Eleição do Sinjor-PA é marcada por acusações de irregularidade e apoio de patrões à oposição

Vito Gemaque, da chapa 2, à esquerda; Evandro Correa, da chapa 1, à direita (Reprodução/Fenaj e Advaldo Nobre)
Ana Pastana -Da Revista Cenarium Amazônia

BELÉM (PA) – A eleição para a mesa diretora do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA), no dia 20 de novembro, está sendo disputada por dois grupos que, nas últimas semanas, vêm trocando acusações de irregularidades. Além disso, o processo eleitoral também está sendo marcado pelo apoio de patrões de grandes veículos do Estado à chapa de oposição contrária à atual presidência.

A atual direção do Sinjor-PA, da chapa 2 “Sempre na Luta“, tem como candidato à reeleição o presidente Vito Gemaque. Do outro lado, está Evandro Corrêa, candidato à presidência pela chapa 1, a “Renova Sinjor“.

Logo no início do processo eleitoral, a chapa 1 teve candidaturas indeferidas por apresentar discordâncias com o artigo 37 do Estatuto do sindicato, que impossibilita que pessoas que atuem na condição de empresário ou administrador de empresas atuem nos cargos sindicais, fato comprovado pela comissão eleitoral da entidade. Vito Gemaque conta que, desde então, representantes da Renova Sinjor atacam a comissão e o processo eleitoral.

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Vito Gemaque, atual presidente do Sinjor, conta que está sendo caluniado pela chapa 1 (Reprodução/Sinjor)

Já chegaram a expor até meu salário na Prefeitura de Belém, onde sou assessor de imprensa. Pegaram um mês que recebi um pouco a mais e falaram como se eu recebesse um salário alto e, por isso, não era digno de representar os trabalhadores. Mas, na verdade, foi um mês atípico em que fiz algumas viagens a trabalho e recebi diárias, que fez complementar a minha renda. Além disso, eu também sou repórter e vivo a realidade de muitos da nossa classe, que precisam trabalhar em dois empregos para se sustentar, isso não surpreende quem conhece a realidade dos jornalistas“, diz Gemaque.

Chapa 1 é acusada de ser patronal

A chapa “Sempre na Luta” também acusa a chapa “Renova Sinjor” de ser aliada aos patrões de grandes veículos de comunicação do Estado. “O Evandro Corrêa tem se reunido com o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado do Pará, o Sertep; além de se encontrar com presidentes e diretores dos veículos, conforme vários jornalistas que trabalham em redação nos relataram. Foi após esses encontros que matérias contra a presidência do Sinjor passaram a ser publicadas, explicitando o apoio dos empresários à chapa 1“, revela o presidente.

De acordo com Vito, o Sinjor jamais foi notícia nos veículos de comunicação e, agora, passou a ser com matérias caluniosas. “Nossas atividades de interesse público nunca foram pautadas, mas em pleno processo eleitoral, agora, somos notícias, nossos salários são publicados e ataques são propagados. Qual o interesse em manchar a imagem da chapa 2? Por que promover a chapa 1?“, questiona Gemaque.

Evandro Corrêa se defende e diz que as publicações não são acordos e, sequer, tem dialogado com empresários, mas comenta que, caso ganhe a eleição, vai sentar com empresários para defender os interesses dos jornalistas.

Isso é uma falácia muito grande. A chapa 1, hoje, é composta apenas por trabalhadores, e nossa proposta é trabalhar pela categoria. Por conta da campanha eleitoral, eu já percorri várias redações, mas reunir com diretor e presidente de empresa? Eu não tenho o que tratar com eles agora. Devo ter quando e se ganhar a eleição“, argumenta Corrêa.

Evandro Santos nega que tenha caluniado representantes do Sinjor (Advaldo Nobre/Reprodução)

Contrapondo os argumentos de Vito, Evandro afirma ainda que na chapa 2 consta 10 empresários. “Nós substituímos os candidatos que foram impugnados, mas quando olhamos os componentes da chapa ‘Sempre na Luta’ vimos que vários deles também têm CNPJ. Então, percebemos que são dois pesos, duas medidas. Então, como a comissão não resolveu, isso vai ser resolvido na Justiça. Não sou contra jornalista ser MEI, mas é uma questão estatutária. Se tem CNPJ, não pode concorrer à eleição, e essa é uma discussão que foi criada pela própria comissão“, comenta o candidato da chapa 1.

Sobre isso, o Ministério Público do Trabalho (MPT) informou que foi procurado a fim de prevenir futuras irregularidades nas eleições do Sinjor-PA. “As irregularidades apontadas pela chapa ‘Renova Sinjor’ foram judicializadas na Justiça do Trabalho, não havendo, no momento, investigação em curso no MPT, que está pronto para agir em eventuais ocorrências irregulares envolvendo o processo eleitoral do sindicato“, diz a nota enviada à reportagem da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA.

