Depoimento em CPI reforça que ‘Capitã Cloroquina’ mobilizou tratamento precoce em Manaus

Medicamentos que são receitados no "Kit Covid" e que não têm eficácia comprovada ( Dirceu Portugal/Fotoarena / Agência O Globo)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, foi a Manaus, em janeiro, em comitiva para implantar a prescrição do “tratamento precoce” contra Covid-19 na rede de atenção primária de Saúde. A informação foi confirmada durante depoimento do ex-secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, nesta terça-feira, 15.

De acordo com o ex-titular da Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), Mayra Pinheiro deu “ênfase” à importância de prescrever medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 nas unidades de saúde municipais do Estado, assim como sobre o aplicativo TrateCov, desenvolvido pelo Ministério de Saúde e que serviria para diagnosticar a Covid-19.

“Ela tinha uma opinião da questão do tratamento precoce, falava dos medicamentos para esse tratamento, inclusive dizendo que havia 150 teses a respeito desse tema. Na verdade ela recomendou que adotasse essa sistemática que ela ainda iria trabalhar principalmente na atenção primária. Isso era para o primeiro contato com o paciente, no caso no interior, nos municípios”, detalhou Campêlo.

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Sobre a apresentação do aplicativo TrateCov em Manaus, Campêlo pontuou que o sistema foi uma das pautas de um evento realizado na capital amazonense no dia 11 de janeiro, com a presença inclusive do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que coordenava o Ministério à época. “O evento que participei foi no dia 11, com o Pazuello, onde apresentaram painéis sobre o TrateCov. O evento teve várias pautas, nesse momento foi apresentado o TrateCov”, disse.

Imunidade de rebanho

Ainda na sessão desta terça-feira, os senadores questionaram Marcellus sobre a possibilidade do Governo do Amazonas trabalhar com a tese da Imunidade de Rebanho – que consiste em atingir um ponto em que há uma quantidade suficiente de pessoas imunes ao vírus, interrompendo a transmissão comunitária – o que foi refutado pelo ex-secretário.

“Eu não acredito nessa tese da imunidade de rebanho, não participei de nenhuma reunião que abordasse esse assunto dentro do governo ou mesmo com o governo federal. Essa tese nunca foi veiculada em qualquer reunião que eu tenha participado”, pontuou.

Aliança com prefeito

O depoimento do ex-secretário de Saúde reforça a suspeita de que Mayra Pinheiro tinha anuência com o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), para prescrição de medicamentos sem comprovação científica durante a segunda onda da Covid-19 no Amazonas em janeiro.

Em depoimento à CPI da Pandemia, em 25 de maio, a “Capitã Cloroquina” afirmou que, diante do número de mortes pela doença durante a crise de oxigênio em Manaus, era “inadmissível não ter a adoção de todas as medidas”, em referência ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. Mayra Pinheiro ainda confirmou que houve um encontro no dia 4 de janeiro com David Almeida e a secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe.

Pazuello também confirmou que o tratamento precoce estava sendo prescrito nas unidades de saúde da capital amazonense em janeiro. Neste mês, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em uma live, o ex-ministro confirmou que a estratégia estava sendo usada em Manaus. Na transmissão, Bolsonaro questiona “Você entrou com o tratamento precoce em Manaus agora?” e Pazuello responde “Já está funcionando com a nova gestão”, se referindo à administração de David Almeida.

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