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Na Amazônia, crise ambiental afeta comunidades que lutam pela preservação
Amazônia. (Bruno Kelly)
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05 de junho de 2022
Com informações do Infoglobo
MANAUS – O estresse climático previsto pela ciência há décadas se tornou uma dura realidade para o povo Baniwa, na Terra Indígena Rio Negro, uma das áreas mais preservadas da Amazônia. Na comunidade Canadá, as famílias enfrentam, em menos de um ano, a segunda cheia extrema do Rio Ayari, em São Gabriel da Cachoeira, a Noroeste do Amazonas. É a maior alta já registrada na área, segundo o Instituto Socioambiental (ISA), e já destruiu mais de 50 roças. Cerca de 80 famílias perderam as suas plantações.
O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro é considerado patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) devido à forma consorciada como os locais trabalham o plantio de mandioca, batata, banana e pimenta. Mas tudo isso está em risco. Até porque está se tornando mais difícil abrir novas roças, devido à falta de períodos de sol.
“Uma roça perdida afeta todo o sistema. São cinco anos para recuperar. Estamos vivendo um evidente impacto local das mudanças climáticas”, observa o líder indígena Juvêncio Cardoso Baniwa, de 36 anos, mestre em Ciências Ambientais e professor de Física Intercultural, que monitora os ciclos ambientais locais. “Esta é uma das áreas mais preservadas da Amazônia, mas estamos perdendo nossa segurança alimentar por um fenômeno global”.
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Cardoso era uma criança quando, há 30 anos, governantes do mundo todo se reuniram na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Rio-92, na capital fluminense. Ainda que tratados relevantes tenham sido firmados na ocasião, os países fracassaram, desde então, em criar medidas para frear o avanço das mudanças climáticas, hoje responsáveis por eventos como chuvas torrenciais e ondas de calor extremo ao redor do globo.
O caos é provocado pela emissão de gases nocivos à atmosfera, o que provoca elevação nas médias de temperatura do planeta. No Brasil, o principal responsável pela emissão desses gases são as queimadas na Amazônia, cuja redução florestal também tem impacto direto no clima. Cerca de 17% do bioma já foi devastado. Segundo cientistas, se o índice alcançar 20%, a maior floresta do mundo vai chegar ao chamado “ponto de não retorno”, a partir do qual a Amazônia começaria a secar, desencadeando uma perda progressiva da cobertura vegetal. Por isso, ambientalistas classificam urgente tornar o equilíbrio da Bacia Amazônica prioridade em termos de políticas públicas.
“O Brasil e o mundo precisam parar de olhar para a Amazônia como uma fonte de minério e madeira . O enfrentamento das mudanças climáticas deve colocar em primeiro plano o bioma, com rigor na preservação e um modelo econômico sustentável”, analisa o ambientalista Marcio Santilli, sócio-fundador do ISA. “A umidade lançada no ar pela Amazônia tem papel estratégico no regime de chuvas do Centro-Sul. Nos últimos dois anos, tivemos secas severas no Paraná e em São Paulo, prejudicando safras agrícolas, enquanto partes do Nordeste ficaram debaixo d’água, causando tragédias. Tudo consequência de mudanças climáticas e desmatamento na Amazônia. É um efeito dominó”.
A ideia é inverter uma lógica histórica. A Região Amazônica sempre foi vista como uma espécie de “colônia de exploração”, de onde se extraem recursos a despeito de comunidades tradicionais. Em 2019, líderes indígenas, quilombolas e ribeirinhos estiveram em Altamira, no Pará, durante o Encontro Amazônia Centro do Mundo. O manifesto produzido ali destaca o sofrimento das comunidades locais, critica obras de grande impacto, como a usina de Belo Monte, e defende os territórios indígenas, ameaçados por invasões e propostas de mudanças legislativas.
No ano passado, a jornalista e escritora Eliane Brum, que participou do encontro em Altamira, onde mora desde 2017, lançou o livro “Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo” (Companhia das Letras), no qual denuncia a escalada de destruição da região, com efeitos trágicos a seus habitantes.
“Não vamos sair do abismo com o mesmo pensamento que nos trouxe aqui. É preciso buscar uma outra sociedade. A Amazônia nomeia esse conceito, por ser estratégica para qualquer futuro que a gente possa ter”.
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