Sincretismo: Imaculada Conceição e Oxum são celebradas no Amazonas

Nossa Senhora da Conceição e Oxum são sincretizadas. (Arte: Mateus Moura)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – A data de 8 de dezembro, no Amazonas, é marcada por celebrações dos devotos de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Estado, e dos filhos de Oxum, orixá cultuado por religiões de matriz africana. As entidades são sincretizadas e, apesar de terem histórias diferentes tanto para a Igreja Católica quanto para a Umbanda e o Candomblé, respectivamente, representam o amor e a fertilidade.

Nossa Senhora da Conceição, ou Imaculada Conceição, é um dogma da Igreja Católica que fala sobre a concepção de Jesus no ventre da Virgem Maria. No Amazonas, a data, que é feriado estadual, também é dia de comemoração para a família de Maria da Conceição Fortes da Silva. Ela nasceu em 8 de dezembro de 1932 e recebeu seu nome em homenagem à santa.

A devoção fez Maria da Conceição ir, todos os anos, para a procissão em homenagem à santa, mas uma queda impossibilitou a celebração da idosa nos últimos dois anos. “É triste, mas eu comungo todo domingo“, diz ela à REVISTA CENARIUM.

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O amor pela Imaculada Conceição não ficou apenas no nome e também foi repassada para a família, como conta César Gomes, um dos nove filhos de Maria da Conceição.

Se a gente foi catequista de Crisma, Iniciação Cristã, grupo de Liturgia, se a gente sempre foi envolvido na igreja, é porque a mamãe nos levou. É uma graça para nós continuarmos essa tradição de estarmos na Igreja Católica, de participarmos dos movimentos pastorais“, explica ele.

Maria da Conceição Fortes da Silva, 90 anos, nasceu em 8 de dezembro e recebeu o nome em homenagem à Imaculada Conceição. (Arquivo Pessoal)

Deusa do Amor

Na capital amazonense, os filhos de Oxum celebram, nesta quinta-feira, 8, o 18º Balaio de Oxum para cultuar a divindade ancestral feminina que representa as águas doces, domínio dos rios e cachoeiras, do ouro e fertilidade. A celebração tem como tema O Encontro das Águas é o altar natural de Deus que une irmãos de vários credos em defesa da preservação da vida“.

À REVISTA CENARIUM, a diretora do festival cultural e filha de Oxum, Nochê Agonjai Flor de Navê, conta que a divindade, segunda esposa de Xangô, representa a sabedoria e o poder feminino. Além disso, segundo ela, é vista como deusa do ouro, do jogo de búzios e do rio Oxum, ou Osun, que fica no continente africano.

Oxum é o próprio amor, as águas doces do Amazonas, os lagos, as cachoeiras e toda a fecundidade e fertilidade da nossa natureza submersa nas nossas águas. Por isso, nós, povos de religiões de matriz africana, amamos essa deusa, por seu grande amor. Sem Oxum não tem água, sem água não há vida“, declara ela.

Leia também: ‘Balaio de Oxum’: em Manaus, celebração dedicada ao orixá do amor e fertilidade acontecerá em dezembro

Nochê Agonjai Flor de Navê conta que Oxum representa a sabedoria e o poder feminino. (Kevin Tomé / Flickr)

Sincretismo

O sacerdote de culto afro-brasileiro, James Rios, explica que o sincretismo surgiu no período escravagista, quando os afrodescendentes não podiam cultuar livremente suas divindades.

As pessoas, por conta de sincretismo, colocam nossa senhora da Conceição ou então outra santa, e dizem que representa Oxum, mas é só uma questão na época que os negros foram escravos, eles não podiam cultuar o lado orixá, o candomblé, e então eles pegavam imagem e diziam que estavam cultuando aquela imagem da Igreja Católica, do santo, para que os seus patrões aceitassem, porque não aceitavam o que chamavam de feitiçaria e macumba“, explica ele.

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