Apoio de veículos à chapa 1

De acordo com a presidência do Sinjor, mais de 15 matérias caluniosas foram publicadas desde o início do processo eleitoral. Para Vito, o motivo dos ataques são as ações judiciais movidas pela atual gestão do sindicato às empresas.

Os veículos estão nos atacando porque, além da nossa luta por melhores salários e condições de trabalho, recentemente entramos com mais de 20 ações trabalhistas individuais e coletivas. No total, hoje, o Sinjor está cobrando mais de R$ 3 milhões dessas empresas por direitos que não foram pagos aos jornalistas. Então, essa é a raiva deles. Antes, eles não eram cobrados pelo sindicato, mas agora são e respondem na Justiça“, destaca Gemaque.

No último fim de semana, portais de notícia publicaram uma acusação de racismo contra Gemaque e a tesoureira do Sinjor, a jornalista Carol Bombo. As matérias foram baseadas em uma nota de repúdio da Associação Internacional dos Jornalistas da Amazônia (Aijam).

Vito afirma que a acusação é falsa e, por isso, registrou um Boletim de Ocorrência (BO) na tarde de segunda-feira, 6, na Delegacia da Polícia Civil do Pará.

Eles publicam sem sequer nos ouvir. Quando pedem nota, é sempre em cima da hora, não dá tempo da gente se pronunciar. Eles dão total espaço para a chapa opositora. E a gente sabe como esses veículos trabalham na destruição de reputação das pessoas. Já saiu matéria dizendo que eu roubava o sindicato, tudo sem provas“, afirma Vito.

Segundo Evandro, a chapa 1 não tem ligações com as matérias caluniosas. “A gente tem apenas divulgado o nosso trabalho e nossas propostas. Agora, sobre essa acusação de racismo, eu nem estou por dentro do assunto. Eu vi que os portais publicaram, mas não me aprofundei, pois não é da seara da minha chapa“, aponta.

‘Sinjor é do Psol’, diz Evandro

Segundo Evandro, o principal problema da chapa 2 são os trabalhos paralelos dos representantes do Sinjor. Ele afirma que, pelo presidente ser funcionário da Prefeitura de Belém, a gestão municipal, que é do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), tem poder sob o sindicato.

Precisamos acabar com a politização do sindicato. Por que será que o Sinjor não diz uma linha sobre acusações de assédio moral, baixos salários da Prefeitura? Tem muitos jornalistas na Prefeitura, mas por qual motivo isso não é tratado pelo sindicato? A própria presidente da comissão eleitoral também está lotada na Prefeitura. Isso não pode ser coincidência. Quase todos trabalham com o Psol”, reclama Corrêa.

O candidato diz ainda que é a Prefeitura que banca o sindicato. “A gestão do Psol, que mantém hoje o Sinjor, e a gente, quer acabar com isso. Se eles perderem o sindicato, perdem também o emprego da Prefeitura, porque não terá mais valor nenhum para o prefeito ou para determinado grupo político“, declara Evandro.

Sobre isso, Gemaque diz que a Prefeitura ou qualquer outro político nunca teve poder na entidade sindical. “Quem nos acusa tem que provar quando e em qual momento o sindicato foi utilizado para benefício próprio ou da Prefeitura de Belém. De todas as 16 pessoas que compõem a diretoria executiva apenas duas trabalham para a Prefeitura de Belém como assessores. Nunca escondemos isso. Nossos nomes sempre estiveram disponíveis no site da Prefeitura como assessores. Outras duas pessoas são concursadas na Prefeitura de Santarém“, defende o presidente.

É muito lunático acreditar que eu tenho contato do prefeito de Belém e que faço conchavos com ele. Imaginar que o prefeito de uma das maiores capitais do Norte vai ficar preocupado em dar ordens para o Sindicato dos Jornalistas, um sindicato que tem, aproximadamente, 500 associados, é muita loucura. Jamais aceitaríamos isso“, completa Gemaque.

Vito afirma também que, hoje, o Sinjor não tem partido político, mas é politizado por estar aberto a todas as lutas e causas sociais das pessoas que querem melhorar a sociedade. “O que a oposição confunde é que nós temos lado, que é dos trabalhadores, do povo oprimido e explorado brasileiro. Nós não reunimos na surdina com os patrões, sejam eles chefes do governo ou donos de empresas“, argumenta o presidente.

Não divulgamos e não expomos trabalhadores com matérias nos veículos onde essas pessoas trabalham, e nem temos acesso aos patrões para demitir esses trabalhadores que discordam da gente. Sempre estaremos do lado dos trabalhadores. É asqueroso o que está sendo feito contra quem não se dobra aos interesses dos donos do poder e seus representantes” finaliza.

Leia mais: Sindicato de Jornalistas do Pará aponta falsa acusação de racismo em processo eleitoral
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga
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