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‘Descaso’ com a Amazônia é resultado da invisibilidade histórica, afirmam especialistas
Acre enfrenta cheia dos rios, crise migratória e surto de dengue e Covid-19 (Reprodução/Uol)
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23 de fevereiro de 2021
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS – A região amazônica tem enfrentado, nos últimos 6 meses, períodos de crise de abastecimento de energia elétrica, falta de insumos na área da saúde e até mesmo inundações pela subida das águas de rios da região. O ‘apagão’ no Amapá, a crise do oxigênio no Amazonas e a cheia dos rios no Acre são acontecimentos que explicitam a forma como as crises na Amazônia são encaradas, principalmente pelo governo federal. Para pesquisadores, o descaso com a região é resultado de um longa e histórica invisibilidade.
Segundo a historiadora Karol Jana, o descaso das instituições federais com a região é resultado de um longo processo histórico de marginalização e invisibilidade. “A Região Amazônica é enquadrada como um “vazio demográfico” – uma perspectiva que já foi refutada. Essa invisibilização vem sendo constituída historicamente e é até justificada pelos órgãos governamentais”, criticou Jana.
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Karol aponta condições que levam à construção do discurso da ‘invisibilidade’. “Quando todo o território se une, há muitos interesses em conflitos e é nesse processo que há uma certa marginalização dessas áreas que além de estarem distantes do centro, possuem dinâmicas próprias”, destacou a historiadora.
Karol Jana ainda reiterou que, apesar da região participar ativamente da construção da economia nacional, há uma relação de xenofobia, preconceito e discriminação, principalmente pelo fato de a região ter uma população indígena e negra considerável.
“Apesar de o norte e nordeste serem participantes ativos na formação econômica e social brasileira, com seus contingentes de trabalhadores negros e indígenas em sua maioria, somos enquadrados nessa posição a parte do centro, sendo que na verdade são essas pessoas que efetivamente construíram e constroem este País”, ponderou.
Exploração de riquezas
Apesar da invisibilidade em relação às crises, a região amazônica vira o foco quando o tema são as riquezas naturais. Em 2020, o desmatamento na Amazônia bateu recorde dos últimos dez anos. Em Roraima, a Polícia Federal deflagra constantemente operações para combater o garimpo ilegal na terra dos Yanomami, uma região com grande concentração de minérios, principalmente ouro. Estima-se que há 20 mil garimpeiros explorando a terra indígena.
Para o sociólogo Israel Pinheiro, a exploração da região é resultado do processo de colonização que enxerga a Amazônia como um lugar “sem pessoas” ou com nativos que não têm saberes ou conhecimento suficiente para lidar com as riquezas do local.
“O descaso com a região é estratégico, envolve o avanço da indústria da soja no sul do Pará, o avanço do extrativismo de madeira ilegais no sul da Amazônia. Esse ‘não olhar’ ou ‘não se preocupar’ com a região Norte é na verdade proposital. É para deixar nas mãos de corporações, extrativistas depredadores e todos aqueles que não pensam em uma economia sustentável”, relembrou Israel Pinheiro.
Amazônia pede socorro
Em novembro de 2020, o Amapá enfrentou um blecaute da eletricidade, que demorou três semanas para ser normalizada. A crise mudou a rotina de milhares de amapaenses e causou, direta ou indiretamente, a morte de oito pessoas e uma série de problemas entre os quais o fornecimento de água e telecomunicações, abastecimento de combustíveis e alimentos e outros bens e serviços.
Já no Amazonas, o alto número de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), desde dezembro de 2020, ocasionou a falta de oxigênio em unidades de saúde. O sistema colapsou e muitos pacientes morreram. Segundo documento da Advocacia-Geral da União (AGU), o governo federal sabia do ‘iminente colapso’ da Saúde no Amazonas dez dias antes.
No Acre, atualmente, municípios estão em situação de emergência e calamidade devido à cheia de cinco rios na região, que já deixou mais de 130 mil pessoas desabrigadas. Além da cheia, o Estado ainda enfrenta surto de dengue e covid-19, e também uma crise migratória de imigrantes que tentam sair do País por meio da fronteira com o Peru.
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