Cores dos povos tradicionais ocupam Brasília para o início da 18ª edição do Acampamento Terra Livre
A chegada de representantes indígenas de todo o País coloriu o Complexo Cultural da Funarte, em Brasília, durante todo o dia, nesta segunda-feira, 4 (Yusseff Abrahim/Cenarium)
Yusseff Abrahim – Da Revista Cenarium
BRASÍLIA – A chegada de representantes indígenas de todo País coloriu o Complexo Cultural da Funarte, em Brasília, durante todo o dia, nesta segunda-feira, 4. A expectativa é que o Acampamento Terra Livre (ATL) reúna entre 7 e 8 mil indígenas, de acordo com a coordenadora nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara.
“É muito importante essa presença indígena em Brasília, a gente marca posição e quando olham para a gente não tem jeito, né? A nossa presença faz muita diferença. É por isso que a cada ano a gente está trabalhando aqui para que o acampamento cresça cada vez mais”, disse a líder indígena.
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Ao longo dos 18 anos do evento, Sonia lembrou que a união e mobilização dos povos originários, em Brasília, já foi responsável por vitórias em disputas importantes.
“São vários momentos em que a gente veio aqui e conseguiu impedir violências, a exemplo da PEC 215, que ganhou uma repercussão mundial, num momento que parecia que não tinha mais jeito, nós chegamos aqui com a presença indígena, com rituais, com a espiritualidade e a gente conseguiu impedir a aprovação”, comenta Sonia, a respeito da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, que delegava ao Congresso Nacional a exclusividade para a demarcação de territórios indígenas e quilombolas.
Após dois dias e meio de viagem de ônibus, desde São Félix do Xingu, no Pará, Kubekakre Kayapó chegou em Brasília preocupado com as lutas em curso. Ele integra o coletivo ‘Beture’, de jovens cineastas das etnias Mebêngôkre e Kayapó.
“Fizemos uma viagem cansativa, eu e outros 94 Kayapó, mas estamos aqui contra o PL 191 e também contra o Marco Temporal para não acabar com a nossa terra e a nossa cultura”.
Kubekakre se referiu ao Projeto de Lei (PL) 191/2020, que permite a mineração e o garimpo em Terras Indígenas, cujo julgamento acontecerá nesta quarta-feira, 6, no período da mobilização. Já a tese do Marco Temporal, que estabelece que as populações indígenas só podem reivindicar terras que ocupavam na data da promulgação da Constituição de 1988, segue no STF com a retomada do caso marcada para 23 de junho.
“Viemos trazer as nossas demandas, queremos novidade para o nosso povo, que é a demarcação do nosso território, a luta pela vida, pela nossa sobrevivência, pela nossa cultura e falar para o povo que nós estamos vivos. Nós não morremos, nós estamos vivos”, reitera Ubiranan Pataxó, que também chegou, hoje, vindo do sul da Bahia.
Depois de dois anos sem acampamento, por conta da pandemia, Ubiranan pontuou a importância do reencontro com outras etnias e lideranças para as disputas políticas.
“Não é momento de ficar parado. É momento de guerrear. Quando toca na nossa floresta, na nossa tribo, na nossa lei e o que nos atinge, nós temos que tomar posse e guerrear”, afirma Pataxó.
Resistência é avanço
O agravamento da influência do interesse econômico na condução da política, em todas as esferas do poder, foi objeto de crítica por parte da coordenadora do Movimento dos Estudantes Indígenas do Estado do Amazonas, Vanda Witoto.
“O nosso movimento indígena, no Brasil, está em posição de defesa para dizer não a todos estes processos de violência contra os nossos territórios, contra a floresta, contra a nossa vida. Quando o Estado ataca este território, ele ataca a vida dessas populações e a biodiversidade que existe aqui neste planeta”.
Apesar das pautas do movimento indígena serem as mesmas há décadas, Vanda identifica a residência organizada como um avanço.
“Perceber a resistência do nosso povo, por esses cinco séculos, contra toda essa destruição e retirada de direitos é um grande avanço. E esse ATL tem como tema ‘aldear a política’. É algo muito importante para a gente, porque nós ficamos fora das tomadas de decisão e é por isso que essas políticas não avançam. Por isso que estaremos aqui discutindo a importância das candidaturas indígenas para o pleito de 2022”, avalia.
O Acampamento Pela Terra segue até o dia 14 de abril. Confira a programação desta terça-feira, 5:
10h | Plenária: #EmergênciaIndígena – Ameaças aos territórios
11h | Plenária: #AlertaCongresso – Impactos do legislativo e lançamento da Carta Aberta contra o PL 191/2020 – Frente Parlamentar
14h às 18h | Plenária: #EmergênciaIndígena Nossa Luta pela Vida: Impactos no executivo, demarcação e políticas públicas
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