Redução no preço de carnes cria expectativa no AM: ‘Trabalhador volta a comer’

Neide Moraes se deslocou até o Centro de Manaus para comprar carnes. (Alan Geissler/Revista Cenarium Amazônia)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS – A redução no preço de carnes anunciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta semana, reflete nos comércios, principalmente nos pequenos estabelecimentos, e cria expectativa nos empreendedores, apesar da procura pelo produto em Manaus ainda ser considerada baixa. Há, também, um entusiasmo pela volta do consumo de carne de quem precisou escolher outras prioridades quando os valores eram mais altos.

Entre os cortes, o que teve maior redução foi o filé mignon, com queda de 16,95%. Foi a maior queda de preço de janeiro a agosto de 2023, segundo dados divulgados do instituto. Na média geral, o valor das carnes caiu 9,65%. Todos os cortes analisados registraram queda no acumulado do ano.

Preço das carnes em um estabelecimento da rede de supermercados DB, em Manaus. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

O açougueiro Edmilson Araújo, que trabalha há mais de 50 anos no histórico Mercado Municipal Adolfo Lisboa, no Centro de Manaus, Zona Sul da cidade, afirma que, antes, havia muita procura por osso e miúdos, mas, agora, carnes de segunda e primeira saem mais. Ele comemora o retorno do poder de compra.

PUBLICIDADE

As pessoas estão voltando a comer“, declarou à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, lembrando que a redução nos preços se intensificou nos últimos cinco meses. “Teve um tempo aí que a gente estava vendendo mais osso e pele, porque o preço da carne estava lá em cima. Com essa queda, a procura [por outros cortes] está maior porque o preço caiu“.

Açougueiro Edmilson Araújo trabalha há 50 anos no Mercado Municipal Adolfo Lisboa. (Marcela Leiros/Revista Cenarium Amazônia)

Na banca de Edmilson, os preços das carnes ficaram mais atrativas. O filé mignon era R$ 50 e está R$ 45; a alcatra era R$ 40, está R$ 36; a agulha era R$ 25 e está R$ 20; costela era R$ 22 e está R$ 18; a pá estava R$ 28 e agora está R$ 24.

Economia

A empreendedora Neide Moraes reside no bairro Alvorada 1, Zona Centro-Oeste da cidade, e se deslocou até a Feira da Manaus Moderna, também no Centro de Manaus, para comprar carnes com preços mais acessíveis. Ela não deixou de consumir quando os preços estavam mais elevados, mas comemorou a redução nos valores, que possibilitou comer carne de primeira.

A bisteca, a maminha, tudo está mais em conta. Lá perto da minha casa está R$ 30 a bisteca, e aqui está R$ 25. Já consegui sentir essa redução nos preços“, disse. “Eu continuei consumindo carne, porque cabe no meu bolso, e isso [a redução] é boa porque dá pra comer uma coisinha melhor e com um precinho mais baixo“.

Empreendedora Neide Moraes. (Alan Geissler/Revista Cenarium Amazônia)
Movimento ainda em baixa

Segundo o IBGE, o grupo de alimentação e bebidas teve deflação pelo terceiro mês seguido em agosto, com recuo de 0,85%. No acumulado de 2023, a queda foi de 0,31%. Já o subgrupo de carnes respondeu pela terceira maior queda no acumulado do ano (-9,65%), atrás de óleos e gorduras (-17,35%) e tubérculos, raízes e legumes (-15%). Mesmo assim, a procura pelas carnes ainda não teve a alta esperada, segundo o açougueiro Adamor Ferreira de Almeida.

Açougueiro Adamor Ferreira de Almeida. (Marcela Leiros/Revista Cenarium Amazônia)

Uma coisa fora da realidade que nós estamos vivendo hoje. Nem na época da pandemia, da paralisação, do fique em casa, não estava como está hoje“, diz ele, estimando que o movimento na Feira da Panair, bairro Educandos, também na Zona Sul de Manaus, caiu 90% neste ano. “Essa semana eu não fiz nem R$ 500 reais. Tenho mercadoria lá dentro [da freezer], tenho mercadoria aqui. Eu já trabalhei a semana toda e não consegui fazer o dinheiro que eu gastei na mercadoria“.

No momento, eu não estou conseguindo entender o que as pessoas estão fazendo que esse movimento aqui que teve uma queda. Uma coisa é certa: a população diminuiu a compra“, concluiu.

Filé mignon teve redução de quase 17%; preço das carnes em estabelecimento da rede de supermercados DB, em Manaus. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)
Expectativas e preocupação

O economista Inaldo Seixas destaca que a redução tem um impacto significativo para a renda das famílias e que, somada ao aumento do salário mínimo — R$ 1.320 desde maio deste ano — e manutenção de auxílios, como o Bolsa Família, pode tornar possível um maior poder de compra.

Esse fato da redução da alimentação do domicílio, com destaques para carnes de primeira, aliado ao aumento real da renda do trabalhador, e a manutenção do bolsa família, das transferências de renda, faz com que aquela população que lá atrás estava comendo osso agora coma carne de segunda. Quem comia osso, subiu pra carne de segunda, e quem comia carne de segunda, agora come de primeira. Isso tem um impacto significativo“, afirma.

Economista Inaldo Seixas. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

Ele explica que a redução se deu por um conjunto de fatores, que inclui boa safra de grãos, regime de chuvas e preço das rações bovinas. “Nós tivemos a boa safra de grãos, e os grãos são usados muito na alimentação do gado brasileiro. O comportamento climático, com boas chuvas, fez com que também tivesse bastante pasto, e houve ainda uma diminuição também do preço das rações, tudo isso levou a uma queda significativa no preço da carne“, diz.

Dados foram divulgados pelo IBGE. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

Apesar da expectativa para que as famílias realmente retomem o consumo de carnes, a falta de movimento nos açougues ainda preocupa. “Não é normal um movimento de queda dos alimentos, que exista uma menor procura por produtos alimentícios que tiveram seus preços diminuídos“, afirma Seixas, considerando as possibilidades por essa redução.

Pode ser um momento da economia, das expectativas, mesmo com dois trimestres relativamente bons“, diz ele. “Também pode ser que muita gente aproveitou esse momento de renegociação de dívida e gastou um dinheirinho extra pra isso, isso diminuiu um pouco a disponibilidade da renda para o consumo“.

Clientes em supermercado da rede DB. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)
PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.