Mensagens indicam que ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, atuou por cargo na Saúde

Ana Cristina Valle prometeu ajudar em nomeação na Saúde (Custódio Coimbra)

Com informações do Infoglobo

BRASÍLIA – Mensagens de um celular apreendido em uma investigação do Ministério Público Federal (MPF) e compartilhadas com a CPI da Covid revelam que Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, atuou para emplacar uma indicação em um instituto ligado ao Ministério da Saúde a pedido de um advogado. Num dos diálogos, obtidos pelo GLOBO, Ana Cristina diz que uma das nomeações ficaria “na conta de Renan”, em alusão a seu filho Jair Renan, conhecido como o “Zero Quatro” de Bolsonaro.

Os registros das mensagens de Ana Cristina foram encontrados no celular do advogado Marconny Albernaz de Faria, apreendido durante a Operação Hospedeiro, deflagrada em outubro de 2020 para apurar suspeita de desvio de recursos do Instituto Evandro Chagas (IEC). O órgão é ligado ao Ministério da Saúde no Pará e é referência em pesquisa de doenças infectocontagiosas.

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À época da investigação, Marconny assessorava o ex-diretor do IEC. Por isso, entrou na mira do MPF, que, ao identificar mensagens de servidores do ministério investigados pela CPI, compartilhou o material com a comissão.

Segundo as mensagens, Marconny foi procurado por Marcio Roberto Nunes, ex-diretor substituto do IEC, para ajudar na nomeação de Jorge Travassos como diretor do órgão. O advogado recorreu a contatos que tinha em Brasília. Em troca desse serviço, segundo diálogos em posse do MPF, ele era remunerado.

Em 19 de julho de 2020, Marconny e Ana Cristina almoçaram em Brasília. Após o encontro, o advogado enviou por mensagem a ela um link para uma reportagem sobre uma investigação envolvendo o IEC. No dia seguinte, Ana Cristina respondeu: “Boa tarde, meu amigo, estive com o Jorge passei o caso prometeu que cair (sic) ver com carinho e coloquei na conta do Renan tbm agora vou esperar um pouco e cobrar ok bj (sic)”.

Pouco depois, em 7 de agosto, Jorge Travassos foi nomeado pelo então ministro da Saúde Eduardo Pazuello como diretor do IEC. Após três semanas, Márcio Nunes ganhou o cargo de substituto de Jorge no instituto. Nunes seria preso em 27 de outubro, durante a Operação Hospedeiro.

Apesar de Ana Cristina não mencionar o sobrenome de “Jorge”, as mensagens em posse do MPF mostram que, em outra ocasião, a ex-mulher do presidente e Marconny recorreram a uma pessoa chamada de “Min Jorge” que usaria o e-mail “[email protected]”. Amigo da família Bolsonaro e hoje ministro do TCU, Jorge Oliveira comandava, à época, a Secretaria-Geral da Presidência.

As mensagens também mostram que Jair Renan e Marconny tinham relação próxima. Eles trocaram mensagens entre 18 de dezembro de 2019 e 23 de outubro de 2020, quatro dias antes de a PF apreender o celular do advogado. Em uma delas, o filho do presidente falou sobre “abrir um processo para registrar a marca no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) marcas e patentes abrir o MEI como microempreendedor (sic)”. Marconny respondeu: “Temos que marcar uma reunião, para me dizer o que está precisando. Borá marcar na segunda (sic)”.

Dois meses depois, o filho do presidente abriu a empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, sediada em um escritório no Estádio Mané Garrincha. A ideia era fornecer “serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas”. A relação de Jair Renan com os seus parceiros comerciais é investigada pelo MPF e pela PF. O “Zero Quatro” é suspeito de atuar para que um empresário conseguisse uma reunião com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

O GLOBO procurou todos os citados. O advogado de Ana Cristina, Magnum Cardoso, informou que falaria com a sua cliente, mas não enviou uma posição. Jair Renan não respondeu às perguntas enviadas. Jorge Oliveira, Eduardo Pazuello, Marconny Faria e Jorge Travassos também não retornaram contato nem responderam às perguntas. O advogado de Márcio Roberto Nunes disse não ter conhecimento sobre as mensagens.

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