragem para ter o seu cabelo do jeito que ele é. Na minha família, nunca disseram que o cabelo era “ruim”. Mas tinha piadas. E quando eu era menor, tinha a questão do cabelo liso ser o que parecia estar mais arrumado. Quando ele estava trançado, várias pessoas me perguntavam como eu lavava os fios, encostavam nele sem pedir ou faziam elogios como ‘Nossa, eu adoro cabelo trançado dos negros, é tão exótico’. Para mim, deixar os cabelos naturais foi um processo de liberdade”, revela a psicóloga. Leia a matéria completa no site da UOL.

Psicóloga revela que racismo a impediu de voltar a usar os cabelos naturais por muitos anos (Reprodução/Instagram)
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