População indígena do Brasil cresce 84% em relação ao último Censo do IBGE

(Divulgação/Funai)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – As populações originárias brasileiras quase dobraram em pouco mais de uma década, segundo dados parciais divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última segunda-feira, 3, sobre Povos Indígenas no novo Censo Demográfico.

Com a coleta de informações finalizada na Terra Indígena (TI) Yanomami, a maior do País, localizada entre Roraima e Amazonas, mais de 750 mil pessoas dos mais diversos grupos étnicos e, até então desconhecidas pelo instituto, passaram a integrar a base de dados. São, até o momento, 1.652.876 indígenas em todo o território nacional, uma alta de 84,28% em relação aos quase 900 mil indígenas recenseados em 2010. 

Censo Demográfico do IBGE recenseou, até agora, 755 mil novos indígenas em todo o Brasil (Foto: Christian Braga/ISA – Reprodução)

Como os números ainda são preliminares e devem passar pela etapa de tratamento estatístico, de acordo com o IBGE, o indicador pode aumentar até a divulgação dos resultados definitivos, o que deve ocorrer no início do próximo mês de maio.

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Áreas de difícil acesso

Apenas na TI Yanomami, foram recenseadas 27.144 pessoas a mais: 16,8 mil, em Roraima, e mais 10,2 mil, no Amazonas. Nesse total, entram 5.600 indígenas vivendo em áreas consideradas remotas. Por isso, o IBGE teve apoio de agentes e helicópteros da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

“A operação envolveu os ministérios da Justiça e Segurança Pública, da Defesa, dos Povos Indígenas e da Saúde, além do Ministério do Planejamento e Orçamento, responsável pela coordenação dos trabalhos. As instituições do governo federal vinculadas aos ministérios (PRF, Sesai, Funai, Forças Armadas) contaram, ainda, com o apoio do Governo de Roraima”, informou o instituto.

Recuperação X políticas

Os dados finais, que devem sair em cerca de um mês, além de apresentar um novo retrato indígena no Brasil, podem contribuir para a criação e o aperfeiçoamento de políticas públicas em benefício do reconhecimento e da garantia de direitos dessas populações. É como avalia a indigenista, ativista social e coordenadora de projetos da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Neidinha Suruí.

Ao mesmo tempo em que vê o crescimento populacional como um avanço, a ativista pondera que, junto com novos indicadores positivos, aumentam as responsabilidades do governo federal. 

“Passar de 1 milhão [de pessoas] é uma demonstração de que a população indígena está se recuperando, que está voltando a se recuperar, e a ter uma taxa de natalidade um pouco melhor, mas também demonstra que é preciso melhorar o atendimento e a aplicação das políticas públicas”, afirmou Neidinha Suruí à REVISTA CENARIUM. “Um milhão e 600 mil pessoas é muito pouco, se você pensar numa população que vem sendo dizimada desde 1500”, ressaltou, por outro lado.

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A indigenista e ativista social Neidinha Suruí vê o crescimento da população indígena no País como bom sinal de avanço, mas defende o reforço de políticas públicas e garantia de direitos (Kanindé/Reprodução)

Censo 2010

Treze anos atrás, o retrato era bem diferente: o Censo Demográfico de 2010 apontava uma população indígena de 896.917 pessoas, das quais mais da metade, 572 mil, viviam na zona rural e, a outra parte, 324 mil, viviam nas cidades brasileiras, em todos os Estados, incluindo o Distrito Federal. Eles foram incluídos no Censo, pela primeira vez, em 1991. 

Com base nos dados até o ano de 2010, a Região Norte é a que concentra o maior número de brasileiros indígenas: 37,4%, ou seja, 305 mil pessoas. Amazonas é o Estado que lidera, até então, com 55% do total. 

Ainda segundo o IBGE, dez municípios concentram as maiores populações de povos originários, sendo cinco os que têm população superior a 10 mil indígenas: São Gabriel da Cachoeira (AM), São Paulo de Olivença (AM), Tabatinga (AM), São Paulo (SP) e Santa Isabel do Rio Negro (AM). 

“O aumento populacional de indígenas e, agora, com toda essa representatividade ocupando cargos no governo, que antes nenhum povo indígena ocupou, é superimportante para o fortalecimento dos direitos indígenas, para se garantir que os indígenas tenham a sua própria voz. É preciso de mais políticas públicas”, avaliou, por fim, Neidinha Suruí.

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