Taxa de letalidade por Covid-19 em Manaus é a maior do AM e está acima da média brasileira

Carolina Givoni – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Prefeitura de Manaus, sob a gestão do prefeito David Almeida (Avante), tem explorado a exaustão, os recordes da vacinação contra a Covid-19 na cidade, dando uma falsa impressão de segurança, mesmo com a pandemia ativa. Na propaganda institucional, Almeida exalta números como ‘1 milhão de vacinados’ ou ‘141 mil vacinados’ no mutirão realizado há vários dias na cidade, fator positivo do ponto de vista científico, mas que não apaga o fato de a capital amargar a pior taxa de letalidade do Estado (4,96%), que está 77,1% acima da média nacional e 18,92% maior que a média do Amazonas.

Os cálculos foram feitos com base em informações do Boletim Epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) do último dia 20. Com isso, a taxa de letalidade aponta o percentual de mortes sobre o número de infectados. Atualmente, a letalidade por Covid-19 no Brasil é de 2,8 no Brasil e de 3,33 no Amazonas, segundo o portal Coronavírus Brasil e o Boletim FVS, respectivamente. Manaus registrava, até o último dia 20 de junho, 9.114 mortes provocadas pela Covid-19, ou, 68,9% do total do Estado, que já contabiliza 13.220 óbitos pela doença.

Contradições

Para de ter uma ideia da dimensão, só os óbitos registrados na capital já superam em 16,6% a população do município de Itamarati, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), soma 7,814 pessoas. Mesmo com o cenário de instabilidade, o prefeito vem, nas últimas semanas, participando de diversos eventos que vêm acompanhados de aglomerações, situações contraindicadas por autoridades de saúde. As últimas delas foram a reinauguração da Bola das Letras, na zona Oeste, e a comemoração pelo registro de 1 milhão de vacinados contra a Covid-19 em Manaus.

Os mais de 1 milhão de vacinados são fruto da soma das primeira e segunda doses aplicadas. Apesar de ser um número significativo, apenas 13,9% da população total está imunizada com as duas doses da vacina, o equivalente a 309.659 pessoas, de um universo de 2.219.580 habitantes, segundo o dado populacional mais recente do IBGE. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e diversos especialistas, cientistas, representantes de entidades médicas e afins vêm reforçando, diariamente, a importância de medidas não farmacológicas, como o uso da máscara facial, a higienização das mãos e, especialmente, o distanciamento social, medidas que associadas à vacina podem ajudar a superar a pandemia do novo coronavírus.

Índices

Em 2020, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS no Brasil, destacou, em evento em Manaus, que a baixa cobertura da Atenção Básica na capital, é um fator que contribui para o alto índice de mortes por Covid-19. Entre os 62 municípios do Amazonas, Manaus ocupa o primeiro lugar em letalidade. Enquanto isso, o último dado atualizado sobre a saúde primária, disponível no sistema e-Gestor, vinculado ao Ministério da Saúde (MS), aponta que a cobertura da Atenção Básica na capital é de 67,28%. Ou seja: 9,82 menor que a média estadual, que inclui todos os municípios amazonenses e é de 77,10%.

O cenário é ainda pior quando se trata da Estratégia Saúde da Família (ESF), que atua diretamente na prevenção a doenças crônicas, consideradas fatores de risco para o agravamento de quadros da Covid-19, por exemplo. Enquanto Manaus registra apenas 45,52%, o Amazonas chega a 64,12%. Na prática, Manaus deixa de fora 1,18 milhão de pessoas da Estratégia. Os dados são públicos e abertos a pesquisa de qualquer cidadão.