‘Não busque na Amazônia uma Dubai’, avisa secretária indígena do Pará na COP28

A secretária estadual dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé (João Cunha)
João Cunha – Especial para Revista Cenarium Amazônia

DUBAI (EAU) – Com os olhos voltados para a Amazônia e as mentes em 2025, a convenção de Países que organiza as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COPs) tem dado grande destaque à 30ª edição do evento, que será sediado em Belém do Pará, no Brasil.

A confirmação da capital paraense como futura anfitriã da Conferência do Clima foi anunciada pelo governo brasileiro no primeiro semestre desse ano e os plano de ações estruturantes para a cidade estão em curso, em uma articulação entre federação, Estado e município. Frente a expectativas geradas por essa responsabilidade e liderança inéditas, a secretária estadual dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé, declarou: “Não busque na Amazônia uma Dubai”.

“É Amazônia que vocês querem, é Amazônia que vocês vão ter. E vocês vão ter a diversidade da Amazônia, não só do Brasil, mas de toda a região”, disse a secretária, dirigindo-se a plateia do painel “Parcerias para a COP30 e além: construindo um legado para a região da Amazônia”, parte oficial da programação da Conferência do Clima na última sexta-feira, 8.

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Em meio a entraves nas negociações climáticas nessa COP28, em Dubai, sobre a eliminação do uso de combustíveis fósseis e a indefinição de qual será o país-sede da conferência no próximo ano, líderes de estado e sociedade civil já projetam a COP30. Será a primeira vez que uma cidade da Amazônia vai receber o maior evento de discussão e acordos coletivos sobre o clima no mundo.

O evento também reuniu representantes do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA) e Ministério da Fazenda e foi organizado pelo Instituo Igarapé, Instituto Arapyaú e Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

Membro da executiva da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira, Puyr Tembé é a primeira titular na recém-criada Secretaria dos Povos Indígenas do Estado do Pará. A instituição da pasta e tida por observadores internacionais como um símbolo do compromisso do governo estadual em fortalecer sua política socioambiental, posicionando os povos originários nos espaços de formulação de políticas públicas.

Virgilio Viana, superintendente-geral da FAS, comenta que “não se imaginava que a gente ia ter uma conjunção de fatores tão positivos. Quando a gente teria uma liderança indígena da estatura da Puyr, à frente de uma secretaria no estado do Pará? Quando que a gente ia imaginar ter uma ministra, Sônia Guajajara, chefiando a delegação brasileira na COP. Pela primeira vez, uma mulher indígena, liderando os diplomatas todos e botando ordem no nosso posicionamento institucional”.

“Isso é histórico pra nós. Nós, do movimento indígena do Pará, já pedíamos tanto essa secretaria, e passamos por vários governos, de esquerda e direita, e conseguimos agora, em 2023. É a luta, a resistência dos povos indígenas, é fruto do nosso trabalho”, afirma a secretária. “E a gente enxerga que ter um instrumento como uma secretária, um Ministério, a nível nacional, é a hora da gente ocupar, de construir o que queremos”.

No painel na COP28, a secretária dos Povos Indígenas do Pará cobrou mais participação e comprometimento dos países em atingir as metas climáticas, a exemplo da redução das emissões de gases estufa, estabelecidas em acordos climáticos anteriores, como o Acordo de Paris.

“A gente chega nessa COP pensando, olhando e sempre refletindo qual o nosso papel. E porque que só os povos indígenas estão fazendo a sua parte, e a sociedade não, e o mundo não? Há uma preocupação, porque o povo todo, o mundo todo está jogando essa responsabilidade no Brasil. Essa responsabilidade na mão dos povos indígenas. Eu acho que todos nós, o mundo inteiro, precisamos compartilhar essa responsabilidade”.

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Editado por Jefferson Ramos
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