Em 2023, cresce a produção indígena na literatura brasileira; veja as obras

O autor Daniel Munduruku, da etnia Munduruku da Amazônia, é um dos mais festejados escritores indígenas brasileiros (Reprodução/Luciano Avanço)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – As emergências dos povos originários, o debate sobre as mudanças climáticas, os desafios na Amazônia e as pautas indígenas que dominam boa parte do ambiente político do País estão imprimindo uma busca cada vez maior pelo entendimento do que são e o que representam os povos originários na formação cultural do Brasil. Por entender o contexto, a editora Moderna chancela cinco novos livros de literatura indígena que chegam ao mercado. São obras assinadas por autores nativos, entre eles os escritores: Kaká Werá, Ademario Ribeiro Payayá, Cristino Wapichana, Thiago Hakiy e Daniel Munduruku.

O lançamento dos livros ocorrerá entre o primeiro e o segundo semestre de 2023 e tem início pela obra literária “Apytama – Floresta de histórias”, organizado pelo autor Kaká Werá. O livro traz conceitos e imagens identitárias sobre consciência de pertencimento cultural, cuidado com a natureza e o respeito à memória dos saberes ancestrais. A obra é voltada para o público juvenil, oferece em poemas, ensaio, crônicas e contos uma reflexão sobre a relação entre a natureza e o ser humano.

O escritor Kaká Werá apresenta obra de conscientização, identidade e pertencimento (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Para o segundo semestre estão previstas mais três obras no segmento de literatura infantojuvenil. “Saem do forno”: “A Mãe Terra e o Bem Viver”, de Ademario Payayá, “Terra, Rio e Guerra – a Sina de Um Curumim”, de Cristino Wapichana e “Poemas para Curumins e Cunhantãs”, de Thiago Hakiy. “Na cultura indígena, a oralidade tem uma força muito grande e nós temos conquistado novos espaços, buscando dominar a literatura, a palavra escrita, para compartilhar nossos saberes, nossa cultura com cada vez mais leitores”, destacou Daniel Munduruku. É dele o quinto lançamento da Moderna, chamado “Estações”.

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Para o sociólogo, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antônio, os lançamentos são importantes e ele traça paralelos. “Tem um conteúdo importante nessa iniciativa da Moderna, que é garantir espaços de representação dos povos indígenas como forma de diálogo. Outro ponto importante e necessário é dialogar para dentro, porque tão importante quanto publicar os livros é garantir que esses livros cheguem até as comunidades indígenas, às escolas indígenas, até as escolas abertas, bilíngues, onde se tem população indígena”, observou.

Ele destaca, a nível de contexto, a capital do Amazonas, como local onde ações são necessárias. “Um exemplo é Manaus, que tem uma alta concentração de indígenas urbanizados que precisam se perceber enquanto representatividade e fortalecimento identitário”, ponderou. “É preciso também avançar sobre um debate cada vez mais transversal que a publicação de autoras mulheres e autores geracionais, que são aquelas lideranças e sujeitos sociais indígenas que não dominam a arte da escrita formal. Temos aí uns cem números de homens e mulheres cheios de memórias e não falo só de indígenas, isso vale para todos: mulheres e homens negros, trabalhadores das periferias”, sugeriu.

Obra do escritor Daniel Munduruku, que em breve lançará outro trabalho intitulado ‘Estações’ (Reprodução/Divulgação)

Luiz Antônio chama atenção para o desperdício de conhecimento. “São espaços da literatura que podem ser preenchidos por ‘ghostwriting‘, que são os escritores fantasmas, que são pessoas com habilidade, formação e sensibilidade para captar as milhares de memórias que podem ser tornar coletâneas com milhares de informações desses autores geracionais. Essa prática já é comum no mercado europeu e americano e poderia ser adotada no Brasil porque nós perdemos a cada ano um potencial gigantesco”, apontou o sociólogo.

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