Líder indígena denuncia na ONU tragédia humanitária dos povos Yanomami e Ye’kwana

Dário Kopenawa falou em memória dos que morreram na tragédia Yanomami e em nome dos 30 mil Yek'wana e Yanomami da Amazônia (Reprodução/Hutukara)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – O líder Yanomami e Ye’kwana, Dário Kopenawa Yanomami, usou a 52ª sessão do Conselho de Direitos Humanos (CDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), no último dia 29, para denunciar a invasão pelo garimpo, estupro, proliferação de doenças e a morte de 570 crianças indígenas. Dário falou durante o “Debate Geral”, na condição de representante, de 30 mil indígenas divididos entre os povos Yanomami e Ye’kwana.

Dário Yanomami é vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e, segundo ele, as falas da liderança indígena brasileira foram de responsabilização do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “A invasão do garimpo ilegal, dentro da Terra [Indígena] Yanomami, se intensificou durante o Governo Bolsonaro”, acusou. De acordo com Dário Kopenawa, muito das agressões foram permitidas de forma oficial. “Facilitado por medidas administrativas e decisões políticas do Governo Bolsonaro”, disparou, em entrevista ao Cimi.

Em assembleia realizada em 2022, o povo Yanomami relembrou a luta e a resistência pela homologação de suas terras (Corrado Dalmonego/Cimi)

Dário também responsabilizou o garimpo e a extração de cassiterita no território Yanomami, como dois vetores causadores de uma explosão nos números dos casos de malária e outras doenças infectocontagiosas na terra indígena. “Muitas doenças como malária, pneumonia, verminoses e desnutrição, além de violência contra mulheres e crianças, assédio sexual e estupro”, elencou o indígena.

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Efeito positivo

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o antropólogo Alvatir Carolino declarou: “Uma denúncia dessa natureza tem efeitos positivos, porque isso força o agir do Estado brasileiro e de organismos internacionais, à medida que a repercussão ganha espaços para além do espaço local”, comentou. “Temos um histórico nesse sentido. É só olhar para o movimento dos seringueiros no Acre. Com a ida de Chico Mendes à ONU, bancos e agências bilaterais de financiamento revisaram suas políticas de investimentos e o Estado teve que se posicionar às formas do uso da terra na Região Amazônica”, recordou.

Carolino continuou: “A fala de Dário Kopenawa não pode ser vista como algo que vai prejudicar o Brasil, porque é a forma como os Estados democráticos nos olham e, nesse caso, eles observam o norte do novo governo, por exemplo, já que o Governo Bolsonaro não tinha compromisso com a vida e esse não é o caso do Governo Lula, que vê com responsabilidade a ciência, o meio ambiente, a sustentabilidade, os povos tradicionais e a vida”, comparou. “Com essas denúncias chegando aos organismos internacionais, os outros governos vão saber distinguir as diferenças”, destacou.

Para Alvatir, a postura de Dário Kopenawa mostra a grandeza da democracia brasileira. “Hoje, existe uma diferença, que é o olhar humanizador do governo, e é nesse momento que os governos internacionais vão identificar o tempo que aquele problema começou e quais as perspectivas de solução do atual governo do Brasil. Isso não vai prejudicar as nossas relações internacionais, porque prejudicada elas já estavam e, disso, o mundo já sabia. O que é importante saber é que o Brasil tem a capacidade, hoje, de retomar todas as suas boas relações internacionais”, comemorou.

Dário Kopenawa atua em várias frentes para defender medidas emergenciais de recuperação da rede de proteção aos povos indígenas (Elaine Menke/Reprodução)

Ação de Viena

A fala de Dário Kopenawa, na ONU, tem amparo na Declaração e Programa de Ação de Viena (1993), um sistema internacional de direitos humanos e dos mecanismos de proteção destes direitos, que tem por objetivo incentivar e promover o seu maior respeito, de uma forma justa e equilibrada. Por isso, Kopenawa fez um apelo internacional. “Pedimos apoio internacional para ajudar o governo brasileiro a chegar, urgentemente, às aldeias mais distantes e para a retirada urgente do garimpo da Terra Yanomami”, apelou o líder representante dos povos Yanomami e Ye’kwana.

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