Senador bolsonarista distorce declarações de Lula e dissemina fake news

Senador Mecias de Jesus e o Presidente Lula (Mateus Moura/Revista Cenarium)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

BOA VISTA/MANAUS – O senador por Roraima Mecias de Jesus (Republicanos-RR), líder do partido no Senado Federal, distorceu uma declaração do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e espalhou fake news sobre o garimpeiros ilegais. As declarações foram feitas em entrevista à Revista Veja e ao site OPoder/Imediato,

Com base em um discurso de Lula, Mecias, que é aliado de Bolsonaro, atribuiu ao presidente uma fala não dita e informou, equivocadamente, que garimpeiros ilegais desocuparam, por conta própria, a Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, quando, na verdade, eles só saíram após uma operação da Polícia Federal (PF), amplamente noticiada.

Lula visitou Roraima no dia 13 de março deste ano, durante a 52ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas, na Terra Raposa Serra do Sol, no município de Normandia (distante 185 quilômetros de Boa Vista) e defendeu a demarcação de terras indígenas. O evento discutia a proteção de terras, a gestão de recursos naturais e a agenda indígena para 2023. 

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“A verdade tem que ser dita toda hora: os indígenas não estão ocupando a terra de ninguém. Eles estão apenas brigando para ficar com aquilo que era todo seu e que os invasores, desde 1500, vem tirando pedaços de terra que pertenciam a todos a vocês”, afirmou o presidente.

Mecias falou por conta do seu discurso sobre demarcação. Segundo o senador, depois do evento, propriedades foram invadidas em Bonfim e Alto Alegre.

“Entendo que é completamente descabida qualquer tipo de invasão e essa fala é um incentivo. Nosso Estado já possui 46 % de seu território com demarcações. Também precisamos produzir alimentos e dar subsistência ao nosso povo”, declarou o senador, afirmando que depois do evento, três fazendas da região foram invadidas.

Veja a fala na íntegra do presidente do Lula:

Pronunciamento do presidente em Roraima (Reprodução/Tv Brasil)

Veja a declaração do senador Mecias:

Trecho da declaração do senador Mecias de Jesus (Reproduçã/Imediato)

Fora de contexto

O advogado do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Ivo Macuxi, rebateu a declaração do senador Mecias de Jesus. Para ele, o presidente não incentivou a invasão de terras no Estado e que o senador tirou de contexto a declaração. “O presidente não incentivou a invasão de terras. Ele simplesmente falou o que já está na Constituição. Isso sempre incomoda os grupos políticos que querem se apropriar das terras públicas, principalmente terras indígenas“, rebateu a liderança indígena.

‘Operação Libertação’

Em outro momento da entrevista concedida ao OPoder/Imediato, o senador afirmou que os garimpeiros saíram de forma voluntária da TI Yanomami, mas uma reportagem produzida pela TV Cultura mostrou que os garimpeiros continuam na TI.

Órgãos ambientais como: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Polícia Federal (PF) e as Forças Armadas continuam atuando na região para retirar os invasores. A PF, por exemplo, deflagrou a Operação Libertação, com o objetivo de proteger a população Yanomami por meio da interrupção do garimpo ilegal.

Trecho da declaração do senador Mecias de Jesus (Reprodução/Imediato)

Indígenas Yanomami passam por uma crise humanitária causada pela invasão do garimpo ilegal no território indígena. Nos últimos quatro anos, segundo o Ministério da Saúde, 570 crianças Yanomami morreram por causas evitáveis (falta de tratamento médico e prevenção), na região, tem vítimas de desnutrição, malária, pneumonia e contaminação por mercúrio. Em 2022, foram 99 mortes de crianças. 

Conexão suspeita

Um relatório divulgado pela ONG Transparência Brasil, no dia 3 de abril, analisou a conexão do senador com o ex-coordenador do Distrito de Saúde Indígena (DSEI) Yanomami, Rômulo Pinheiro de Freitas. Segundo a apuração, o caso evidencia a vulnerabilidade às interferências políticas nos DSEIs, que deveriam ser comandados por pessoas com qualificação técnica adequada, diferentemente de Rômulo. Além disso, ele possuía interesses comerciais junto aos órgãos antes de ser coordenador, por meio das empresas de seu irmão, Ricardo Pinheiro de Freitas.

Mecias é alvo de investigação sigilosa do Ministério Público Federal (MPF), suspeito de agir para favorecer a contratação da Táxi Aéreo Piquiatuba pelo governo federal para atuar com transporte em terras indígenas. A empresa foi acusada pelo MPF, em 2020, de ser o braço do garimpo ilegal em Roraima. No cofre de seu fundador, Armando Amâncio da Silva, foram apreendidos 44 kg de ouro proveniente de garimpo ilegal, segundo processo em andamento na Justiça Federal de Roraima.

Desvio de medicamentos

Em novembro do ano passado, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Yoasi, com objetivo de investigar um esquema de desvio de recursos públicos federais do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y). Yoasi, para os Yanomami, é irmão de Omama e responsável pela morte no mundo.

Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal, em Roraima. Entre os alvos estavam os dois ex-coordenadores do Dsei Yanomami, Rômulo Pinheiro e Ramsés Almeida da Silva – exonerado no dia 22 de novembro; a farmacêutica Cláudia Winch Ceolin; o assessor de Ramsés, Cândido José de Lira Barbosa; e o empresário Roger Henrique Pimentel, dono da empresa Balme Empreendimentos Ltda.

As suspeitas são que apenas 30% de mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo DSEI-Y teriam sido devidamente entregues. Com o apoio de agentes públicos, os recebimentos das entregas seriam fraudados e indicariam o cumprimento integral da contratação.

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