‘Não são bandidos’, diz senador de RR sobre fuga de garimpeiros da TI Yanomami

Senador de Roraima, Mecias de Jesus (Divulgação/Senado)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

BOA VISTA – O senador por Roraima Mecias de Jesus (Republicanos-RR) defendeu, durante sessão do Senado, nessa quarta-feira, 8, que os garimpeiros que atuam na Terra Indígena (TI) Yanomami “não são bandidos”. A defesa foi feita durante a apresentação do requerimento de autoria do parlamentar (RQS 34/2023), que cria uma comissão externa para acompanhar a situação dos Yanomami e a saída dos garimpeiros do território indígena.

A comissão será composta por cinco senadores, três vagas já estão definidas: Mecias de Jesus, Dr. Hiran (Progressistas) e Chico Rodrigues (PSB). Outras duas vagas ainda ficaram indefinidas. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) se ofereceu para compor o colegiado e sugeriu que a comissão tenha cinco suplentes. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), prometeu estudar a sugestão.

Mecias de Jesus afirmou que a crise humanitária em Roraima atinge indígenas e garimpeiros. Segundo ele, os garimpeiros estão com dificuldades no transporte e até na alimentação. O parlamentar relatou que os donos dos garimpos já saíram, deixando os trabalhadores para trás.

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“Os Yanomami merecem todo o nosso apoio, mas os garimpeiros que estão lá não são bandidos”, afirmou o senador.

Senador Mecias de Jesus, no plenário do Senado (Divulgação/Senado)

Conflitos

Com pedidos de ajuda, garimpeiros utilizam as redes sociais para solicitar apoio do governo federal para sair do local. Alguns, inclusive, apontam para conflitos entre indígenas e garimpeiros desde o anúncio da desintrusão da T.I. Alguns garimpeiros estão em fuga pela floresta amazônica para driblar a operação que está sendo feita pelo Ibama e Funai para retirada dos invasores da terra indígena.

Garimpeiros em fuga da Terra Indígena Yanomami caminham carregando pertences por estrada que liga o porto do Arame, no Rio Uraricoera, à Vila Reislândia, em Alto Alegre (RR) (Lalo de Almeida/Folhapress)

Uma internauta publicou vídeos e fotos de garimpeiros mortos em conflitos com indígenas. Na legenda, ela escreveu que não sabia se sairia viva do território indígena. “Aqui está virando uma matança horrível. Quem está tentando fugir por varação, os índios estão matando”, revela.

A mulher ainda afirma que os garimpeiros não são inimigos dos indígenas e denuncia que os indígenas estariam aceitando propina para que os exploradores utilizem a terra. “Há anos o garimpo paga propina pela terra que eles dizem ser donos”, diz.

“Os Yanomami, para quem não sabe da realidade, eles são pessoas sem nenhum sentimento. Eles entre si se matam e estupram em suas aldeias. Nunca acontece nada com eles, até porque eles são assegurados por forças maiores”, escreveu a internauta.

(Reprodução)

O povo Yanomami passa por uma crise humanitária causada pela invasão do garimpo ilegal no território indígena. Nos últimos quatro anos, segundo o Ministério da Saúde, 570 crianças Yanomami morreram por causas evitáveis (falta de tratamento médico e prevenção), na região, tem vítimas de desnutrição, malária, pneumonia e contaminação por mercúrio. Em 2022, foram 99 mortes de crianças. 

Dsei Yanomami

Segundo reportagem do Jornal Folha de São Paulo, o senador Mecias de Jesus e o filho, deputado federal Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR), têm ligações com três dos últimos coordenadores do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami: Francisco Dias Nascimento, Rômulo Pinheiro e Ramsés Almeida.

O Dsei é criticado por má gestão nos últimos anos, o que contribuiu para o agravamento da crise envolvendo os indígenas. Jhonatan e Mecias são citados em apuração sobre o desvio de verbas para o combate à Covid-19, além de serem, abertamente, defensores do garimpo. 

“É inadmissível que a atual situação dos parentes Yanomami pode continuar nas garras de grupos políticos que geraram o atual prejuízo. Minha impressão é que o governo do presidente Lula deve fazer melhor avaliação das suas indicações e deliberações. Isto vale para os parentes que estão no governo. Sustentar o erro criado na Gestão Bolsonaro, é um verdadeiro tiro no pé”, afirmou o coordenador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, Eliesio Marubo.

Desvio de medicamentos

Em novembro do ano passado, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Yoasi, com objetivo de investigar um esquema de desvio de recursos públicos federais do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y). Yoasi, para os Yanomami, é irmão de Omama e responsável pela morte no mundo.

Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal em Roraima. Entre os alvos estavam os dois ex-coordenadores do Dsei Yanomami, Rômulo Pinheiro e Ramsés Almeida da Silva – exonerado no dia 22 de novembro; a farmacêutica Cláudia Winch Ceolin; o assessor de Ramsés, Cândido José de Lira Barbosa; e o empresário Roger Henrique Pimentel, dono da empresa Balme Empreendimentos LTDA.

As suspeitas são que apenas 30% de mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo DSEI-Y teriam sido, devidamente, entregues. Com o apoio de agentes públicos, os recebimentos das entregas seriam fraudados e indicariam o cumprimento integral da contratação.

Responsabilização

Ano passado, em um vídeo publicado nas redes sociais, um dos líderes do povo Yanomami, Junior Hekurari, responsabilizou o senador Mecias de Jesus (Republicanos) pela situação crítica na Terra Indígena Yanomami (TIY). (Veja no vídeo abaixo).

“Mecias de Jesus têm influência dentro do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) no qual, durante esses últimos anos, ele indicou os coordenadores para assumir a gestão e, mesmo com todo o seu conhecimento por meio dos relatórios e denúncias da situação do Território Yanomami (TY) ele declara, fielmente, o seu apoio ao garimpo ilegal.

Vídeo publicado por Junior Hekurari, em abril de 2022, nas redes sociais (Reprodução)
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