Fiocruz rebate teses de pesquisador sobre segunda onda da Covid-19 em Manaus

Praia da Ponta Negra, em Manaus, no Amazonas, lotada exibe um verão incomum para um período pandêmico (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Carolina Givoni – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um posicionamento oficial do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) decreta que as teorias do pesquisador do instituito, Jesem Orellana, sobre uma provável segunda onda de contágio do novo coronavírus na capital amazonense, “não refletem a isenção dos seus pares pesquisadores da Fiocruz”. A nota emitida nesta quinta-feira, 10, acrescenta mais um capítulo no embate científico entre Orellana e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).

Na nota, a Fiocruz defende a realização de estudos para avaliar a presença de anticorpos para a Covid-19 na população, “com uma amostragem populacional significativa e representativa, que nos forneça o suporte científico capaz de auxiliar e orientar em um correto planejamento e monitoramento dessa epidemia, seja para o atual momento, seja para o futuro”, diz trecho.

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Pesquisadores orientam sobre novo pico de Covid-19 e contestam estudo que decreta ‘fim da pandemia’

Média móvel de sepultamentos (Reprodução/FVS-AM)

A instituição também endossa o conteúdo das informações epidemiológicas divulgadas pela FVS, na quarta-feira, 9, sobre o levantamento que contesta a evolução de óbitos defendida por Orellana. Segundo a nota técnica, a série histórica indica que não há uma aceleração de mortes por Covid-19 ou por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

Média de óbitos 2015 a 2019 x sepultamentos de 2020 (Reprodução/FVS-AM)

Parte do posicionamento da FVS-AM também desvincula a Fiocruz da “postura desrespeitosa do pesquisador em relação à seriedade da Fundação e afirma que as declarações de Jesem não refletem a isenção dos seus pares pesquisadores”, afirma a nota.

Desvio de comportamento

Em uma entrevista a uma emissora local, ainda na quinta-feira, 10, Jesem Orellana afirma que o momento de crescimento de novos casos representa “um relaxamento completo das medidas de distanciamento físico”. Segundo ele, “pessoas andando nas ruas sem máscaras, sem qualquer proteção. Ônibus lotados, escolas voltando a funcionar normalmente e o comércio também, flutuantes e praias. Enfim, é muito triste tudo isso”, explica.

Orellana também afirmou que caso este desvio de comportamento sobre as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), as consequências como aumento de casos devem aparecer dentro de poucos dias.

“Reforçamos que a mortalidade por covid-19 é um indicador tardio da circulação do vírus e reflete o seu comportamento de semanas atrás. Portanto, o seu aumento reflete a configuração inicial da segunda onda, provavelmente decorrente do retorno imprudente e desumano das aulas presenciais na rede pública e privada e, principalmente, da circulação de dezenas de milhares de pessoas, direta e indiretamente envolvidas nessas atividades”, explica Jesem.

Previsões antigas

A REVISTA CENARIUM entrevistou, no mês de maio deste ano, o mestre e doutorando em biologia ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante. O líder da pesquisa ressaltava que os dados da FVS à época não sustentam a tese de “imunidade por rebanho”, difundida nas redes sociais.

Ferrante assim como o pesquisador da Fiocruz defendia teses a respeito da disseminação em segunda onda e ainda alertava sobre o possível novo surto de casos de Covid-19, causado pela volta da circulação de pessoas na capital em junho.

O estudo do Inpa foi feito em parceria com outros pesquisadores e relevou que cerca de 1,7 milhão de pessoas poderiam ser infectados em Manaus com o novo Coronavírus. O número atual apresenta 125 mil casos confirmados até dia 10 de setembro.

Tese logística

Também no mês de maio, o coordenador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), responsável pelo boletim Atlas ODS Amazonas, Henrique Pereira, rebatia teses de Ferrante sobre a disseminação do vírus.

Para Henrique, por conta da evolução do vírus, não haveriam possibilidades de uma segunda onda de contaminação de Covid-19 a curto prazo, fato que faria da capital amazonense a primeira cidade do País a superar a crise. “Todos os vírus estão competindo para se reproduzir, os menos virulentos ganham vantagem porque se transmite em maior frequência e, depois de certo tempo, interagindo com a população hospedeira, se tornam maioria”, defendeu.

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