EDITORIAL – Mercúrio nos peixes: o homem é o pior inimigo de si mesmo, por Márcia Guimarães

“O homem é o lobo do homem”. A ideia de que o homem é o maior inimigo de si mesmo, tornada célebre pelo filósofo inglês Thomas Hobbes em seu mais famoso livro, “Leviatã”, foi a primeira que me veio à mente ao refletir sobre a reportagem de capa desta edição. Pedindo licença ao filósofo para uma interpretação um pouco diferente da dele, entendo que todo o mal que causamos ao meio ambiente retorna para nós como ameaça a nossa vida. E, assim, estamos nos matando aos poucos.

Quando o filósofo associou o homem ao lobo, animal que, para ele, era a ideia de um predador feroz e perigoso, quis dizer que essa ideia de agressividade, de violência, é algo que o ser humano pode cometer contra si mesmo, ou aos outros indivíduos ao seu redor.

Traçando um paralelo com a nossa reportagem de capa, temos o homem lançando mercúrio indiscriminadamente no meio ambiente para saciar sua ânsia por ouro e riqueza, e jogando plástico em rios e mares quando este não serve mais às suas atividades comerciais. Tanto o mercúrio, quanto o plástico acabam indo para os peixes dos quais nos alimentamos. Assim, lenta e silenciosamente, estamos nos envenenando.

PUBLICIDADE

Para Hobbes, precisamos de um contrato social para domar nossa bestialidade por meio de leis regidas por um Estado. Nocaso dos crimes ambientais que causam a contaminação por mercúrio e microplásticos, temos leis, mas nem isso impede. O resultado está demonstrado em pesquisas recentes de universidades e instituições, como a Fiocruz. Sobre o mercúrio, não é de hoje que está comprovada a contaminação dos rios da Amazônia e dos peixes da região, assim como os males desse envenenamento causado no corpo humano. A novidade é que, agora, sabemos que a intoxicação não se restringe às populações vizinhas aos garimpos ilegais. Os peixes contaminados foram identificados em feiras e mercados de grandes centros urbanos amazônicos e com altos níveis de contaminação.

Sobre os microplásticos, as pesquisas começaram há menos tempo e ainda não se sabe com exatidão a gravidade dos prejuízos a nossa saúde. De certo, é que estão presentes em peixes vendidos em mercados nas cidades, ou seja, estão sendo consumidos.

Somos mesmo nossos piores inimigos. E como tais, será que ainda há tempo de conseguirmos nos salvar de nós mesmos?

O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA do mês de dezembro de 2023. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

(Reprodução)
PUBLICIDADE
(*)Márcia Guimarães é jornalista, gestora de conteúdo da Revista Cenarium Amazônia, versão impressa e digital.

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.