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‘Para ser independente, Brasil precisa ser menos desigual’, afirma historiador
Pessoa em situação de rua na área do Porto de Manaus, Amazonas. (14.ago.23 - Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)
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07 de setembro de 2023
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium Amazônia
MANAUS (AM) – O Brasil celebra nesta quinta-feira, 7 de setembro, 201 anos de independência de Portugal. Dois séculos após declarar emancipação da coroa portuguesa, em meio a lutas e conflitos por todo o território, o País ainda passa por reconstrução e luta contra preconceitos, exclusões e discursos separatistas. Isto, segundo o historiador Ygor Olinto Rocha Cavalcante, é o que precisa ser superado para o Brasil ser realmente independente.
Para o historiador, que também é psicanalista e professor do Instituto Federal do Amazonas (Ifam) campus Presidente Figueiredo (distante 126 km de Manaus), as profundas desigualdades sociais e regionais são mazelas que ainda precisam ser superadas. “Se a gente hoje ainda convive com esses discursos, no passado a coisa talvez fosse um pouco até mais encarnada, as diferenças e as desigualdades regionais eram uma questão no processo de independência”, explica.
Ele ressalta que grande parte dos discursos separatistas acontecem por como se deu o processo de independência, com valorização dos Estados do Sul e Sudeste, em detrimento das regiões mais descentralizadas.
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“A gente também precisa lembrar que a América Portuguesa se dividia em dois Estados basicamente. Estado do Grão-Pará-Maranhão, com a sua própria estrutura de administração dos pobres e sua forte vinculação com a metrópole, e o Estado do Brasil e suas províncias, que tinham ali no Rio de Janeiro um centro de gravidade, composta por Minas Gerais, São Paulo, Rio e as providências do Sul, que não tinham muito a ver com as capitanias do Grão-Pará-Maranhão“, explica.
O final do século 18 para o início do 19 é reconhecido pelos historiadores como era das revoluções, não só a Revolução Francesa, mas também todo o processo revolucionário na América Latina, processo que gera as diferentes repúblicas que proclamam as abolições de sua escravidão, suas instituições escravistas.
Privilégios
Cavalcante comenta que quando Dom Pedro, imperador do Brasil, começou a se mover como liderança para o movimento de independência, a maioria das ações dizia respeito à região de Minas, São Paulo e Rio. “E eles estavam obviamente atentos à necessidade que atendesse os interesses dessas elites. O que foi feito com base num conflito, numa guerra civil bastante truculenta“, ressalta.
O historiador lembra que os processos de independência ocorreram em momentos e formas diferentes ao redor do País, muito considerando como cada região mantinha relações com a coroa. “O movimento de anexação das outras províncias foi um processo violento, com guerras no Nordeste, que logo depois da independência ainda não havia sido pacificadas“, lembra.
“O processo de independência é algo que, por exemplo, para nós, do Norte, aconteceu só depois do 7 de setembro. E aconteceu sobre o peso de um conflito muito grande porque veja a situação do Pará, era muito mais interessante manter os vínculos com Portugal dada a relação histórica que a praça mercantil“, ressaltou.
Para o especialista, é preciso reconhecer o protagonismo de outros agentes no processo de independência. “Apesar das contradições desse processo de transformação dessas diferentes regiões no estado nacional, é preciso transformar numa coisa comum, numa coisa que seja irmanal entre nós. É preciso que nossos diferentes agentes, sendo eles negros, indígenas, LGBTs, religiosos de matriz africana, evangélicos, progressistas, cristãos, não cristãos, enfim, é preciso que todos esses agentes se engajem num projeto comum que efetivamente traga uma independência e uma soberania ao povo brasileiro“, disse.
Desigualdades
Nos últimos meses, esses discursos têm tomado conta do País. Com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a oposição ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), busca emplacar um candidato já pensando nas eleições de 2026, mas apoiados em discursos contra minorias, ações do atual governo de taxação para mais ricos e distribuição de renda.
“Somos um país atravessado por brutais, hierarquias e desigualdades sociais. E essa desigualdade, essas hierarquias, elas funcionais para manter um antagonismo, um antagonismo social de fundo. O antagonismo entre uma população de menos de 1% que é proprietária aí de pelo menos 50% da riqueza nacional, enquanto 75% da nação tem que disputar pouca farinha, que são esses 25% do PIB produzido no Brasil“, conclui o historiador.
Edição por Marcela Leiros Revisão por Gustavo Gilona
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