General que ameaçou a democracia, após a restituição dos direitos de Lula, é fã de torturador

General Paiva é autor de prefácio em um dos livros de Ustra, para ele o torturador é um ‘herói nacional’ (Reprodução/Moreira Moriz-Agência Senado)

Com informações do Brasil de Fato

SÃO PAULO – O general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, autor da nota “Aproxima-se o ponto de ruptura”, divulgada pelo Clube Militar, logo após a anulação dos processos contra o ex-presidente Lula (PT) na Lava Jato de Curitiba, é fã do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado por liderar práticas de tortura durante a ditadura militar (1964-1965).
Na nota, Paiva critica o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autor da decisão que restabeleceu os direitos políticos de Lula na última segunda-feira, 9.

“O STF feriu de morte o equilíbrio dos poderes, um dos pilares do regime democrático e da paz política e social. A continuar esse rumo, chegaremos ao ponto de ruptura institucional e, nessa hora, as Forças Armadas (FA) serão chamadas pelos próprios Poderes da União, como reza a Constituição. Por isso, hoje, é bom lembrar Rui Barbosa: ‘A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário’. Contra ela, não há a quem recorrer”, escreveu Paiva, que está na reserva desde 2007.

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“A continuar esse rumo, chegaremos ao ponto de ruptura institucional e, nessa hora, as Forças Armadas (FA) serão chamadas pelos próprios Poderes da União, como reza a Constituição”, completa o texto.

Contradições

Paiva é membro da Comissão da Anistia, órgão vinculado ao gabinete de Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo Bolsonaro.

A menção ao “regime democrático” e à “ditadura”, ao citar Rui Barbosa, se dá em um contexto de crítica “ao recurso a instâncias legais”, garantido justamente pela Constituição Federal de 1988, que restabeleceu o Estado de direito após 21 anos de regime autoritário.

O coronell Ustra, a quem Paiva prestou homenagem diversas vezes, inclusive ao escrever o prefácio do livro A Verdade Sufocada, atuou como torturador justamente durante aquele período, entre 1970 e 1974.

“Ustra se tornou um dos símbolos da vitória da Nação sobre os que pretenderam estabelecer o sanguinário regime socialista no Brasil, ideologia do atraso e da violência fratricida, hoje, reconhecidamente fracassada. Ele era o Doutor Tibiriçá, comandante destemido e líder da gloriosa Operação Bandeirante, honraria que o fez alvo de permanente perseguição revanchista, alimentada por representantes da antiga esquerda revolucionária, encastelados nos altos escalões da República após o início dos anos 1990”, diz outro texto assinado por Paiva sobre Ustra.

Torturador de crianças

O torturador morreu em casa, em uma área de luxo em Brasília (DF). Sob comando dele, ocorreram centenas de sessões de torturas, em São Paulo, no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi).

Nem crianças eram poupadas. Ao todo, durante a ditadura, foram contabilizadas 434 mortes e desaparecimentos no País, segundo a Comissão Nacional da Verdade.

Trajetória militar

Luiz Eduardo Rocha Paiva ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras em 1973 e foi promovido a general-de-brigada em 2003. Quatro anos depois, passou à reserva remunerada, quando era secretário-geral do Exército. Membro do Clube Militar, ele é professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e colaborador do Centro de Estudos Estratégicos do Exército.

Embora seja membro do governo Bolsonaro, Paiva já teve atrito com ao menos um dos filhos do presidente. Em 2019, o general da reserva chamou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), do Rio de Janeiro, de “pau mandado de Olavo [de Carvallho]”, em mensagem de WhatsApp, reproduzida pelo jornal O Globo.

Povo soberano

A nota recente do general da reserva destoa da reação adotada por outros generais do Exército sobre a decisão do STF. Um deles, o vice-presidente Hamilton Mourão, chegou a dizer que “o povo é soberano” e tem o direito de eleger Lula, se assim o quiser. O Clube Militar reúne oficiais de alta patente que já estão na reserva, ou seja, não têm comando de tropas.

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