Crime ambiental: moradores flagram derramamento de óleo no Igarapé do 40 em Manaus

Óleo ficou escorrendo pelo leito do igarapé por quase 20 horas, segundo moradores da localidade (Reprodução)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um derramamento de óleo foi flagrado na manhã desta quarta-feira, 6, por moradores do Igarapé do 40, no bairro Japiim, Zona Sul de Manaus. Segundo os populares, o material dispersado irregularmente começou a ser percebido na noite dessa terça-feira, 5, devido ao forte odor.

De acordo com a Lei de Crimes Ambientais nº. 9.605/98, “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora”. Além disto, a Justiça prevê aplicação de multa e pena de um a quatro anos de prisão.

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Localizado em uma área de mata, o igarapé atravessa a Zona Sul da cidade e deságua no rio Negro. A região afetada pelo derramamento fica próxima de área residencial e das indústrias do Distrito Industrial, principal polo econômico do Amazonas e onde estão as maiores empresas do Estado.

Com medo de represálias, os moradores que relataram o caso preferiram não se identificar, mas afirmaram que o derramamento vem ocorrendo desde essa terça. “Isso é um crime sem precedentes. Um absurdo”, salientou um morador.

A REVISTA CENARIUM entrou em contato com a Prefeitura de Manaus para obter mais informações da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Forte odor

O derramamento do material ocasionou em um forte odor de óleo, que foi sentido pelos moradores da localidade e pelo jornalista Pedro Braga Jr., do Portal do Holanda.

A indicação dos populares é de que o vazamento tenha se originado em uma loja de serviço, próxima a um ponto de táxi. Em um vídeo, é possível observar a grande quantidade de óleo, em meio à densa água de barragem do igarapé.

Contaminação

Para especialistas, o derramamento de óleo é uma das ameaças mais graves à Amazônia e a todo o meio ambiente, uma vez que este tipo de poluição é de difícil reversão e ainda pode afetar a sobrevivência de animais e plantas e com uma contaminação sistêmica, acaba comprometendo o abastecimento de água para uso humano e em cultivos.

Segundo o ambientalista da Associação Conservação da Vida Silvestre, Carlos Durigan, o igarapé do 40 já é um local poluído, mas com este aporte de óleo derivado de petróleo, a situação deve piorar.

“Derramamentos de óleos ou combustíveis geram impactos gravíssimos sobre as águas e sobre a biodiversidade aquática, e consequentemente sobre as pessoas que utilizam estes recursos. Num primeiro momento, o óleo impacta sobre os organismos que entrarem em contato inicial, que morrem intoxicados”, salientou Durigan.

O ambientalista salientou a poluição gerada pelo o vazamento de óleo ou combustíveis é dificilmente é revertido, pois gera também um impacto sistêmico por metais pesados e outros compostos tóxicos que existem nos derivados de petróleo.

“Com as chuvas e a correnteza, estes agentes tóxicos tendem a se espalhar e seguir ao rio Negro e Amazonas, onde em sua confluência existe uma captação de água para consumo humano”, finalizou.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Adalberto Luís Val, explicou que parte do petróleo é solúvel em água e imperceptível, no entanto, apresenta toxicidade, podendo causar tumores nos peixes. Segundo ele, a parte sólida, que fica na superfície da água, é preocupante para algumas espécies típicas da região.

À Agência Brasil, Adalberto Luís Val esclareceu que a água contaminada por petróleo contém compostos tóxicos que são, altamente, prejudiciais. “Ainda mais se eles [óleo] estiveram internalizados pelos peixes e estiverem presentes na musculatura dos animais prejudicam os consumidores de peixes. Ou se os compostos estiverem dissolvidos na água em níveis significativos, a água se torna inapropriada para consumo humano”, alertou Val.

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