Regras para indicação de diretores na Polícia Federal mudam e delegados veem retrocesso

Ministro da Justiça, Flávio Dino (Reprodução/Youtube)
Da Revista Cenarium*

BRASÍLIA – O ministro da Justiça, Flávio Dino, afrouxou as regras para indicação de diretores na Polícia Federal por meio de alteração de uma portaria de 2018.

Sem a mudança, o novo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, teria menos opções de delegados para escolher para a cúpula da corporação.

Procurado, o ministério afirmou que a mudança não resulta em afrouxamento e que a norma anterior criava uma reserva de mercado para delegados.

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O novo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o ministro da Justiça, Flávio Dino, durante cerimônia de posse no ministério
O novo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o ministro da Justiça, Flávio Dino, durante cerimônia de posse no ministério (Mauro Pimentel – 2.jan.23/AFP)

A alteração nas regras para nomeação foi publicada no Diário Oficial da União nesta quarta-feira (4). Internamente, a medida foi vista como uma flexibilização de critérios.

Pela portaria de 2018, só poderia ser diretor o delegado da classe especial, com mais de dez anos de exercício no cargo e com passagem por posto em comissão do “Grupo Direção e Assessoramento Superior —DAS 101.3 ou superior por, no mínimo, 1 (um) ano”.

Dino reduziu os requisitos necessários e, a partir de agora, o delegado precisa apenas ser da classe especial para ser indicado para uma diretoria. O mesmo critério passa a valer para a nomeação do corregedor do órgão.

Com a antiga formulação da portaria, os delegados precisariam ter ocupado o cargo de coordenador ou superintendente regional por ao menos um ano antes de serem indicados para as diretorias da PF.

A atual gestão exonerou toda a antiga direção da PF já no primeiro dia de governo. Embora já tenha escolhido os nomes para compor a cúpula, Andrei Rodrigues ainda não formalizou a nomeação dos novos diretores.

O senador eleito Flávio Dino (PSB) ao sair de reunião com integrantes da transição de governo no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Brasília, sendo um dos cotados para assumir o Ministério da Justiça
O senador eleito Flávio Dino (PSB) ao sair de reunião com integrantes da transição de governo no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) (Cristiano Mariz – 17.nov.22/Agência O Globo)

Delegados consultados pela Folha veem o afrouxamento como um retrocesso no sistema de governança interna da PF, uma vez que ele reduz a necessidade de experiência em gestão para os delegados interessados no cargo de direção.

Segundo esses policiais, a imposição do requisito era fruto do aperfeiçoamento da governança interna e foi sugerida no passado por órgãos de fiscalização do próprio governo federal.

O afrouxamento foi a primeira medida tomada por Dino em relação a mudanças na PF.

Em dezembro, durante cerimônia em que anunciou o ex-governador do Maranhão como ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que sua missão era consertar o funcionamento da PF.

Nós não queremos que policiais fiquem dando show nas investigações antes de investigar. Queremos que primeiro trate com seriedade as investigações. Nós sabemos que quanta gente se meteu na política de forma desnecessária“, disse.

No mesmo dia em que anunciou Andrei Rodrigues como nome para a direção da PF, Flávio Dino falou em restauração da legalidade e da “plena autoridade” dos policiais.

Nós levamos em conta a restauração da plena autoridade e da legalidade nas polícias e também a experiência profissional comprovada, inclusive na Amazônia brasileira. O delegado Andrei exerceu suas funções na Amazônia brasileira, que é uma área estratégica desse governo“, afirmou.

Questionado sobre o motivo do afrouxamento, o ministério respondeu que “os critérios estão mais rígidos” com a mudança e que “agora precisa obrigatoriamente ser integrante da classe especial, o que pressupõe, ao menos, 13 anos de efetivo exercício como delegado ou perito“.

Nós não acabamos com requisitos, nós estamos valorizando servidores com ampla experiência e capacitação“, disse o ministério.

De acordo com a pasta, a regra anterior resultava em uma reserva de mercado e a Constituição não ampara esse tipo de situação, uma vez que ela impediria “salutares alternâncias de poder”.

NOVA CÚPULA DA POLÍCIA FEDERAL:

  • Andrei Augusto Passos Rodrigues: Direção-Geral
  • Gustavo Paulo Leite de Souza: Diretoria-Geral Adjunta
  • Ademir Dias Cardoso Junior: Diretoria de Tecnologia da Informação e Comunicação
  • André Luis Lima Carmo: Diretoria de Administração e Logística
  • Guilherme Monseff de Biagi: Diretoria de Gestão de Pessoas
  • Helena de Rezende: Corregedoria-Geral
  • Humberto Freire de Barros: Diretoria da Amazônia e Meio Ambiente
  • Luciana do Amaral Alonso Martins: Diretoria de Ensino
  • Luiz Eduardo Navajas Telles Pereira: Chefia de Gabinete
  • Otávio Margonari Russo: Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos
  • Ricardo Andrade Saadi: Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção
  • Roberto Reis Monteiro Neto: Diretoria Técnico-Científica
  • Rodrigo de Melo Teixeira: Diretoria de Polícia Administrativa
  • Rodrigo Morais Fernandes: Diretoria de Inteligência
  • Valdecy Urquiza: Diretoria de Cooperação Internacional

(*) Com informações da Folhapress

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