Fabricação de material esportivo emprega detentos e gera economia para 30 escolas de Vilhena, em RO

Projeto "Pitando a Liberdade" devolve a esperança de segunda chance para detentos de Rondônia. (Foto cedida: Prefeitura de Vilhena)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Um projeto social, realizado em Vilhena, quarta maior cidade de Rondônia, a 705 quilômetros de Porto Velho, leva a detentos do Centro de Ressocialização Cone Sul a oportunidade de aprender uma nova profissão e abastece as 30 escolas da rede municipal com material esportivo. A estimativa atual é de produção inicial de 800 bolas de futebol, basquete, vôlei e futsal. A ideia é de autoria do vereador Samir Ali (PSDB), uma semente plantada ainda em 2018, que deu os primeiros frutos, agora, em maio de 2021.

Samir Ali contou que, de início, o trabalho seria realizado por meio da Casa da Cidadania, com atuação dos menores em conflito com a lei, mas a legislação não permitiu, por entendimento de que a prática configura a mão de obra como trabalho. Por isso, os recursos para a compra dos insumos de produção foram repassados à Secretaria Municipal de Assistência Social, que acompanha o trabalho feito, agora, no presídio, transferindo para a unidade a fábrica que já existia no Centro da Juventude, que se encontra desativado.

Quinze detentos trabalham no projeto de fabricação de bolas para a Secretaria Municipal de Educação (Reprodução/Prefeitura de Vilhena)

À Revista Cenarium, Ali disse que o projeto vai sanar uma deficiência antiga das escolas públicas da cidade. “São 11 mil alunos na rede municipal. Com certeza vamos gerar economia. Uma bola comprada pela prefeitura, em média, custa em torno de R$ 170 a R$ 180. E essa bola, fabricada aqui, vai sair em torno de R$ 26, R$ 27. Também existia uma falta muito grande de material. Em visita às escolas, sempre houve o pedido de bolas para que as crianças pudessem fazer suas atividades”, explicou o vereador.

Samir Ali (PSDB), vereador que implantou o projeto na cidade. (Reprodução/Assessoria)

Detentos

O projeto “Pintando a Liberdade”, que também conta com o apoio do Governo de Rondônia, cai como uma segunda chance para 15, dos 300 detentos aptos a participar da iniciativa. “Eu acho que o crime não vai compensar na vida de cada um, não. Eu tô aqui desde 2008 e acho que foi muita perda de tempo. Poderia ter um futuro melhor lá fora, e eu saio daqui até 2030. Mas temos que lutar, né? Colocar a cabeça no lugar e tocar em frente”, desabafa Armando Nazaré, condenado a 45 anos de prisão.

PUBLICIDADE

Ele, assim como Márcio Moreira, que cumpre 54 anos de pena, comemora o trabalho oferecido. “Lá dentro, a mente parada, sabe que não vêm pensamentos bons (…) Isso aqui, são as portas se abrindo, as pessoas demonstrando confiança em nós”, conta Márcio, emocionado. Para todos os detentos envolvidos na confecção das bolas de campo e de salão, a cada três dias trabalhadores são convertidos a um dia de remissão de pena. “Quando criam  um projeto para ajudar o preso, o preso já passa a tirar a mente do crime e começa a focar no trabalho, na vida lá fora e como vai ser”, completa Armando.

O diretor do presídio Cone Sul, Dirceu Martini, lembra que Rondônia tem uma população carcerária muito grande – cerca de 11 mil presos -, e que esse tipo de trabalho reflete de uma forma muito positiva, já que todos eles passam muito tempo na ociosidade. “Os apenados, que participam deste projeto, passam por uma comissão que os classifica. E o principal critério, entre outros, é a disciplina, o comportamento”, ressalta. Para o secretário municipal de Assistência Social, Rafael Reis, a pasta também tem responsabilidade com o processo de reinserção à sociedade. “Não é só  responsabilidade do Judiciário, mas também do Executivo e do Legislativo”, explica. 

Agradecimentos da Educação

O secretário municipal de Educação, Ronaldo Alevato, diz que o projeto é de grande valia para a pasta e também para a sociedade vilhenense, principalmente agora, que a prefeitura trabalha no possível retorno às aulas presenciais. “Eu sou professor de educação física e sei da necessidade e da falta de material esportivo dentro das nossas escolas. Com a iniciativa, a Semed poderá fomentar atividades físicas, fazendo com que os alunos tenham mais prazer nessa prática. Isso também trará economia para os cofres públicos. Nós estamos preparando todas as nossas escolas para uma provável volta às aulas e esse projeto vai realmente beneficiar todas as escolas do município”, comemorou Alevato.

Expansão do projeto

Samir Ali pretende estender a continuidade da iniciativa, envolvendo novas unidades prisionais. “Nós já estamos em diálogo com a Assistência Social, para que, ainda neste ano, possamos colocar ainda mais recursos e buscar ampliar, talvez até com a casa de detenção para mulheres. A ideia é manter o projeto, aumentar a produção, para atendermos não só a secretaria municipal de Educação, mas também a secretaria de Assistência Social, de Esporte e toda a comunidade da cidade”, enfatizou o vereador. 

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.