Concurso da PM-PA exclui conhecimentos amazônicos e concurseiros veem desvantagem

Concurso vai aumentar efetivo para a COP-30 (Bruno Cecim/Agência Pará)
Daleth Oliveira – Da Revista Cenarium Amazônia

BELÉM (PA) – O edital do concurso público da Polícia Militar do Pará (PM-PA), lançado na última quarta-feira, 20, desagradou professores e concurseiros paraenses. Isso porque o certame, que tem o objetivo de ampliar o efetivo para a segurança da Conferência Mundial do Clima (COP-30), realizada em 2025 em Belém (PA), não cobra conhecimentos gerais da região amazônica dos candidatos.

Esta é a primeira vez que conteúdos geográficos e históricos do Pará e da Amazônia são excluídos de um processo seletivo da PM do Estado. O geógrafo Aiala Colares, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, criticou a decisão da Secretaria de Estado de Planejamento e Administração (Seplad), que realiza o concurso público.

É pertinente termos um grupo de policiais militares que tenham conhecimento acerca da realidade da região amazônica, e esse conhecimento deve ser adquirido, inclusive anterior à formação. Além disso, há uma necessidade de criar um mecanismo de seleção neste concurso público que considere, sobretudo, os candidatos do Pará, que já lidam com as questões problemáticas que o estado enfrenta, seja no campo da segurança pública, seja no campo das questões ambientais”, considera Aiala.

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Aiala Colares (Reprodução/Arquivo Pessoal)

São 4,4 mil vagas abertas neste concurso da PM-PA, sendo 4 mil para praças e 400 para oficiais. Os salários variam entre R$ 4,9 mil e R$ 5,8 mil. Para ambos os cargos, apenas Língua Portuguesa e Informática são disciplinas de conhecimentos gerais obrigatórias, além de Raciocínio Lógico, exclusiva para os cargos de oficiais. 

‘Edital prejudica o Estado’

O professor de curso preparatório, Alessandro Pinon, também discorda da exclusão dos conteúdos das provas. “A ausência da disciplina Atualidades, que trata da Amazônia e do Pará, prejudica o tipo de servidor público que o Estado pretende ter, haja vista, que a disciplina além de humanizar o processo, traz questões pertinentes sobre a nova dinâmica de crime no Pará que se associa cada vez mais para o interior da floresta”, defende o geógrafo Alessandro Pinon.

A concurseira paraense, Fyama Leão, 30, que está se preparando para se tornar uma policial, lamentou a retirada do conteúdo do edital. “Como esse é um concurso estadual, é uma perda muito grande para a qualidade dos futuros profissionais que precisam de conhecimentos sobre o Pará. Atualidades é uma disciplina de extrema importância para a valorização de nossa cultura  regional e tirar essa disciplina do edital é desvalorizar uma parte da nossa cultura”, declarou.

Fyama Leão (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Conteúdo é cobrado em outros estados

O oficial da Justiça Federal e professor de curso preparatório para concursos públicos, Victor Moraes, afirma que é comum a cobrança de Atualidades e perspectivas históricas ou geográficas nos editais de polícias militares “em virtude das próprias atribuições e peculiaridades do cargo”. Por isso, é legítimo o estranhamento dos concurseiros.

A Polícia Militar é a polícia ostensiva e a linha de frente no combate à criminalidade, atuando em todas as regiões do estado, mesmo nos mais longínquos. Por isso, se faz fundamental o conhecimento das peculiaridades regionais, sobretudo aos candidatos que são naturais de outras regiões”, explica Moraes.

Em relação a isso, o professor Alessandro comenta que os candidatos da região ficam em desvantagem com os demais estudantes do país.

Muitos candidatos vêm de outros estados e não conhecem a realidade do Pará, assim, a presença da disciplina seria uma forma de fazer o concurseiro conhecer previamente a região pela qual deseja servir e proteger a sociedade. Já a ausência, reforça a desigualdade entre as unidades federativas, pois o concurseiro paraense, quando concorre às vagas de outros estados, têm que estudar o local porque normalmente é cobrada a disciplina Atualidades regionais, mas quando o concurso ocorre no Pará não é exigido”, argumenta Pinom.

Paraenses acreditam que edital não valoriza cultura e história da região (Marcelo Seabra/Agência Pará)

A paraense Paula Farias, que busca uma vaga de praça na PM, também acredita que a exclusão dos conteúdos prejudica os candidatos do estado.

Eu não gostei da ideia de tirar atualidades, primeiro porque todos os outros estados sempre tiveram e ainda têm em seus concursos e usam como base a geografia e história local, até mesmo para beneficiar os candidatos do próprio estado. Quando eles tiram isso, querendo ou não, nos igualam com os candidatos das demais regiões”, comenta a estudante.

Para Victor, a visão atual, histórica e geográfica do Pará contribui para a atuação adequada do exercício da atividade policial, porém, a mudança no edital não deve ser motivo de grande preocupação aos participantes do certame.

A alteração em editais é comum, devendo o concurseiro evitar preocupações que atrasem a sua preparação. Realinhando os estudos e mantendo o foco, o sucesso virá”, garante o profissional.

Policiais na COP-30

O Pará está a dois anos da COP-30, o maior evento sobre o clima do mundo. Por esse motivo, o Estado deveria fazer a região ser conhecida previamente por quem deseja aqui trabalhar, conta Pinom.

“A ausência da disciplina mostra também a falta de sensibilidade dos órgãos competentes sobre a Amazônia que precisa ser conhecida por quem é daqui e quem vem de fora servir o Estado. Além disso, o Governo nos deixa em evidência a falta de sincronização dos editais com meio ambiente em um momento de preparação para a COP“, analisa o professor.

Ao anunciar o edital, a secretária da Seplad, Elieth de Fátima Braga, disse que o aumento do efetivo também faz parte dos preparativos para a COP-30 da capital paraense.

Estamos empenhados em fortalecer a segurança pública do Estado. A área de segurança é prioridade da gestão, e o Pará continua ampliando seu quadro, ainda mais com a chegada de grandes eventos, como a COP. Aumentando o nosso efetivo, vamos garantir a segurança e tranquilidade dos paraenses“, ressaltou a secretária.

A reportagem da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA solicitou esclarecimentos à Seplad, mas até a publicação desta matéria, não teve resposta.

Leia mais: Polícia Militar do Pará abre concurso público com 4 mil vagas; saiba como se inscrever
Editado por Jefferson Ramos
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