Início » Cenarium Rondônia » Amazônia Legal concentrou 70% dos assassinatos em conflitos de terra em 2022
Amazônia Legal concentrou 70% dos assassinatos em conflitos de terra em 2022
Rondônia e Maranhão concentram mais de 40% dos assassinatos cometidos na Amazônia brasileira (Andressa Zumpano/Comissão Pastoral da Terrra)
Compartilhe:
20 de abril de 2023
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – Brasileiros continuam morrendo e, com cada vez mais frequência, em conflitos agrários de Norte a Sul do Brasil, de acordo com uma série de levantamentos anuais feitos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Só em 2022, 47 pessoas perderam a vida em fazendas, assentamentos ou até mesmo em reservas e Terras Indígenas (TIs): 30% mais que no ano anterior. Além disso, os dados da pastoral, divulgados nesta semana, colocam o território da Amazônia Legal na liderança das ocorrências de assassinato: 70,21% das mortes violentas ocorreram nos Estados da região.
Para chegar aos indicadores de violência no espaço agrário, a CPT relaciona o total de ocorrências com os três principais motivos de conflitos: terra, água e trabalho. Rondônia foi o único Estado brasileiro com registro de ocorrências em todas essas categorias e, empatado com o Maranhão, teve o maior número de mortes.
Com 7 vítimas cada, os dois Estados concentram mais de 40% dos assassinatos cometidos na Amazônia brasileira, somente no ano passado, segundo o Caderno de Conflitos no Campo 2022.
PUBLICIDADE
“Esses dados apresentaram, em especial, para a Região Amazônica, que a natureza perversa do agronegócio, com expansão violenta, se mantém como uma sistemática constante”, explica o assessor jurídico da Comissão Pastoral da Terra, em Rondônia, Wellington Lamburgini.
Além de Rondônia ter registrado, proporcionalmente, o maior número de assassinatos em relação aos demais Estados brasileiros, como também aponta Lamburgini, só nos últimos cinco anos, o Estado acumulou 26 mortes violentas no campo. Entre essas vítimas está o líder e ativista indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, morto há exatos três anos, por denunciar extração ilegal de madeira no território do povo dele, a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau.
Mortes no campo em Rondônia, nos últimos 5 anos:
Ano
Total de vítimas
2018
6
2019
1
2020
1
2021
11
Fonte: CPT
Além dos indígenas, desde 2018, as vítimas em Rondônia têm sido pessoas sem-terra, posseiros de terras, assentados e até trabalhadores assalariados. Já os locais de conflito são os mais diversos: de fazendas a reservas ambientais.
Já em todo o País, as ameaças de morte aumentaram 43%, enquanto as tentativas de homicídio saltaram 272% em relação a 2021. Com isso, os sujeitos mais impactados por essa violência continuam sendo:
indígenas: 28,07%
posseiros: 19,67%
quilombolas: 16,07%
sem-terra: 11,33%
O estudo aponta como os principais sujeitos causadores de conflitos, fazendeiros (23,06%), governo federal (16%) e os empresários (13,80%).
“Em especial, em 2022, registramos uma elevação dos atentados, das violências cometidas contra os povos indígenas. Nesse sentido, os dados trazidos pela CPT conclamam a sociedade brasileira para a urgência da resolução da questão agrária. Ainda temos um problema agrário para se resolver no Brasil”, lamentou o assessor jurídico da CPT-RO.
A Comissão Pastoral da Terra monitora o avanço da violência no campo desde 1985. Nesses quase 40 anos, houve um verdadeiro massacre: 59 conflitos que resultaram na morte de mais de 300 pessoas. Pará, Rondônia e Roraima, justamente na Região Amazônica, lideram em número de vítimas e de conflitos desde meados dos anos 1980.
Estados líderes em mortes e conflitos no campo desde 1985:
Estado
Total de vítimas
Total de conflitos
Pará
155
30
Rondônia
40
9
Roraima
33
5
Fonte: CPT
Casos emblemáticos integram esses números: o indigenista licenciado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Bruno Araújo Pereira, e o jornalista britânico Dominic Mark Phillips (Dom Phillips), que o acompanhava pelo Vale do Javari, no Amazonas, cruelmente assassinados por pescadores ilegais, em junho do ano passado, também estão nessas estatísticas.
Ferida aberta
A CPT-RO ressalta que a maior parte dos assassinatos ocorridos em Rondônia se deram numa região hoje conhecida como Zona de Desenvolvimento Sustentável Abunã-Madeira, anteriormente denominada Amacro, área de fronteira agrícola entre o sul do Amazonas, leste do Acre e noroeste de Rondônia. Para a pastoral, o projeto pautado pelo agronegócio “manipulou, mais uma vez, a máquina pública e o Estado para favorecer interesses próprios”.
“Mascarado pelo discurso de valorização da bioeconomia, mas que, na verdade, se caracterizava pelo aumento de mortes, desmatamento e queimadas, a partir da valorização da economia da morte”, critica a Comissão Pastoral da Terra Regional de Rondônia.
À REVISTA CENARIUM, Roberto Ossak, membro da coordenação colegiada da CPT-RO, avalia que “o Estado do Amazonas também tem registrado um número expressivo de violência no campo, que não se apresentava anteriormente”.
“Esse registro de violência contra a pessoa, contra os povos e os territórios das comunidades, na Região Amazônica, é o avanço do agronegócio, que vem se expandindo nessa região de forma agressiva e violenta, contra as comunidades e contra os povos”, analisou Ossak.
Faltam soluções
Já Wellington Lamburgini destaca que os dados apresentados pela CPT, à sociedade brasileira, há quase quatro décadas, “evidenciam que o campo brasileiro carece de uma resposta efetiva e que demanda, com urgência, do Estado brasileiro, uma resposta eficiente para as demandas dos territórios, seja regularização fundiária, seja reforma agrária, determinação constitucional ainda não cumprida pelo Estado, e que a sua omissão causa morte e sofrimento”, comentou.
“O sangue que se derrama no campo brasileiro é o sangue da ganância da expansão do lucro sobre os territórios, sobre a natureza, trazendo morte e destruição em nome do lucro e desrespeitando os direitos tradicionais”, concluiu Lamburgini.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.