Livro que aborda intercâmbio entre a maior festa artística da Amazônia e o Carnaval será lançado no RJ

Escritor e jornalista, João Gustavo traz em sua obra, a visão documentarista sobre as trocas entre o Carnaval carioca e o Festival de Parintins (Reprodução/Assessoria)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – O livroCarnaval e Boi-bumbá: entrecruzamentos alegóricos(Ed. Selo Carnavalize, 246 páginas) do jornalista e escritor João Gustavo Melo será lançado no próximo dia 16 de dezembro, sexta-feira, às 19h, no Baródromo, Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ). A publicação é do selo Carnavalize e as fotos que ilustram o trabalho é do fotógrafo carioca radicado em Nova Iorque Wigder Frota.

O livro é um relato sobre as trocas culturais entre a capital fluminense e a “Velha Tupinambarana”, como também é conhecida a cidade de Parintins, terra de Garantido e Caprichoso. O trânsito artístico ganha uma abordagem por parte do jornalista que em entrevista à REVISTA CENARIUM detalha sobre o que o levou a escrever. “Acompanho os desfiles das escolas de samba desde o final da década de 1980. Era criança, morava em Fortaleza (Ceará) e acompanhava as apresentações pela TV“, recorda João Gustavo.

Registros do profissional Wigder Frota permeiam o livro de João Gustavo sobre o intercâmbio Parintins/Rio de Janeiro (Reprodução/Wigder Frota)

Já o Festival Folclórico de Parintins, João Gustavo veio a conhecer nos anos 1990. De acordo com o jornalista e escritor, tanto o carnaval carioca quanto o festival lhe deram uma impressão marcante. “Toda a visualidade das alegorias me chamou atenção desde aquela época. Já os bumbás, eu conheci no final dos anos de 1990, quando os bois conquistaram uma visibilidade gigantesca em todo o Brasil“, destaca.

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Talentos

Para o escritor, o talento de cariocas e parintinenses tem algo místico, mas isso não significa que somente isso será o suficiente. “O talento dos artistas tem algo de místico, mas também tem tudo a ver com incentivo cultural. Os alegoristas floresceram no Carnaval e no boi graças a incentivos culturais. Foi regar para nascer! Não existe mercado se não houver incentivo em educação artística desde cedo e sem um espaço de exibição que faça com que essas maravilhosas criações sejam expostas de forma única a um público de milhões de pessoas”, afirma.

A monumentalidade e os movimentos robóticos dos artistas de Parintins estão presentes nas alegorias do Carnaval carioca (Reprodução/Wigder Frota)

Responsável pela ilustração, o fotógrafo Wigder Frota fala sobre a participação no livro. “Acompanho o Carnaval desde 1982 e sou fotógrafo desde 1991. Conheci o festival por insistência de artistas parintinenses que faziam parte do Carnaval no Rio. Fui como turista e me apaixonei pelo festival. Eu moro fora do Brasil há muitos anos e posso afirmar que o Festival de Parintins e a cultura do Norte devolveram a minha brasilidade“, reconhece.

Para Wigder, existe algo diferente no Rio e em Parintins. “Conheço muitos lugares no mundo, mas poucos lugares têm a quantidade de artistas e pessoas tão criativas como temos no Rio de janeiro e em Parintins”, observa. “Acho que isso tem muito a ver com a herança da paixão e do envolvimento de pessoas com o folclore, com a cultura popular, da nossa brasilidade, da nossa criatividade”, destaca.

Trocas

João Gustavo observa que as trocas fazem bem aos dois eventos e que isso tende a aumentar. “Esse intercâmbio em outras áreas já é uma realidade. Artistas como Fabson Rodrigues e Estêvão Gomes brilham nos figurinos. Erick Beltrão já fez coreografias para a Beija-flor de Nilópolis. Essa participação hoje extrapola a questão alegórica. Tanto o Carnaval quanto o boi só têm a ganhar com isso. As festas se entrecruzam nessa obsessão popular por expressar beleza sem amarras. É mágico!“, comenta João Gustavo.

O luxo e a perfeição do acabamento das alegorias confeccionadas pelos artistas cariocas representam ganhos para os artistas de Parintins (Reprodução/Wigder Frota)

Já Wigder vê com mais reservas. “Gosto das trocas, mas sou muito tradicionalista. Não podem ocorrer porque alguém tem um nome, uma fama. A troca só é válida se o artista que vai para o local para aprender sobre aquela determinada cultura. A troca só é válida se o artista que vem importado de outro local se acostume a aprenda o que acontece naquela manifestação. Isso pode acontecer, todavia não pode interferir na tradição local“, analisa.

Respeito

Tanto João quanto Wigder comentam a experiência nos dois eventos e as personalidades em comum, entre elas a de Jair Mendes, homem que criou a alegoria no festival. “Seu Jair Mendes é um totem do Festival. Um mestre! Tive a oportunidade de conhecê-lo e entrevistá-lo no galpão do Garantido, em 2019. Fiquei impressionado com tudo o que ele disse. É de uma simplicidade sofisticada a forma como ele olha o próprio ofício. É, de fato, um gênio. E a entrevista embasou muitas coisas do livro. Inclusive, a obra começa com uma foto dele trabalhando no galpão. Uma imagem síntese do poder transformador de um artista“, lembra João.

Falar de Jair é falar do rei da arte alegórica em Parintins. Conheço a história da aproximação do Jair com o carnaval carioca. Sei que ele conheceu os carros alegóricos nos anos 1970 no Rio e levou para Parintins. O interessante é que ele se inspirou e agora são os artistas parintinenses que estão revolucionando o Carnaval do Rio de Janeiro. A contribuição dos artistas de Parintins para o carnaval hoje é surreal e necessária!“, enaltece Wigder Frota.

O colorido, o clima festivo e místico de folclore estão presentes nas construções alegóricas do festival de Parintins (Reprodução/Wigder Frota)

Escolhas

O jornalista e o fotógrafo conhece Parintins de perto e como não poderia deixar de ser, a paixão por um dos dois bois bate forte. Tanto Wigder Frota quanto João Gustavo têm suas preferências. “O fotógrafo, o artista Wigder Frota é o festival de Parintins. Faço meu trabalho de cobertura do festival com amor pelos dois bois. Já a pessoa Wigder Frota é torcedor do Boi Caprichoso“, confessa Frota.

Essa é a pergunta mais difícil (risos). Então… Quando eu cheguei a Parintins, me disseram que o boi me escolheria. Pois não é que isso aconteceu? Fiz a pesquisa de campo no Caprichoso. O Conselho de Arte me abriu as portas para a pesquisa de uma forma muito generosa. Só que na arena, o Garantido me arrebatou. Virei vermelho! Mas posso dizer que tenho um carinho profundo pelo Caprichoso“, finalizou João Gustavo.

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