Com histórico de luta, indígena Sateré-Mawé do Amazonas assume cargo no Governo Lula

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Jecinaldo Sateré, líder indígena do povo Sateré-Mawé, habitante dos rios Andirá e Marau, entre os municípios de Parintins, Barreirinha e Maués, no Amazonas, foi nomeado, na última quarta-feira, 12, coordenador dos Direitos Sociais Indígenas do Departamento de Promoção da Política Indigenista da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas. Jecinaldo é um ativo militante da causa desde os anos 1980. Durante um debate na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, em 2008, ele jogou um copo cheio de água no então deputado federal, pelo Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro.

O líder Sateré-Mawé tem o aval de Sonia Guajajara, titular do Ministério dos Povos Indígenas (MPI); da presidente da Funai, Joenia Wapichana e, de acordo com o Portal Koiote, tem apoio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e de outras entidades indígenas e indigenistas da Amazônia. Por sua linha de atuação à frente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo tem trânsito nos escalões do novo governo. O líder Mawé há muito conhece Joênia Wapichana, com quem tem histórico de lutas pelas pautas dos povos originários.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o antropólogo Alvatir Carolino fez uma avaliação do nome e da trajetória de Jecinaldo Sateré. “É importante notar que a luta de Jecinaldo vem de décadas, antes mesmo da criação de um Ministério dos Povos Indígenas, portanto, é um nome importante e situa o Estado do Amazonas dentro da conjuntura de estabelecimentos de ministério específico para os povos indígenas, e o importante é que ele tem conhecimento de causa nas múltiplas dimensões das lutas por direitos sociais dos povos indígenas do Brasil”, avaliou.

Alvatir continuou a análise. “Ele tem trânsito político dentro dos movimentos sociais indígenas, dentro do mundo acadêmico, e trânsito no ambiente político. Trata-se de um nome que tem respaldo e a chancela de muitas organizações indígenas do Brasil. Espero que ele tenha um bom desempenho na gestão dele junto à ministra”, desejou. “Acrescento que os povos indígenas estão diretamente ligados à questão dos créditos de carbono, no que incide diretamente nos direitos sociais desses povos na hora em que se sentarem à mesa de negociações”, destacou.

Embate

Em 2008, o debate sobre a demarcação da Reserva Serra do Sol, em Roraima, dominava a opinião pública. Em uma audiência na Câmara dos Deputados, uma discussão acalorada, entre parlamentares, acontecia. A demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol significaria um baque no agronegócio, já que nas terras da reserva havia grandes plantações de arroz. O então deputado federal pelo PP do Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro, xingou, como de costume, os indígenas e demais segmentos minoritários.

Jecinaldo Sateré, presente ao evento, não perdeu tempo e jogou um copo cheio de água em Bolsonaro. Ali, Bolsonaro foi taxado de inimigo pelos indígenas. Revoltado por ter sido atingido por Jecinaldo, Jair Bolsonaro retrucou: “É um índio que está a soldo aqui em Brasília, veio de avião, vai agora comer uma costelinha de porco, tomar um chope, provavelmente, um uísque, e quem sabe telefonar para alguém para a noite sua ser mais agradável. Esse é o índio que vem falar aqui de reserva indígena. Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens“, depreciou o então parlamentar.