Entenda o que é psicofobia, ato que estigmatiza pessoas com transtornos mentais

A psicofobia é a discriminação e o preconceito contra pessoas com transtornos mentais. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Thaís Matos – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – O Brasil é o País onde uma em cada quatro pessoas pode vir a sofrer de algum transtorno mental ao longo da vida, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ainda segundo a organização, o Brasil tem cerca de 9,3% da sua população sofrendo com ansiedade e ocupa o terceiro lugar no ranking mundial das doenças mentais.

Mesmo com números alarmantes sobre a saúde mental dos brasileiros, os transtornos mentais ainda são vistos com preconceito, e pessoas com problemas psiquiátricos são discriminadas pela sociedade. Isso é a chamada psicofobia.

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O termo ficou em evidência depois que a tiktoker Vanessa Lopes desistiu do reality show Big Brother Brasil 24 (BBB 24) e telespectadores apontaram possíveis problemas mentais. Nesta semana, a equipe da ex-participante divulgou boletim médico afirmando que Vanessa está fazendo tratamento psiquiátrico em casa, com ajuda dos familiares. Ela ainda está sendo assistida pelo médico psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e referência no ativismo contra a psicofobia.

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Mesmo com a condição da influenciadora, a internet ficou tomada com piadas e memes. O termo “foi de Vanessa Lopes” — para falar de alguém que aparenta estar enlouquecendo — ou a referência a ela como “surtada” ou “pertubada” foram alguns dos comentários feitos nas redes sociais.

Estigmatização

Antônio Geraldo da Silva, criador do neologismo “psicofobia”, explica que a psicofobia acaba atrapalhando o tratamento adequado a pacientes psiquiátricos, o que pode resultar em um desfecho trágico como o suicídio. Isso porque muitos indivíduos deixam de buscar tratamento por medo de serem estigmatizados como “fracos” e “loucos” pela sociedade, amigos e até familiares.

A psicofobia causa muito sofrimento! A psicofobia impede que milhares de padecentes de doenças psiquiátricas busquem o tratamento adequado e também leva milhares de pessoas ao suicídio todos os anos”, explica o doutor no site oficial da ABP.

À REVISTA CENARIUM, a psicóloga Gisele Mendes explicou que o principal motivo para o estigma é a falta de conhecimento, o que faz as pessoas evitarem aquilo que não conhecem.

Por vezes, o estigma vem de dentro de casa. Pais costumam ter dificuldade de aceitar que um filho seja paciente psicológico, pois é difícil lidar com o fato de que seu filho possa estar em sofrimento. A gente vive em um mundo em que precisamos estar felizes o tempo todo e demonstrar essa felicidade, e não é fácil aceitar o quanto da vida é sofrimento, e para os pais muitas vezes isso se traduz como culpa“, disse Mendes.

A psicóloga pontuou que o acompanhamento psicológico com psicoterapia pode ser feito sem diagnóstico de transtorno, apenas para melhorar a qualidade de vida. “O casamento entre psicoterapia, acompanhamento psiquiátrico e medicação é o mais indicado para distúrbios psíquicos. Também é essencial que haja mudanças no estilo de vida, como prática de esportes, boa alimentação e sono reparador e ter satisfação nos relacionamentos“, complementou.

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Dia Nacional de Enfrentamento à psicofobia

Em abril, acontece a Campanha contra a Psicofobia em todo o Brasil. Promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a data tem o intuito de conscientizar a sociedade sobre o prejuízo causado pelo preconceito que existe acerca das pessoas que têm transtornos ou deficiências mentais.

A campanha também serve para mostrar que o autocuidado é muito importante na prevenção e no tratamento das doenças mentais e que cuidar da saúde mental também é uma forma de autocuidado.

Psicofobia é crime

O Projeto de Lei do Senado (PLS) que altera o decreto-lei nº 2.848 de 1940, tipifica o crime contra as pessoas com deficiência ou transtorno mental, com pena de reclusão de dois a quatro anos. “Psicofobia é crime previsto em lei e a principal forma de combatê-lo é alertando a sociedade e promovendo diálogos em torno do respeito à saúde mental“, finaliza a psicóloga Gisele Mendes.

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