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Veja como casais homoafetivos dos EUA receberam bênçãos após autorização do papa
Casal homoafetivo se beija em cerimônia de bênção (Reprodução/Instagram/@aiascostta)
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20 de dezembro de 2023
Da Revista Cenarium Amazônia*
NOVA YORK | THE NEW YORK TIMES – Padre há mais de duas décadas, o jesuíta James Martin já concedeu milhares de bênçãos — em terços, em bebês, em casas, em estátuas de santos, em noivas e noivos.
Mas nunca antes lhe foi permitido abençoar um casal do mesmo sexo — até a última segunda-feira, 18, quando o papa Francisco anunciou a permissão para essas bênçãos em um comunicado histórico.
Na manhã de terça, Damian Steidl Jack, 44, e seu esposo, Jason Steidl Jack, 38, ficaram diante de Martin em uma sala de estar em Manhattan, em Nova York. O casal, um pouco atrasado devido à lentidão no metrô, estava vestido casualmente. Damian, um designer floral, elogiou Martin pelo cheiro de pinheiro da árvore de Natal.
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De acordo com a advertência do Vaticano de que essa bênção não deve ser realizada com “qualquer roupa, gestos ou palavras próprias de um casamento”, Martin não usava vestes e não leu nenhum texto.
Não há bênção para casais do mesmo sexo no livro de bênçãos da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos. Então, ele selecionou um favorito do Antigo Testamento. “Que o Senhor te abençoe e te guarde”, começou Martin, tocando os ombros dos dois homens.
Eles inclinaram levemente a cabeça e seguraram as mãos. “Que o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre você e lhe conceda graça. Que o Senhor volte o seu rosto para você e lhe dê alegria e paz”.
“E que Deus todo-poderoso te abençoe”, disse ele, fazendo o sinal da cruz, “o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém.” E então, emocionados, os três homens se abraçaram.
Martin é o defensor mais proeminente dos católicos LGBTQIAPN+ nos Estados Unidos da América (EUA). Ele se encontrou, com frequência, com Francisco para discutir como tornar a igreja católica mais inclusiva e, em outubro, participou de um encontro global sobre o futuro da igreja a convite do papa.
Na manhã de terça-feira, ele estava longe dos corredores institucionais. O jesuíta estava em casa. Martin esperou anos pelo privilégio de fazer uma oração como essa, por mais simples que fosse, em público. “Foi muito bom poder fazer isso publicamente”.
A decisão do papa foi recebida como uma vitória histórica pelos defensores dos católicos homoafetivos, que a descrevem como um gesto significativo de abertura e cuidado pastoral e um lembrete de que mesmo uma instituição cuja idade é medida em milênios pode mudar.
A decisão não anula a doutrina da igreja de que o casamento pode ser realizado somente entre um homem e uma mulher. Portanto, não permite que os padres realizem casamentos homoafetivos.
O novo texto se esforça para diferenciar o sacramento do casamento — que deve ocorrer em uma igreja — e uma bênção, um gesto mais informal. E a bênção de um casal do mesmo sexo por um padre não deve ocorrer em conexão com uma cerimônia de casamento civil, diz o documento.
A notícia da decisão do papa se espalhou rapidamente entre os católicos homoafetivos, muitos dos quais começaram a se preparar para suas próprias bênçãos após a movimentada temporada de Natal.
Na manhã do anúncio do papa, o esposo de Michael McCabe, Eric Sherman, correu para o escritório em seu apartamento em Forest Hills, no Queens. Sua relação de 46 anos poderia, enfim, ser abençoada.
“Você espera tanto tempo para que a igreja mude de ideia, que acaba desistindo de ter esperança”, diz McCabe, 73, que frequenta a missa todos os domingos na Igreja de São Francisco Xavier, no bairro de Chelsea, em Manhattan.
O casal se casou em 2010, em Connecticut, antes de os casamentos entre pessoas do mesmo sexo se tornarem legais em seu Estado natal de Nova York. Eles, há muito tempo, se resignaram à posição da igreja, mesmo que não tenham feito as pazes completamente.
“Eu sei que eu e meu relacionamento com meu esposo são coisas boas”, diz McCabe, que ensinava catecismo para alunos da primeira série na igreja.
Embora a decisão do papa não reconheça o casamento de McCabe, ele afirma estar feliz. Depois de comemorar com seu esposo, enviou um e-mail para seu padre. Eles planejam receber uma bênção no início de 2024.
Embora muitos católicos tenham comemorado a decisão do papa, outros acharam que era pouco e tarde demais. Algumas pessoas LGBTQIAPN+ que deixaram a igreja há anos, por se sentirem indesejadas, disseram que era uma medida insuficiente e que não os faria retornar.
Thomas Molina-Duarte, 37, assistente social em Detroit, foi membro ativo de sua paróquia católica local por muitos anos. Mas quando ele e seu esposo se casaram, tiveram que fazer o casamento em uma igreja episcopal e acabaram se juntando a uma “igreja doméstica”, onde se reúnem com um pequeno grupo para fazer leituras minuciosas de textos da Bíblia.
“Essa notícia não me fará voltar para a igreja”, diz Molina-Duarte sobre a decisão do papa. “Encontramos uma comunidade de outras pessoas com as quais sentimos que poderíamos ser nós mesmos”.
Na cidade de Nova York, Damian e Jason Steidl Jack, que se casaram no ano passado, já haviam discutido a possibilidade de uma bênção com Martin, um amigo de longa data de Jason. Quando Martin enviou uma mensagem de texto, na tarde de segunda-feira, e perguntou se eles queriam uma bênção, aceitaram de imediato.
“A graça de Deus está agindo em nossas vidas, quer o Vaticano faça um anúncio ou não”, disse Jason, professor assistente de estudos religiosos na Universidade de São José, no Brooklyn. “Mas estamos ansiosos pelo apoio de nossas comunidades e de nossos pastores”.
Caminhando de volta para o metrô, após a bênção, Jason e Damian disseram que o ato parecia tanto comum quanto profundo. “É uma das muitas graças”, disse Jason.
Eles estavam a caminho de encontrar a mãe de Damian, no Walmart, local para comprar mantimentos de Natal. “É como você disse”, disse Jason ao esposo, “é como se estivéssemos reivindicando nosso espaço”.
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