Justiça do AM manda soltar ‘Colômbia’, apontado como mandante das mortes de Bruno e Dom

Ruben Villar Coelho, conhecido como "Colômbia", é apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico por meio da pesca ilegal no Vale do Javari (Reprodução/Divulgação)
Com informações do Infoglobo

MANAUS – A Justiça Federal do Amazonas autorizou, na última quinta-feira, 6, a soltura de Ruben Dario da Silva Villar, o “Colômbia”, preso desde o dia 8 de julho, suspeito de chefiar uma quadrilha de pesca ilegal na reserva indígena Vale do Javari, no Amazonas. Ele é apontado como suposto mandante do crime contra o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, assassinados a tiros quando voltavam de uma viagem pelo Rio Itacoaí, no dia 5 de junho, após uma emboscada. No momento, “Colômbia” segue preso por conta de outro mandado de prisão relativo à sua participação em associação armada ligada a crimes ambientais de pesca ilegal.

No próximo dia 24, “Colômbia” passará por uma nova audiência, onde tentará reverter a sua prisão, disse a defesa de Ruben Villar ao GLOBO. A defesa de Villar argumentou que, por ter residência fixa e ocupação lícita, como empresário do ramo da pesca, não haveria motivo para a manutenção da prisão.

A decisão é da Vara Federal Cível e Criminal de Tabatinga. Segundo ela, Ruben Villar ficará em liberdade provisória, submetido a medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica, e mediante o pagamento de uma fiança de R$ 15 mil.

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“Colômbia” também não poderá deixar a cidade de Manaus, já que o município onde reside, Benjamin Constant, sofre com uma conexão de internet precária, o que dificultaria o monitoramento, segundo disse ao GLOBO o seu advogado Eduardo de Souza Rodrigues. A defesa de “Colômbia” nega ainda as acusações contra o seu cliente de envolvimento nas mortes.

“Não está em cogitação o preso ficar fora de Manaus-AM, pois só nessa localidade temos condições de internet para manter a monitoração eletrônica. Não há argumentos contra isso. Atalaia não tem essa infraestrutura ainda”, escreveu o juiz Fabiano Verli.

“Medidas judiciais cabíveis já estão sendo tomadas no sentido de garantir sua inocência e seus direitos constitucionais”, disse o advogado.

O Ministério Público Federal recorreu da decisão de quinta-feira e se posicionou contrário a libertação de “Colômbia”. “Em síntese, sustentou-se que a atual incerteza acerca do nome ou da naturalidade do requerente não poderia ser motivo para concessão do decreto liberatório. Argumentou-se que Rubens (ou Ruben) responde a dois processos criminais”, diz o órgão.

Apesar das acusações, “Colômbia”, cuja nacionalidade é colombiana, foi preso ao se apresentar à PF como Rubens Villar Coelho, de nacionalidade peruana, com documentos falsos, durante depoimento. Ele foi preso em flagrante pelo delegado da PF, Ramón Santos Morais.

“Colômbia” é apontado por indígenas como o mandante das mortes de Bruno e Dom. Ele também é suspeito de usar o esquema da pesca ilegal de pirarucu, tracajás e animais de caça para lavar dinheiro do narcotráfico.

Continuam presos ainda Amarildo Costa de Oliveira, conhecido como “Pelado”, réu confesso do crime. Além de Amarildo, outros dois suspeitos do crime estão presos em Manaus: Jeferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”, e Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”, irmão de Amarildo.

Entenda o caso

O desaparecimento foi revelado pelo GLOBO e confirmado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), região com a maior concentração de povos indígenas isolados do mundo, no dia 6 de junho. O indigenista Bruno Araújo, que acompanhava o jornalista britânico, era alvo constante de ameaças pelo trabalho que vinha fazendo, junto aos indígenas, contra invasores na região, pescadores, garimpeiros e madeireiros.

A PF também investiga se um esquema de lavagem de dinheiro para o narcotráfico, por meio da venda de peixes e animais, pode estar relacionado ao desaparecimento da dupla.

O GLOBO apurou que apreensões de peixes que seriam usados no esquema foram feitas, recentemente, por Bruno Pereira, que acompanhava indígenas da Equipe de Vigilância da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). As embarcações levavam toneladas de pirarucus, peixe mais valioso no mercado local e exportado para vários países, e de tracajás, espécie de tartaruga considerada uma especiaria e oferecida em restaurante sofisticados dentro e fora do País.

A ação de Pereira contrariou o interesse do narcotraficante conhecido como “Colômbia”, que tem dupla nacionalidade, brasileira e peruana. Ele usa a venda dos animais para lavar o dinheiro da droga produzida no Peru e na Colômbia, que fazem fronteira com a região do Vale do Javari, vendida a facções criminosas no Brasil. Há suspeita de que ele teria ordenado a Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, a colocar a “cabeça de Bruno a leilão”.

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