Em depoimento, torcedor que exibiu tatuagem nazista afirma que não sabia o significado do símbolo

Após a repercussão do caso nas redes sociais, os agentes da Polícia Civil localizaram André em sua residência, no Conjunto Ouro Verde, bairro Coroado, e o encaminharam até a delegacia, onde ele declarou não saber o significado do símbolo (Divulgação)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS — Fotografado no último domingo, 17, com símbolo nazista tatuado nas costas, André Lucas Freitas de Souza, 31 anos, foi apresentado nesta quarta-feira, 20, no 5º Distrito Integrado de Polícia (DIP) e prestou esclarecimentos sobre suposta apologia ao nazismo, proibida no Brasil.

Após a repercussão do caso, nas redes sociais, os agentes da Polícia Civil localizaram André em sua residência, no Conjunto Ouro Verde, bairro Coroado, e o encaminharam até a delegacia, onde ele declarou não saber o significado do símbolo.

“Ele alega que quando fez a tatuagem, há dez anos, queria fazer uma águia, olhou no catálogo e escolheu que lhe fosse tatuado aquele desenho”, relatou o delegado Ivo Martins, titular do 5º DIP. André teria começado o trabalho de cobertura da tatuagem após a repercussão do caso.

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Após a repercussão do caso nas redes sociais, agentes da Polícia Civil localizaram André em sua residência, no Conjunto Ouro Verde, bairro Coroado, e o encaminharam até a delegacia, onde ele declarou não saber o significado do símbolo (Divulgação)

Segundo o delegado, ele recebeu a equipe no local, deixou os policiais entrarem na residência, entregou o celular e conversou sobre a tatuagem negando a prática de apologia. “Ele disse que já havia frequentado outros locais públicos, sem camisa, mas que essa foi a primeira vez que a imagem gerou problema”.

Conforme primeiro parágrafo da Lei 7.716/1989, serão punidas as pessoas que: “fabricarem, comercializarem, distribuírem ou veicularem símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa”, podendo ser agravado se feito por meio de comunicação social ou publicação na internet.

Leia também: Vereador de Manaus entra com denúncia formal contra torcedor que exibiu tatuagem nazista durante partida de futebol

Nazista

Na avaliação do sociólogo, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA, Francinézio Amaral, o ressurgimento dos discursos de ódio, característicos do nacionalismo de extrema-direita, partem da crise democrática do capitalismo liberal, pois este já não consegue atender às demandas da sociedade, não só no Brasil, como no mundo.

“Esse fenômeno tem ganhado força nos discursos negacionistas que deturpam o conceito de liberdade de expressão e, quando se associa isso ao processo de desinformação exacerbada pelas fake news, temos o cenário propício para o ressurgimento de grupos fundamentalistas intolerantes como os neonazistas”.

Para ele, esses grupos se escondem atrás do direito à liberdade de expressão para espalhar discursos de ódio e seus símbolos, como no caso do homem flagrado com a tatuagem de águia nazista.

“Mesmo que o indivíduo que tatuou a águia nazista diga que não sabia o significado, o fato de exibi-la em público cumpre o papel de propagação dos ideais nazistas dos grupos de extrema-direita. Daí, a importância de estarmos atentos para buscar o máximo de informações confiáveis sempre que nos depararmos com símbolos que não conhecemos. Nesse sentido, tanto o indivíduo tatuado quanto o tatuador têm responsabilidade na propagação da apologia ao nazismo, que é crime, segundo as leis brasileiras. E isso é muito importante de ser ressaltado, pois um dos erros mais comuns que vemos nos comentários das redes sociais é a tentativa de amenizar e relativizar o episódio, o que também contribui, mesmo que indiretamente, para a apologia e a desinformação”, acredita.

Francinézio afirma que mesmo que a existência dos grupos neonazistas precedam a eleição de Bolsonaro, “está comprovado que o aumento de células neonazistas intensificou desde o início de sua campanha, em 2018”. Ele se baseia na pesquisa publicada pela antropóloga Adriana Dias, que constatou que essas células atingiram números exponenciais durante o Governo Bolsonaro. Entre janeiro de 2009 e maio de 2022, houve crescimento de 270,6% dos grupos extremistas espalhados em todas as regiões do País, num total de 530 células que equivalem a mais de 10 mil membros.

“Isso reflete a confiança desses grupos de que tem um cenário favorável para se manifestarem publicamente, pois se veem representados nos discursos, no projeto de necropolítica e nas atitudes do atual ocupante do Palácio do Planalto”, afirma.

De acordo com ele, a sociedade precisa entender que a desinformação e a relativização de discursos e símbolos de ódio foram fatores essenciais para que o nazismo conseguisse alcançar o poder, se propagar e escrever o capítulo mais obscuro da humanidade. “Por isso, jamais, de forma alguma, devemos tolerar ideias e símbolos da intolerância, por mais despretensiosas que elas possam parecer”, conclui.

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